O movimento permanece constante desde o momento em que o bloqueio foi retirado pelo governo da Venezuela
Por: Folhapress
Confronto na VenezuelaFoto: Juan Barreto/AFP
A reabertura da fronteira da Venezuela com o Brasil na última semana intensificou o fluxo de venezuelanos que cruzam a divisa entre os dois países para fazer compras em Pacaraima (RR) e gerou um fenômeno: os estrangeiros estão vindo ao país até para abastecer seus veículos com gasolina nacional.
O movimento permanece constante desde o momento em que o bloqueio foi retirado pelo governo do país vizinho e causou uma invasão de clientes venezuelanos no comércio da cidade fronteiriça.
As vendas de itens de cesta básica e materiais de construção foram rapidamente aquecidas com a presença dos compradores estrangeiros, segundo o representante da associação comercial e empresarial de Pacaraima, João Kléber Soares.
O movimento permanece constante desde o momento em que o bloqueio foi retirado pelo governo do país vizinho e causou uma invasão de clientes venezuelanos no comércio da cidade fronteiriça.
As vendas de itens de cesta básica e materiais de construção foram rapidamente aquecidas com a presença dos compradores estrangeiros, segundo o representante da associação comercial e empresarial de Pacaraima, João Kléber Soares.
A circulação de dinheiro na cidade também impulsionou setores de alimentação, hotelaria, transportes e prestação de serviços logísticos, movimentando de R$ 500 mil a R$ 2 milhões diários.
"Já nos primeiros 15 dias de fronteira fechada o comércio aqui despencou. Houve demissões e alguns comércios fecharam as portas, tiraram férias. Alguns fecharam em definitivo, mas esses são empresários que a gente considera como aventureiros, de oportunidade, que estavam na cidade pelo movimento", disse Soares.
De acordo com Soares, a média de compradores em Pacaraima antes do fechamento flutuava entre 800 a 1.200 pessoas diariamente, numa cidade de 15 mil habitantes, segundo o IBGE.
Nos meses de bloqueio, o número de clientes caiu para 400 a 650 pessoas. "Como temos muitos atacadistas e agora eles [venezuelanos] podem vir de carro, essa quantidade está voltando a ser como era até fevereiro", disse.
O soldador Elwin Delgado, 32, viaja semanalmente a Pacaraima para fazer compras. Além de arroz, feijão, leite, farinha, óleo e itens de limpeza, ele e o irmão mais novo, Erismar, 28, aproveitam as viagens para levar medicamentos básicos como aspirina e ibuprofeno, que dividem com a mãe, que está doente, e outros cinco irmãos.
Parte do que ele compra na fronteira é revendida para comércios, vizinhos e amigos em San Félix de Guayana, no estado Bolívar, onde mora. Ele começou a trabalhar como atravessador de mercadorias em 2017, quando a crise do país o forçou a sair do emprego em uma siderúrgica.
"Lá [na Venezuela] você não encontra nada. Não tem comida nem remédio, todos estão doentes, magros e passando fome. A solução é vir comprar aqui no Brasil e levar, mesmo pagando mais caro", afirmou.
O fechamento da fronteira pelo governo venezuelano não impediu o trabalho informal dos dois. Segundo Delgado, ele e o irmão chegaram a caminhar cerca de 12 km sob sol escaldante em trilhas no território vizinho, algumas vezes entrando em comunidades indígenas pemón para evitar guardas nacionais bolivarianos que pedem subornos em dinheiro ou mercadorias como "pedágio".
Com a fronteira aberta, eles agora voltam à rotina anterior ao fechamento: transportam a mercadoria em táxis de cooperativa até a rodoviária de Santa Elena de Uairén -primeira cidade venezuelana após a fronteira- e a embarcam no primeiro ônibus até San Félix, distante cerca de 600 km da linha.
Além das vendas de mercadorias em armazéns, um fenômeno curioso ocorre na região. Desde sexta-feira (10), venezuelanos cruzam a fronteira para abastecer no único posto de combustíveis de Pacaraima, aberto há apenas dois meses, logo após o bloqueio da passagem.
O frentista João Paulo Queiroz, que trabalha no local, disse que desde a reabertura 8 em cada 10 clientes são do país vizinho, dispostos a pagar R$ 4,95 pelo litro da gasolina e R$ 4,25 pelo diesel. "Eles vêm, enchem o tanque e levam para o outro lado. A maioria vem de Santa Elena, mas tenho atendido muito garimpeiro de lá que leva uns dois galões a mais", disse.
Antes disso, o fluxo acontecia no sentido contrário: brasileiros tradicionalmente formavam filas quilométricas em carros de passeio e carga para abastecer os veículos em um posto gerenciado pelo governo venezuelano localizado próximo à linha de fronteira, a um preço mais barato que o vendido em Roraima.
A professora venezuelana Yurisbeth González, 43, é uma das clientes do posto brasileiro. Moradora de Santa Elena, ela relatou que há pelo menos cinco dias não há combustível em todo o estado Bolívar, que faz fronteira com o Brasil.
"Ninguém sabe o que houve, mas está faltando combustível em várias partes do país há quase uma semana. Só dizem que não tem estoque. Aqui na fronteira estamos numa situação relativamente confortável porque podemos vir para o Brasil e comprar, mas quem está mais para dentro do país está vivendo um caos", afirmou.
Apesar da explosão com a demanda reprimida e aumento súbito de clientela estrangeira, João Kléber disse acreditar que a alta rotatividade também gera transtornos para a cidade brasileira, que agora enfrenta superlotação de carros. "É um lugar muito pequeno, com poucas ruas e que não tem estrutura para comportar tanta gente e veículo ao mesmo tempo, então acaba sobrecarregando o tráfego", disse.
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