Trata-se da terceira queda consecutiva do indicador
Por Folhapress
Indústria - Foto: Pixabay
A produção industrial voltou a perder fôlego no país e recuou 1,3% em abril, na comparação com março. Trata-se da terceira queda consecutiva do indicador. O resultado foi divulgado nesta quarta-feira (2) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Com a retração, a produção das fábricas ficou 1% abaixo do nível pré-pandemia, registrado em fevereiro de 2020. A perda de ritmo reflete a combinação entre piora da crise sanitária e redução de estímulos econômicos, segundo o IBGE.
Em relação a abril de 2020, a produção cresceu 34,7%. A alta expressiva, entretanto, tem relação com a base fragilizada de comparação.
No quarto mês do ano passado, o indicador havia desabado ao menor ponto da série histórica, com os impactos iniciais da pandemia. O começo da crise sanitária chegou a paralisar operações em fábricas.
Analistas consultados pela agência Bloomberg projetavam variação negativa de 0,1% na produção industrial ante março, além de crescimento de 36,9% frente a abril de 2020.
Conforme os dados divulgados pelo IBGE, o indicador acumulou alta de 1,1% em 12 meses até abril de 2021. Foi o primeiro crescimento após 22 taxas negativas. No acumulado deste ano, o setor registra avanço de 10,5%.
Após ser prejudicada pelo começo da crise sanitária, a indústria engatou reação na sequência. Houve nove meses de alta a partir de maio do ano passado. Contudo, esse movimento perdeu fôlego com o passar do tempo.
Ao causar restrições a setores como o comércio, a piora da pandemia no primeiro trimestre dificultou o processo produtivo da indústria. As fábricas também foram afetadas por aumento de custos de insumos e redução de estímulos à economia, indicou André Macedo, gerente da pesquisa do IBGE.
O auxílio emergencial, por exemplo, só foi retomado em abril, com redução no valor pago e corte no número de beneficiários.
A queda da produção industrial no quarto mês do ano foi disseminada por 18 das 26 atividades investigadas. Segundo o IBGE, produtos alimentícios, coque, derivados do petróleo e biocombustíveis puxaram a baixa frente a março.
"A gente observa predomínio de taxas negativas para esse tipo de comparação. Isso reforça a questão do recrudescimento da pandemia e os efeitos no processo produtivo", pontuou Macedo.
Com o resultado de abril, a produção industrial está 17,6% abaixo do nível recorde, registrado em maio de 2011.
Os dados foram divulgados um dia após o IBGE confirmar que o PIB (Produto Interno Bruto) nacional subiu 1,2% no primeiro trimestre. Nesse indicador, que tem diferenças de análise, a indústria registrou contribuição positiva de 0,7%.
Na visão de André Perfeito, economista-chefe da corretora Necton Investimentos, os dados da produção industrial "apontam que a recuperação econômica ainda é incipiente de certa forma".
O setor industrial vem sendo beneficiado pelo ramo extrativo, que teve alta na demanda internacional por mercadorias como o minério de ferro. Conforme o IBGE, a produção desse ramo cresceu 1,6% em abril, frente a março.
Por outro lado, segmentos da indústria de transformação têm sofrido com falta de insumos, aumento de custos e desaquecimento do consumo das famílias, indicou na terça-feira (1º) o Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial).
A escassez de matéria-prima e a disparada de preços no mercado internacional estão atreladas a fatores como desarranjo de cadeias produtivas na pandemia e alta do dólar.
Na visão do Iedi, "riscos não negligenciáveis" ainda pairam sobre o desempenho futuro da economia brasileira.
Entre as ameaças citadas pelo instituto, estão o eventual efeito da variante indiana do coronavírus, o ritmo de vacinação aquém do esperado no Brasil e a crise hídrica, que pode impactar a inflação no país, retirando poder de compra da população.
Em abril, os resultados negativos da produção alcançaram duas das quatro grandes categorias da indústria: bens de consumo semi e não duráveis (-0,9%) e bens intermediários (-0,8%). Já os setores produtores de bens de capital (2,9%) e de bens de consumo duráveis (1,6%) tiveram números positivos.