Em vez de receber o filho de volta, como estava programado, Karine precisou voltar ao Brasil no início de outubro para participar de uma audiência na Segunda Vara de Carpina. (Foto: Arquivo pessoal.)
Uma professora e cuidadora de idosos pernambucana que mora na Inglaterra está vivendo um drama desde 9 de outubro, quando viu seu filho de sete anos pela última vez. A criança foi trazida pelo pai para passar as férias escolares em Carpina, na Zona da Mata, no mês de julho, e não voltou mais. O ex-marido de Karine Moraes, 35, pediu divórcio e conseguiu a guarda provisória do filho e uma decisão judicial também impede que a criança viaje. Desesperada, e com pouco contato com o menino, Karine luta na Justiça para conseguir levar o menino de volta ao seu convívio no Reino Unido.
Segundo a professora, pai e filho vieram ao Brasil com autorização dela através de documento assinado por ambos os genitores, confirmando a volta da criança a Londres no dia 2 de setembro. No fim de agosto, a mãe percebeu que havia algo estranho, pois não conseguia contato com o ex-marido nem recebeu informações sobre o voo de volta.
“Eu falo com meu filho uma vez por semana, no máximo. Na maioria das vezes quando ligo, não me atendem. Meu filho me pergunta quando vai me ver e pede para voltar. Meu ex-marido cortou qualquer acesso. O que está acontecendo é alienação parental. Meu sentimento é de angústia e aflição. Nenhuma mãe deveria passar por isso”, lamenta Karine, que vive há cerca de dois anos na Inglaterra, onde divide um apartamento com o irmão e trabalha como cuidadora de idosos.
Em vez de receber o filho de volta, como estava programado, Karine precisou voltar ao Brasil no início de outubro para participar de uma audiência na Segunda Vara de Carpina. O juiz decidiu conceder a guarda ao pai. Para a surpresa dela, tanto a família do ex-marido como a mãe e a irmã dela depuseram a favor do ex-marido, alegando que ela tinha problemas mentais. Apenas uma amiga e um irmão deram depoimentos a favor.
Karine conta que passou três semanas no Brasil. Durante esse tempo, foi impedida de ficar a sós com o menino e permaneceu apenas cinco dias ao lado dele. Pouco tempo depois, precisou voltar ao exterior por causa do trabalho. Ela estava casada há sete anos com o também professor Roberto Carlos Jones Gonçalves, 43, pai do menino, mas o casal optou pela separação desde 2017, quando Karine revelou que era homossexual.
A princípio, o acordo entre os dois era não oficializar o divórcio para que o marido não perdesse o visto de moradia no exterior, já que apenas Karine tem dupla nacionalidade. Assim, ele poderia continuar a morar e trabalhar naquele país ao lado da criança. Com o tempo, segundo Karine, a relação se complicou. Mesmo assim, o filho viajou apens com o pai para visitar os avós em Pernambuco e voltou depois das férias, cumprindo o acordo.
“Ele era muito controlador. Depois de uma briga, trancou a porta e bateu nela. Ele é muito religioso, vem de uma família evangélica, sempre levava meu sobrinho para a igreja e chegava a falar algumas frases homofóbicas contra nós. Apresentou um laudo médico de 2016, quando Karine passou por um período de depressão, afirmando que ela era mentalmente instável. Incluiu uma mensagem assinada pela diretora da Escola Internacional de Carpina, nossa mãe, alegando que a criança estava matriculada e adaptada. Com essas documentações foi possível dar entrada no processo de divórcio e pedido de guarda”, detalha o irmão de Karen, que vive com ela na Inglaterra, David Moraes.
Tio da criança enxerga postura homofóbica em família
O tio do menino usou as redes sociais para publicar fotos e vídeos sobre o caso. Diante da repercussão, a Escola Internacional de Carpina divulgou uma nota. O documento é assinado pela diretora executiva, Heather Karen Jones Moraes, avó da criança. No comunicado, apesar de afirmar que “não teve qualquer envolvimento”, a escoola diz que a guarda foi concedida para o pai “para resguardar o bem estar do menor”.
“O pai se antecipou, ingressou com o divórcio no Brasil, pedindo a guarda da criança. Ele juntou documentos vagos, inócuos, que convenceram o juiz a conceder a guarda unilateral. Apresentamos um laudo assinado por especialista atestando que Karine goza de todas as suas faculdades mentais. Trata-se de uma decisão liminar e entramos com recurso. Há chances de recuperar, até porque a guarda natural é da mãe”, comenta o advogado Mário Barbosa. Para o irmão dela, o caso se trata de uma retaliação por os dois serem homossexuais. “Meu cunhado disse que iria trazer meu sobrinho de volta e não trouxe. De acordo com a Convenção de Haia, isso éum sequestro internacional. É um crime. Ele alegou que minha irmã tem problemas metais, mas é mentira. Ela é lésbica e a família toda é contra. Nossa própria família se posicionou contra Karine”, diz.
O advogado do ex-marido de Karine, Robério Costa, afirmou que a guarda foi solicitada por segurança da criança. “Não estamos querendo tirar o filho de uma mãe. Queremos que ela se trate, procure um psiquiatra. Não é possível expor uma criança de sete anos a pessoa emocionalmente instável, com um índice de embriaguez elevado e que até já tentou se matar”, argumentou.
Contando apenas com a ajuda do irmão, e sem poder voltar ao Brasil por conta do trabalho, Karine aguarda nova decisão judicial sobre o destino do filho lutando contra a saudade. “Esses últimos meses têm sido muito difíceis. Tento me manter firme. Eu tenho com meu f ilho algo que nunca tive com meus pais. Nós dois construímos uma relação honesta. Nãoescondo nada. Ele estava contando os dias para voltar para casa, enquanto meu ex-marido mentia para o filho dizendo que iria voltar. Quanto à minha sexualidade, já ouvi meu filho dizer que eu ‘faço coisas ruins que Deus não gosta’. Nossa família nunca nos aceitou”, diz.
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