Procedimento para retirada 'objeto estranho animado' deve ser feito com atendimento especializado, mas há formas de diminuir desconforto até lá
O médico André Defaveri retirou a
barata do ouvido de Aline - Foto: Aline Lopes/Arquivo pessoal
O caso é de deixar qualquer um, no mínimo, curioso, com agonia ou criando coceiras psicológicas só de pensar. Uma mulher passou mais de 24 horas com uma barata viva dentro do ouvido, em Cabo Frio, no Rio de Janeiro. Aline Lopes estava dormindo na casa da sogra, no bairro Jardim Esperança, quando acordou desesperada na madrugada do último domingo (5), com o incômodo, conforme contou ao G1.
A bichana só foi retirada do ouvido de Aline depois de ela passar um dia inteiro por vários hospitais até conseguir atendimento especializado. Inicialmente, ela foi à unidade de saúde mais próxima, que não tinha especialista de plantão e nem o material adequado para realizar o procedimento. Os profissionais a orientaram a buscar atendimento em Macaé ou em São Pedro da Aldeia.
Nesse último, os enfermeiros tentaram tirar a barata com um sugador, mas não conseguiram por falta de equipamentos. Com o tímpano machucado, Aline relatou que sentia dor e, por isso, foi sedada pela equipe médica, que tentou transferi-la para um hospital no Rio, mas sem sucesso, por falta de vaga. O alívio só veio na segunda-feira (6), quando um médico particular ficou sabendo da história e entrou em contato com Aline para fazer o procedimento de forma gratuita.
Além de Aline, nenhum caso havia sido registrado em Cabo Frio desde 2020, quando foi registrado apenas um episódio de retirada de corpo estranho animado (vivo) ou não de ouvido, faringe, laringe e nariz. Os dados são do Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS), do Ministério da Saúde.
A recomendação de especialistas é procurar atendimento especializado com urgência. De imediato, a pessoa pode pingar algumas gotinhas de óleo ou água para tentar imobilizar o inseto, inclinar a cabeça e ver se ele vai cair pela gravidade, conforme orienta o otorrinolaringologista Felippe Félix.
— A primeira coisa que tem de fazer é evitar ficar brigando com o inseto dentro do ouvido. Evitar cotonete ou outros equipamentos para espetar e machucar o inseto, se não ele vai acabar reagindo e causando mais incômodo. Tentar tirar com outros objetos também pode ferir o tímpano e complicar ainda mais a situação — aconselha o chefe do Serviço de Otorrinolaringologista do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho.
Segundo o médico, os insetos mais encontrados nesses casos são baratas pequenas, mosquitos, em sua maioria pernilongos, formigas com menos frequência, porque entram e saem espontaneamente, e outros insetos pequenos. Ele alerta para uma situação ainda mais grave que pode acontecer se o inseto deixar larvas dentro da cavidade onde se instalou, processo conhecido como miíade.
— O quadro é ainda mais avançado e demanda atendimento específico para evitar que o bicho cresça lá dentro. O tratamento é feito à base de medicamentos e inclui uma limpeza em ambiente hospitalar com anestesia. Se tiver perfuração no tímpano, uma membrana sensível, o procedimento é ainda mais profundo para averiguar se há larva no ouvido médio – explica.
No Rio, até os quatro primeiros meses deste ano, foram registrados 191 casos de retirada de corpo estranho (animados ou não) de ouvido, faringe, laringe ou nariz.