Por Gilvandro Filho, para os Jornalistas pela Democracia
Não é mais uma vítima, apenas. Agora são duas. A morte do catador de lixo reciclável Luciano Macedo, na rebarba do fuzilamento do músico Evaldo Rosa dos Santos, aumenta a contabilidade dos crimes cometidos pelos militares do Exército Brasileiro no dia 7 de abril, em Guadalupe, Rio de Janeiro. A frase "O Exército não mata ninguém", da lavra do presidente Jair Bolsonaro, se desgasta ainda mais.
O Exército prometeu "apurar tudo e cortar na própria carne". Mas, a demora em se divulgar alguma coisa poderá abrir um fosso entre a transparência real da corporação e a sociedade que exige ver o crime brutal ser esclarecido e seus autores punidos na forma da lei.
Nove militares envolvidos naquele "incidente" – como o governo, o presidente e o Exército classificaram o fuzilamento - estão presos (um deles solto por não ter atirado), "taoquêi". Mas, e aí? Já era hora de o Brasil inteiro saber o que se apurou a respeito do que ocorreu naquele dia fatídico em que uma singela ida a um chá de bebê acabou numa tragédia que destruiu uma família. Agora, duas.
Luciano Macedo não estava sendo perseguido nem contra ele os militares tinham qualquer tipo de pretexto. Ele passava pelo local e, impactado com a cena do fuzilamento, tentou socorrer as pessoas que estavam no carro do músico Evaldo. A sua inciativa de paz não comoveu a turma da guerra e os tiros não pararam. O catador de lixo foi atingido e hospitalizado em estado grave. Veio a óbito nas primeiras horas dessa quinta-feira (18), 11 dias depois do crime. Tinha 46 anos, era casado e sua mulher está grávida de cinco meses.
A execução de Guadalupe chocou o País. Mas, Bolsonaro guardou um silêncio obsequioso de seis dias até divulgar, através do seu porta-voz e pelo canal de comunicação favorito, o twitter, que tudo não passara de "um incidente". "O Exército é do povo, e não se pode acusar o povo de ser assassino, não", "tuitou" o presidente, reverberando a opinião de outros oficiais do Exército. O ministro da Defesa, general Fernando Azevedo e Silva, por exemplo, ainda adjetivou o fato como "um lamentável incidente".
Para o filho número 2 do presidente, deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL), o Exército não tinha obrigação de saber quem era Evaldo Rosa dos Santos, muito menos o que ele fazia dirigindo aquele carro branco. Mesmo defendendo a apuração do fato, não perdeu a oportunidade de sair com uma de suas pérolas: "Ninguém tem escrito na testa que é criminoso". Ou seja, se tivesse com a marca na testa, estaria justificada a saraivada de 80 balas contra ele, mesmo estando desarmado como estava.
Por uma dessas estranhas coincidências, no próximo dia 5 de maio, o presidente Jair Bolsonaro, através do seu Ministério da Defesa, condecorará com a Medalha da Vitória o advogado Paulo Henrique Pinto de Mello. O agraciado é ninguém menos que o advogado que defende o grupo de militares acusado pelo assassinato de Evaldo Rosa dos Santos. A medalha é dada a heróis de guerra e autores de feitos relevantes para o Exército. Pinto de Mello, além de advogado, é militar da reserva.
O Ministério da Defesa esclarece: a concessão da honraria já estava decidida antes do crime acontecer.
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