segunda-feira, 15 de abril de 2013

Programas de convivência com a seca não saem do papel


ESTIAGEM


Ações do governo chegam atrasadas e são insuficientes para combater o flagelo

Publicado em 15/04/2013, às 06h00

Adriana Guarda

 / Alexandre Gondim/JC Imagem

Alexandre Gondim/JC Imagem

ARCOVERDE - Nos anos em que estouram grandes estiagens reaparecem os discursos bradando a necessidade de ter uma política de convivência com a seca no Nordeste. Governos lançam ações de emergência, políticos “mostram solidariedade” e a população pede socorro. Depois a chuva chega, todos se calam e os grandes projetos empoeiram nas gavetas. Desde 2011, o semiárido nordestino se depara com a maior seca dos últimos 40 anos (há quem fale dos últimos 50, 60 anos). As previsões meteorológicas e as chuvas muito abaixo da média histórica sinalizavam para uma estiagem severa e prolongada. As ações chegaram atrasadas e se mostram insuficientes para conter a calamidade instaurada.
Em Pernambuco, 132 dos 185 municípios decretaram estado de emergência e 122 tiveram a situação reconhecida pelo governo federal. Onze cidades do Agreste e Sertão estão em colapso no abastecimento, sem uma gota d'água nas torneiras e dependendo exclusivamente dos carros-pipa, que não dão conta da demanda. Em maio de 2012 (quando a seca já avançava há um ano) foi criado o Comitê Integrado de Enfrentamento à Estiagem, reunindo os governos federal e estadual.
Responsável pela coordenação das ações, o Ministério da Integração Nacional (MI) afirma que já foram destinados R$ 7,2 bilhões em obras contra a estiagem. No último dia 2, em Fortaleza, diante dos governadores nordestinos, a presidente Dilma Rousseff, anunciou outros R$ 9 bilhões. Os recursos são para ações emergenciais e obras de segurança hídrica. O governo federal se gaba de protagonizar a maior operação de carros-pipa realizada no Nordeste. Mas na ponta, quem espera pela água, desconhece a grandiosidade.
“Vi na televisão que Dilma mandou dinheiro para ajudar na seca, mas parece que ele passa em muitas mãos antes de aparecer por aqui”, diz a pecuarista Maria Tito Luz, moradora do Sítio Boa Sorte, em Bom Conselho (Agreste). “Por aqui nunca chegaram os pipas do Exército, do Estado, nem da Prefeitura. Reclamamos e o município disse que vai nos incluir”, afirma, destacando que paga R$ 120 por semana em um pipeiro para matar a sede dos 20 bovinos da propriedade.

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Distribuição gratuita de cana não é suficiente para atender aos produtores. Entrega em Bom Conselho
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Hoje, a zona rural dos municípios do Agreste e Sertão é abastecida por 1.470 carros-pipa (838 do Exército 
e 632 do Estado). Dilma anunciou um acréscimo de 30%, que vai fazer o número subir para 1.721. O prefeito de Águas Bela (Agreste), Genivaldo Menezes (PT), diz que a cidade convive com o colapso no abastecimento. “A população não tem água sequer para cozinhar e vive de comer pão e bolacha. Temos 52 carros-pipa para abastecer a uma população de 41 mil habitantes. Isso é impossível”, desespera-se, lembrando que a água vem de Inajá, a uma distância de 100 quilômetros.
Na área urbana de Águas Belas o comércio de água se impôs. A população disputa o líquido com os vendedores carroceiros. A chegada de um carro-pipa se transforma em guerra de baldes. “Há dois meses não passava um pipa nessa rua (Leão Coroado, centro do município)”, reclama a aposentada Severina Xavier, de 77 anos, que enfrenta a fila para encher uma baixa de água de balde em balde. Sem pipeiro, o jeito é se submeter ao comércio e pagar R$ 30 uma pequena caixa de mil litros.
“Sabemos que o número de carros-pipa é insuficiente e que não vai chegar para todo mundo, mas essa não é a única ação. Estamos investindo R$ 60 milhões na perfuração de 3 mil poços na zona rural para atender às populações difusas”, adianta o secretario estadual de Agricultura, Ranilson Ramos. As perfurações de emergência começaram em outubro de 2012 e a previsão é concluir em agosto deste ano. A meta é audaciosa, sabendo que durante todo o governo Eduardo Campos (entre 2007 e 2012) foram perfurados 2.080 poços (uma média de 346 por ano).
O programa Água para Todos, lançado em 2011 pelo governo federal para acelerar a construção de cisternas anda devagar. Dos R$ 2,9 bilhões projetados até 2014, apenas 28% foram aplicados. Pernambuco deverá receber R$ 220 milhões da União, além de R$ 30 milhões de contrapartida do Estado para levar cisternas a 47 mil famílias. “O objetivo é universalizar o abastecimento por cisternas até 2014”, diz Ramos. Uma polêmica a mais é a rejeição dos equipamentos de polietileno que, segundo a população, deforma no sol e é de difícil manejo.
Lançado há 10 anos e com previsão de ser concluído em 2008, o Programa 1 Milhão de Cisternas não entregou sequer metade do prometido. O projeto, numa parceria entre a Articulação do Semiárido (ASA) e o governo federal, instalou cerca de 420 mil unidades. O secretário estadual de Recursos Hídricos, Almir Cirilo, diz que Pernambuco tem R$ 220 milhões garantidos no PAC Estiagem para aplicar num conjunto de 30 obras. “Mas vamos precisar de outros R$ 240 milhões para dar conta da necessidade”, calcula.
O presidente da Agência Pernambucana de Águas e Clima (Apac), Marcelo Asfora, se mostra preocupado com a redução dos níveis dos reservatórios do Estado e as previsões meteorológicas para os próximos meses. “Durante todo o ano de 2012 choveu apenas um quarto do esperado e nos três primeiros meses de 2013 a situação é semelhante, tendo chovido 30% do aguardado”, observa. O período chuvoso no Sertão se encerra este mês e no Agreste vai até agosto. Isso significa que pelo menos para o Sertão já é certa mais um ano de estiagem.
“A seca é reflexo de uma vontade política ausente, tanto quanto a chuva que não cai”, sentencia o padre Airton Freire, idealizador da Fundação Terra, que transformou a vida de populações excluídas em Arcoverde (Sertão). “Seca não é a carência de chuvas, mas a má administração das bacias hídricas e falta de investimento em obras de segurança hídrica”, continua. O padre conta a experiência que viu em Israel, onde o regime de chuvas é mais escasso que no semiárido nordestino. “Lá chove 100 milímetros e, mesmo assim, eles plantam até tâmaras”, conta. No Agreste pernambucano a média anual de chuvas é de 800 milímetros e no Sertão de 600 milímetros.

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