Tatiana Paranhos, namorada de Diego Lima Carvalho - morto pelo pai no Cordeiro - falou à Folha de Pernambuco sobre detalhes do crime; ela e Diego estavam na casa em frente à da família quando a briga começou
Por: Gabriela Castello Buarque e Maiara Melo
Tatiana Paranhos, de 20 anos, é namorada de Diego e testemunha do crimeFoto: Rafael Furtado / Folha de Pernambuco
Uma tragédia anunciada. Conhecido pelo comportamento extremamente agressivo e afastado das atividades pelo Núcleo de Apoio ao Dependente Químico da Polícia Militar para tratar do alcoolismo, o sargento Moisés de Lima Carvalho, 49 anos, iniciou mais um episódio de violência familiar porque acordou na manhã do domingo e não encontrou a mulher em casa. Em entrevista exclusiva à Folha de Pernambuco a namorada da vítima, Tatiana Paranhos, 20, que testemunhou toda a confusão, descreveu os momentos que antecederam o crime e contou sobre a tumultuada relação do sargento com a esposa e os filhos.
Na briga, o sargento atirou nos dois filhos. O caçula, Diego Lima Carvalho, 24 anos, não resistiu ao ferimento e morreu no Hospital da Restauração. O outro filho, Moisés de Lima de Carvalho Filho, de 27 anos, foi atingido no braço e deve passar por uma segunda cirurgia para reconstruir o osso do braço dilacerado pela bala, no Hospital Getúlio Vargas.
O crime ocorreu no bairro do Cordeiro, Zona Oeste do Recife. Tatiana e Diego haviam dormido em uma casa também pertencente à família, que fica logo em frente. Tatiana chegou a se aproximar da casa durante a discussão, mas o namorado pediu que ela recuasse e ficasse calma. Segundo Tatiana, Teresa Carvalho, mãe de Diego e de Moisés, tinha ido à casa de uma vizinha quando o marido acordou. "Quando ela voltou, ele começou a xingá-la, coisa que ele sempre fazia", disse Tatiana. Tatiana afirma que, na maioria das vezes, as brigas começavam por causa do comportamento machista de Moisés. “Ela era proibida de sair de casa, de ter uma vida social. Ele não aceitava.” A jovem explica, ainda, que Teresa sempre teve medo de se separar do marido ou de denunciá-lo porque vivia sob constantes ameaças. “Ele a ameaçava de morte, ameaçava a família e se matar. De uns tempos pra cá vinha ameaçando muito os filhos, principalmente Diego porque era quem estava ali, presente. Dizia que ia matá-lo, que ia dar um tiro, que ia colocar fogo na casa com todo mundo dentro, ele sempre ameaçava. Por isso ela ainda estava com ele. Ele ameaçava a mim e à minha família também”, relata.
Tiros
"Os filhos nunca aceitaram e, no domingo, estavam decididos de que o pai sairia de lá (da casa)”, contou Tatiana. Diego acordou (na casa vizinha) com a discussão e foi em casa. Junto com o irmão, intervieram na briga. “Eu não estava dentro da casa. Eu estava próximo e Diego veio falar para eu ficar calma, que ele estava ligando para parentes e que ia resolver.” Segundo Tatiana, pouco tempo depois, quando tudo estava aparentemente calmo, houve os disparos. “Toda a vizinhança escutou os disparos. A primeira coisa que veio à cabeça foi de que ele tinha atirado na mulher, que era o que ele sempre ameaçava”, relatou.
Mas Teresa saiu correndo para a rua pedindo socorro. “Ela estava desesperada. Eu pensava que tinha sido com o Moisés Filho, que era quem estava batendo mais de frente com o pai.” Foi quando ela viu o PM saindo da casa ajudando a carregar Diego, baleado na barriga. Moisés Filho estava com o braço ferido. Tatiana contou que uma vizinha colocou Diego no carro. "Nesse momento meus pais chegaram e nós conseguimos levar ele muito rápido para [o Hospital da] Restauração e Moisés, um outro vizinho levou para o Getúlio Vargas”, disse. “Ele (o policial) tinha bebido muito no sábado. No domingo, ainda não estava bêbado. Isso tudo aconteceu por volta das 9h.”
