A terceira via não existe. É puro desejo, é uma invenção das classes dominantes e sua mídia. É o nome de fantasia da opção anti-Lula que as oligarquias tentam desesperadamente fabricar.
Além de Bolsonaro, os donos do poder testam a viabilidade eleitoral de nada menos que outras 8 alternativas de “laboratório”: Ciro, Dória, Mandetta, Moro, Datena, Pacheco, Simone Tebet e Alessandro Vieira.
A última pesquisa Ipec [23/9] mostra, contudo, que o experimento não está dando certo. Nos dois cenários avaliados, os resultados se repetem:
– Lula vence no 1º turno: num cenário, por 56% a 44%; noutro, por 53% a 47%; e
– Bolsonaro é o candidato mais competitivo do establishment. Em ambos cenários, as intenções de voto nele superam as intenções somadas de todas demais candidaturas neoliberais: 23% a 14% e 22% a 18% [tabela]:
Na vida real, quando se analisa como votam as bancadas dos 8 candidatos de proveta testados, todas elas – bancadas do PSDB, DEM, MDB, Patriota e Cidadania [com exceção da do PDT] – aprovam as propostas bolsonaristas de devastação do país e destruição dos direitos sociais no Congresso.
É a agenda, como se sabe, que unifica os interesses fundamentais do conjunto das oligarquias e suas frações. E que é respaldada pelo judiciário, empresariado, financistas e mídia.
A chamada 3ª via não significa, na realidade, uma 3ª opção em relação a 2 opções estabelecidas, mas sim uma terminologia oportunista para simular uma realidade inexistente.
Do ponto de vista programático, tanto Bolsonaro como Moro, Mandetta, Doria, Pacheco, Datena, Tebet, Alessandro Vieira pertencem à mesma raiz ideológica; são defensores engajados do ultraliberalismo e do selvagem processo de saqueio e pilhagem que está em curso no país.
Desde o fim da ditadura aconteceram 8 eleições presidenciais no Brasil. Nelas, dois campos disputaram o governo: neoliberais versus anti-neoliberais; direita versus esquerda; petistas versus antipetistas.
Em todas estas 8 eleições, o PT se credenciou como a principal força do campo popular e progressista na disputa com as forças políticas e partidos conservadores do bloco dominante.
E, com exceção de 1989 e de 2018, quando Collor e Bolsonaro encabeçaram a polarização com o PT, nas demais eleições o PSDB foi o partido que liderou a rivalidade antipetista.
Na eleição de 2022 esta polarização se repetirá. A grande incógnita é saber quem será o principal opositor do Lula num pleito que tem enormes chances de ser decidido já no 1º turno.
Neste cenário de inviabilidade de alternativas menos bárbaras – ou menos incivilizadas e mais “cheirosas” –, Bolsonaro ainda é uma opção eleitoral seriamente encartada no cardápio do PIB. O conchavo por cima continua frenético e o impeachment perdeu força.
A despeito da desgraça e da barbárie que o governo militar presidido por Bolsonaro causa ao país, as classes dominantes fazem ordem unida a qualquer opção anti-Lula, mesmo que esta opção seja a aberração fascista que catalisa a repulsa mundial.
É pavoroso, mas terrivelmente real, a possibilidade das oligarquias continuarem enganchadas no que há de mais abominável na história da humanidade.
Isso dá a real dimensão da índole das classes dominantes, que nutrem impressionante desapreço pela democracia e não se comovem com o sofrimento, com a dor humana e com a barbárie. Por Jeferson Miola.