A pandemia segue gerando quase dois mil mortos por dia, sem nenhum avanço nem em medidas de governo, nem em mobilizações de reação das pessoas. A vacinação se arrasta desesperadamente, sem horizonte para ter efeitos sobre a proteção da vida das pessoas.
A economia, apesar das bravatas do Paulo Guedes, passou da recessão à depressão. A crise social se alastra como nunca, com a grande maioria dos brasileiros sobrevivendo na precariedade.
A imagem do Brasil no mundo, depois de ter sido exemplo com Lula, passou a ser de vergonha e de risco mundial. Estamos no pior dos mundos possíveis. Sem governo, sem economia, sem políticas sociais, sem alianças internacionais.
Além disso, com o Bolsonaro, apesar da acelerada perda de apoio, consolidado como a alternativa da direita para 2022. Em poucas escaramuças – as eleições para a presidência da Câmara e do Senado, entre outras – ele escanteou os outros pífios pré-candidatos da direita, a ponto que os eleitores da direita já começam a preparar as justificativas para voltar a voltar nele.
No campo da oposição, há os supostos centristas – como Ciro, Huck – que ficarão sentados no banco de reservas, esperando que algum desdobramento totalmente improvável faça com que os grandes empresários, a mídia, os partidos de direita, os chamem como salvadores da pátria. Se fizeram isso com alguém mais imbecil como ele, por que não pode chegar a vez deles? Acontece que são incapazes de sair de índices inexpressivos nas pesquisas, como resultado da sua incapacidade de conquistar apoio significativo da população. Suas propostas de nem um, nem outro: eu, não convencem a ninguém. São cartas fora do baralho. Podem gozar até de efêmeras aparições na mídia, mas terminarão tendo que decidir em quem votar no segundo turno ou para onde ir.
No campo da esquerda propriamente dita, o mesmo clima ilusório de que, se não deixam o Lula ser candidato – pelo que vários deles torcem -, acham que poderiam protagonizar a batalha contra o Bolsonaro. Parece que se desvanece a ilusão do duo PDT-PSB ter o Ciro como candidato que poderia organizar uma aliança de centro. Ficam os pré-candidatos dos outros partidos, que as pesquisas colocam embolados. Nenhum com capacidade de ser hegemônico na esquerda. No máximo podem potencializar o desempenho dos seus partidos, mas nem isso é seguro, como se viu pelo desempenho do Boulos nas presidenciais de 2018. Predomina o raciocínio estreito de pensar antes no desempenho possível do seu partido, do que nos grandes dilemas do Brasil.
Se pensassem nestes, não poderiam ter dúvidas de que somente um nome forte nacionalmente, arraigado na cabeça de grande parte dos setores populares, com experiência e trabalho já realizado no seu governo, como o Lula, pode encarar um enfrentamento duro e decisivo como aquele de derrotar o Bolsonaro. Muitos já se rendem a esse raciocínio, se dando conta da dimensão do embate e do caráter indispensável de contar com quem é, de longe, o melhor nome da oposição.
As eleições presidenciais de 2022 serão decisivas para o futuro do país. Ou tem continuidade o governo atual e o país será destroçado, com o Estado desfeito, com a mercantilização correndo ainda mais solta, com as privatizações e os projetos neoliberais concretizados. Com a esquerda derrotada e desmoralizada por um bom tempo.
Ou a esquerda consegue derrotar o Bolsonaro, para o que tem as melhores condições. Ele tende a perder apoio irremediavelmente, pela incapacidade de retomar o crescimento econômico, já que a prolongada pandemia e a demora na vacinação já projetam para 2022 a extensão da recessão atual. Por não dispor, assim, de condições de manter o auxílio emergencial de alguma monta por algum tempo, sem capacidade de agir contra a gigantesca crise social que já vive o país. Com suas palavras sendo contrapostas a seu governo fracassado. Falta que, com o fim da quarentena, se consiga não apenas retomar as grandes mobilizações de massa de rejeição dele e de promoção de alternativas, como se possa criar um clima insustentável de rejeição a ele, em todo lugar em que ele vá, inviabilizando essas circulações dele pelo país.
As principais atividades da esquerda têm que ser voltadas para as mobilizações populares, que têm que ocupar as ruas de todo o país assim que o fim da quarentena permita que as pessoas saiam às ruas. Para o que se precisa definir a prioridade do trabalho de massas, da retomada dos contatos com todos os setores populares de todo o país. Mini-caravanas com o Lula, que concentrem, em cada capital, reuniões com todos os setores mais representativos – mulheres, negros, jovens, sindicalistas, trabalhadores da educação e da saúde, entre outros – que desemboquem em um grande comício, em atividades de dois dias em cada lugar, podem permitir percorrer o país em poucos meses.
Antes disso, a prioridade tem que ser a campanha política para que definitivamente o Lula recupere seus plenos direitos políticos. Uma campanha jurídica, política, de massas, que deixará a esquerda em plenas condições de, contando com suas próprias forças, se preparar para voltar a ganhar e a dirigir o Brasil na direção da democracia, da justiça social e da soberania nacional.(Por Emir Sader).
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