Prestativo e trabalhador
Tatiana diz que Diego era uma pessoa muito prestativa, muito trabalhadora, que logo quando acabou a escola, com 18 anos, começou a trabalhar pra ajudar a família. Sobre o comportamento do Sargento, ela conta que desde quando começou a namorar com o rapaz, há quase três anos, muitas vezes presenciou o comportamento do pai dele. “Ele me dizia que a adolescência dele foi sem falar com o pai, por conta das agressões contra a mãe, e os próprios filhos também”. Tatiana afirma ainda que o pai do namorado era muito violento, verbalmente, e que já chegou a agredir a esposa e os filhos fisicamente também. “Ele agredia por nada, porque ele queria. Ele era um alcoólatra, e um policial. Então, juntava os dois e ele se achava o dono do mundo porque tinha um revolver em mãos”.
“Para mim, Diego sempre foi tudo. Ele sempre me ajudou, sempre estava comigo nas horas em que eu também precisei, eu sempre estava com ele nas horas que aconteciam as brigas lá na casa dele e infelizmente ontem a briga que teve foi justamente pra ele defender a mãe de novo”. De acordo com Tatiana, em momento algum houve qualquer atitude agressiva da parte de Diego contra o pai. No entanto, que seu irmão, que “tinha a cabeça mais esquentada” foi mais agressivo, mas não fisicamente, e que “o pai dele fez de caso pensado”.
Outra família
Sobre o motivo da briga, ela afirma que não tinha a ver com o fato de ele ter outra família. “Eles não brigavam tanto por isso. Até porque em nenhum momento ele chegou pra mulher pra contar que tinha outra filha, ela que descobriu. As brigas aconteciam mais por ele ser um cara machista” conta Tatiana.
Cunhado
Casado com a irmã de Teresa, José Genivaldo Dias disse, no velório de Diego, que se Moisés for solto ele voltará para matar mais pessoas. “Um homem como esse não podia ter a farda. Ele bebia todos os dias, ficava andando com uma pochete presa ao corpo e arma dentro. Intimidava as pessoas. Esperamos que ele seja punido, queremos justiça. Ele avisou que quando fosse solto viria atrás de Teresa, se ela o abandonasse. Tememos pela vida dela e de qualquer pessoa que esteja perto, porque quem atirou nos próprios filhos pode atirar em qualquer um.”
Moisés Filho, a pedido dos médicos, ainda não foi avisado sobre a morte do irmão. Em audiência de custódia realizada no Fórum Desembargador Rodolfo Aureliano, o sargento Moisés teve o flagrante convertido em prisão preventiva e foi encaminhado ao Centro de Reeducação (Creed) da PM, em Abreu e Lima. Amparada pelos familiares, e enquanto os presentes gritavam por justiça no sepultamento do corpo de Diego, Teresa chamava pelo filho que não vai mais voltar.
Blog do BILL NOTICIAS
O crime ocorreu no bairro do Cordeiro, Zona Oeste do Recife. Tatiana e Diego haviam dormido em uma casa também pertencente à família, que fica logo em frente. Tatiana chegou a se aproximar da casa durante a discussão, mas o namorado pediu que ela recuasse e ficasse calma. Segundo Tatiana, Teresa Carvalho, mãe de Diego e de Moisés, tinha ido à casa de uma vizinha quando o marido acordou. "Quando ela voltou, ele começou a xingá-la, coisa que ele sempre fazia", disse Tatiana. Tatiana afirma que, na maioria das vezes, as brigas começavam por causa do comportamento machista de Moisés. “Ela era proibida de sair de casa, de ter uma vida social. Ele não aceitava.” A jovem explica, ainda, que Teresa sempre teve medo de se separar do marido ou de denunciá-lo porque vivia sob constantes ameaças. “Ele a ameaçava de morte, ameaçava a família e se matar. De uns tempos pra cá vinha ameaçando muito os filhos, principalmente Diego porque era quem estava ali, presente. Dizia que ia matá-lo, que ia dar um tiro, que ia colocar fogo na casa com todo mundo dentro, ele sempre ameaçava. Por isso ela ainda estava com ele. Ele ameaçava a mim e à minha família também”, relata.
