Foto: Paulo Paiva/DP
O Recife começou o ano com o título da melhor cidade para se fazer negócios do Nordeste. O posto é resultado da pesquisa Melhores Cidades para Fazer Negócios, da consultoria Urban Systems, em parceria com a revista Exame. O estudo aponta o Índice de Qualidade Mercadológica (IQM) de 100 cidades brasileiras com população acima de 100 mil habitantes, analisando quatro eixos principais: o desenvolvimento econômico (maturidade e crescimento da cidade), capital humano (qualificação profissional e formação de mão de obra), desenvolvimento social (reflexo social do desenvolvimento da cidade) e infraestrutura (o básico para o desenvolvimento de negócios).
“Há dez anos, as empresas faziam uma guerra fiscal, buscando incentivos para se instalar. Hoje isso não é mais suficiente. As cidades do Nordeste não estão tão bem no ranking como poderiam estar, principalmente pelos atrasos em infraestrutura”, afirma William Rigon, sócio da Urban Systems e coordenador do estudo. Em 2019, o Recife ficou em 27º lugar no IQM, mais distante das primeiras colocadas do que em 2018, quando ocupou o 21º lugar do ranking. Porém, no ano passado, a capital de Pernambuco avançou em capital humano, saindo do 19º lugar em 2018, para o 15º em 2019, e em e infraestrutura, passando do 13º para o 8º lugar nacional.
A evolução neste indicador está diretamente ligada à disponibilidade de banda larga de alta velocidade, um insumo fundamental para a cidade que nasceu do Porto do Recife e, no seu entorno, mantém, há cerca de 20 anos, o Porto Digital. “Em termos de negócios, hoje, a conectividade é mais importante do que aeroportos. Usamos as telecomunicações em tudo e ela abre espaço para serviços”, observa Rigon.
Para o secretário de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação do Recife, Guila Calheiros, os resultados das pesquisas que elevam o potencial do Recife no mundo dos negócios, ajudam a divulgar o perfil tecnológico da capital em todo o país e a atrair investidores. Mas também mapeiam os investimentos necessários para melhorar os atrativos para a cidade. Foi assim quando, há dois anos, o seu antecessor e atual secretário de Desenvolvimento Econômico de Pernambuco, Bruno Schwambach, iniciou as negociações para implantação de um cabo submarino que, até o final de 2021, trará uma velocidade de transmissão de 12 Tbps (terabits por segundo) para o Recife. “Cada vez mais a economia vai estar baseada no digital e ter uma infraestrutura de banda larga com velocidade constante, é fundamental”, comenta Calheiros.
Ainda em infraestrutura, o coordenador da pesquisa destaca a disponibilidade de transporte do Recife que conta com 195 linhas rodoviárias interestaduais e 42 destinos nacionais e internacionais a partir do Aeroporto Internacional Guararapes/Gilberto Freyre.
Mas nem tudo são flores. O Recife não vai bem em saneamento, um dos pontos avaliados no indicador infraestrutura. O índice de perdas na distribuição de água é de 61,1%, acima da média nacional de 38,3%, embora supere o índice de atendimento urbano de água com um percentual de 85,9%, contra 83,5% do Brasil. Já no indicador de Desenvolvimento Social, o Recife aparece com 42,60% em coleta de esgoto, quase dez pontos percentuais abaixo da média brasileira de 52,4%, apesar de apresentar um índice de 74% em tratamento de esgoto, enquanto o país fica em 46,0%.
Infraestrutura foi diferencial para atrair Accenture
A americana Accenture, um dos players mundiais de tecnologia, escolheu o Recife como sede do seu Centro de Inovação da América Latina, inaugurado no Porto Digital, em 2017. A decisão veio após uma ampla pesquisa de mercado entre cidades brasileiras para descobrir qual delas atenderias aos pilares da multinacional como disponibilidade de infraestrutura e diversidade intelectual e cultural.
A empresa também pensava em como manter os clientes com o centro fora do eixo Rio-São Paulo e, segundo a diretora executiva da Accenture Technology, Flávia Picolo, o polo de tecnologia pesou na escolha pelo Recife. “Impactou muito os talentos e a diversidade que a cidade oferece. Colocamos o Recife no mapa do mundo e ele respondeu super bem a isso. Os resultados falam do sucesso que nem imaginávamos que teríamos aqui”, revela a diretora, que se divide entre duas casas: uma no Recife outra em São Paulo, onde fica o escritório de negócios da Accenture.
No começo, segundo ela, eram apenas 30 pessoas no embrião do Centro de Inovação que hoje ocupa sete prédios na capital pernambucana e emprega mais de 2.500 pessoas – cerca de 95% são profissionais locais e mais de 500 foram contratadas no ano passado, a fim de atender o crescimento da empresa. “Vim para o Recife em 2014, com o desafio de acelerar a operação e, assim, precisamos contratar 5% do quadro de fora do estado e do país. Hoje nossos funcionários têm autosufiência, absorveram a cultura da empresa e já podem formar os novos”, afirma Flávia Pícolo.
Mesmo sendo do interior paulista, ela se surpreendeu com o acolhimento dos recifenses e até já se tornou cidadã do Recife, um reconhecimento da Câmara Municipal, e acaba de receber outro, para se tornar cidadã pernambucana. “A cidade me acolheu de uma forma genuína e simples e consegui fazer conexões com universidades, fóruns executivos, trocar experiências e hoje temos uma história consolidada no Recife”, declara.
Para quem estiver pensando em vir, ela enumera os pontos fortes: parcerias com universidades, suporte do Porto Digital para formação de pessoas, do MIT (Massachusetts Institute of Technology). “Existe uma veia de inovação superimportante no Recife. Cada vez mais temos certeza que somos o maior centro de inovação ‘em linha reta’, como dizem os recifenses”, declara, incorporando uma brincadeira dos orgulhosos moradores da cidade.
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