Tiros
"Os filhos nunca aceitaram e, no domingo, estavam decididos de que o pai sairia de lá (da casa)”, contou Tatiana. Diego acordou (na casa vizinha) com a discussão e foi em casa. Junto com o irmão, intervieram na briga. “Eu não estava dentro da casa. Eu estava próximo e Diego veio falar para eu ficar calma, que ele estava ligando para parentes e que ia resolver.” Segundo Tatiana, pouco tempo depois, quando tudo estava aparentemente calmo, houve os disparos. “Toda a vizinhança escutou os disparos. A primeira coisa que veio à cabeça foi de que ele tinha atirado na mulher, que era o que ele sempre ameaçava”, relatou.
Mas Teresa saiu correndo para a rua pedindo socorro. “Ela estava desesperada. Eu pensava que tinha sido com o Moisés Filho, que era quem estava batendo mais de frente com o pai.” Foi quando ela viu o PM saindo da casa ajudando a carregar Diego, baleado na barriga. Moisés Filho estava com o braço ferido. Tatiana contou que uma vizinha colocou Diego no carro. "Nesse momento meus pais chegaram e nós conseguimos levar ele muito rápido para [o Hospital da] Restauração e Moisés, um outro vizinho levou para o Getúlio Vargas”, disse. “Ele (o policial) tinha bebido muito no sábado. No domingo, ainda não estava bêbado. Isso tudo aconteceu por volta das 9h.”
Prestativo e trabalhador
Tatiana diz que Diego era uma pessoa muito prestativa, muito trabalhadora, que logo quando acabou a escola, com 18 anos, começou a trabalhar pra ajudar a família. Sobre o comportamento do Sargento, ela conta que desde quando começou a namorar com o rapaz, há quase três anos, muitas vezes presenciou o comportamento do pai dele. “Ele me dizia que a adolescência dele foi sem falar com o pai, por conta das agressões contra a mãe, e os próprios filhos também”. Tatiana afirma ainda que o pai do namorado era muito violento, verbalmente, e que já chegou a agredir a esposa e os filhos fisicamente também. “Ele agredia por nada, porque ele queria. Ele era um alcoólatra, e um policial. Então, juntava os dois e ele se achava o dono do mundo porque tinha um revolver em mãos”.
“Para mim, Diego sempre foi tudo. Ele sempre me ajudou, sempre estava comigo nas horas em que eu também precisei, eu sempre estava com ele nas horas que aconteciam as brigas lá na casa dele e infelizmente ontem a briga que teve foi justamente pra ele defender a mãe de novo”. De acordo com Tatiana, em momento algum houve qualquer atitude agressiva da parte de Diego contra o pai. No entanto, que seu irmão, que “tinha a cabeça mais esquentada” foi mais agressivo, mas não fisicamente, e que “o pai dele fez de caso pensado”.
Outra família
Sobre o motivo da briga, ela afirma que não tinha a ver com o fato de ele ter outra família. “Eles não brigavam tanto por isso. Até porque em nenhum momento ele chegou pra mulher pra contar que tinha outra filha, ela que descobriu. As brigas aconteciam mais por ele ser um cara machista” conta Tatiana.
Cunhado
Casado com a irmã de Teresa, José Genivaldo Dias disse, no velório de Diego, que se Moisés for solto ele voltará para matar mais pessoas. “Um homem como esse não podia ter a farda. Ele bebia todos os dias, ficava andando com uma pochete presa ao corpo e arma dentro. Intimidava as pessoas. Esperamos que ele seja punido, queremos justiça. Ele avisou que quando fosse solto viria atrás de Teresa, se ela o abandonasse. Tememos pela vida dela e de qualquer pessoa que esteja perto, porque quem atirou nos próprios filhos pode atirar em qualquer um.”
Moisés Filho, a pedido dos médicos, ainda não foi avisado sobre a morte do irmão. Em audiência de custódia realizada no Fórum Desembargador Rodolfo Aureliano, o sargento Moisés teve o flagrante convertido em prisão preventiva e foi encaminhado ao Centro de Reeducação (Creed) da PM, em Abreu e Lima. Amparada pelos familiares, e enquanto os presentes gritavam por justiça no sepultamento do corpo de Diego, Teresa chamava pelo filho que não vai mais voltar.