sábado, 29 de dezembro de 2018

Paulo Câmara preparado para enfrentar o segundo round

Reeleito, governador Paulo Câmara terá oportunidade de aprofundar experiências que deram certo e de colocar em prática o que não pôde realizar

  Por: Marcelo Montanini/folhape
Paulo Câmara (PSB) e Luciana Santos (PCdoB) tomarão posse na Alepé no dia 1º de janeiro
Paulo Câmara (PSB) e Luciana Santos (PCdoB) tomarão posse na Alepé no dia 1º de janeiroFoto: Andréa Rego Barros/Divulgação



A partir de 1º de janeiro de 2019, o governador Paulo Câmara (PSB) seguirá à frente do Palácio do Campo das Princesas por mais quatro anos com a missão de fazer um governo diferente do da primeira gestão, com o seu perfil. Em meio à crise nacional, o governador não conseguiu entregar algumas obras - como o próprio admite -, mas realizou ajustes fiscais que evitaram colapso na administração estadual, como ocorreu em outros estados brasileiros. Mas, apesar dos altos e baixos dos últimos quatro anos, a reeleição no primeiro turno foi um termômetro do governo, com as ressalvas da conjuntura, e do próximo quadriênio. 

A cientista política Priscila Lapa, da Faculdade de Ciências Humanas de Olinda (Facho), destaca que, na primeira gestão, Câmara preferiu não inovar e seguiu a cartilha do ex-governador Eduardo Campos, morto em 2014, em termos de equipe e políticas públicas. “Ele (Paulo) não deu o tom de Paulo Câmara e pagou o preço de pegar um ciclo de recessão. Agora, vai tentar dar mais o tom pessoal ao governo”, avalia. 

Citando a crise, o governador ressalta que fez o dever de casa no primeiro mandato, ao realizar os ajustes necessários para se adaptar à realidade econômica e poder ter perspectivas de melhora para os próximos quatro anos. “O foco agora é melhorar os serviços, já que nos primeiros quatro anos muita obra não pudemos concluir porque a crise não deixou, muitos empregos foram perdidos, os serviços tiveram uma demanda e uma procura muito grande. Então, a gente tem que atender essa expectativa de melhorar os serviços”, avalia Câmara.

Primeira gestão
Ao assumir o mandato em 2015 - após a gestão bem avaliada do padrinho político Eduardo Campos, Câmara realizou dois planos de contingenciamentos de gastos. Com arrecadação abaixo das expectativas, o governo elaborou um plano de redução de R$ 320 milhões em fevereiro e outro de R$ 600 milhões em outubro, gerando economia de R$ 920 milhões no custeio da máquina pública. 

O líder do governo na Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe), deputado Isaltino Nascimento (PSB), analisa que o legado da primeira gestão foi ter antevisto a crise e ter realizado um modelo de gestão austero para manter os serviços. “Modelo de gestão de austeridade que conseguiu manter secretarias e órgãos funcionando e fez algumas entregas. Isso, inclusive, balizou os quatro anos e fez com ele fosse reeleito”, destaca.

Ainda assim, em 2015, Pernambuco teve o pior Produto Interno Bruto (PIB), a soma total das riquezas produzidas no Estado, da era Câmara, com queda de 4,2% em relação ao ano anterior, segundo o Condepe/Fidem. A partir disso, houve uma trajetória de crescimento ao longo dos anos: uma queda de 2,9% em 2016 e crescimento de 1,6% em 2017 e de 2,2% no terceiro trimestre de 2018. A Agência projeta finalizar o ano com crescimento de 2,1% a 2,5%.

O economista Luiz Maia, da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), avalia que a primeira gestão do governo Paulo Câmara sofreu, como ocorreu nos demais estados, com os impactos da profunda recessão nacional. “Com a queda dos investimentos, a severa restrição orçamentária e um louvável e bem sucedido esforço de ajuste fiscal, a agenda econômica do Estado teve que trabalhar com um cenário muito desfavorável. Se, por um lado, esforços pelo adensamento de novas cadeias produtivas não tenham sido abandonados, seus resultados ficaram abaixo do que se esperava há quatro anos”, analisa.

Sob a gestão Câmara, a educação pública pernambucana alcançou a melhor posição no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), em 2016. Área que se tornou a principal bandeira do socialista. Outro campo em que o governo estadual avançou foi o de recursos hídricos, com a conclusão da barragem de Serro Azul e da Adutora de Pirangi. A de Moxotó em pré-operação e as de Alto do Capibaribe, Serro Azul e Agreste, a principal delas, ainda estão em andamento.

“(O governo) avançou na política em relação ao abastecimento de água, com adutoras e barragens”, pontua Silvio Costa Filho (PRB), líder da oposição na Assembleia Legislativa, que está se despendido com destino à Câmara dos Deputados.

segurança pública, que nos primeiros anos foi um calo, voltou a apresentar bons índices. Segundo a Secretaria de Defesa Social (SDS), o Pacto Pela Vida atingiu 4.479 homicídios em 2016 e 5.426 em 2017, mas aos poucos tem apresentado melhoras. Entre janeiro e novembro deste ano, houve 3.862 homicídios, índice semelhante ao de 2015 (3.890), primeiro ano de gestão. O que antes era visto com críticas, tornou-se outra bandeira governista.

Despedindo-se da vice-governadoria de Pernambuco para assumir o mandato de deputado federal, Raul Henry (MDB) reitera que Câmara enfrentou cenário adverso por causa da crise, mas que vem conseguindo bons resultados. “Ele (Paulo Câmara) com esforço, espírito público e senso de responsabilidade conseguiu manter o Estado de pé. Conseguiu índices impressionantes, um deles e mais impressionante é o da violência, pois Pernambuco há 12 meses reduz os crimes letais e contra o patrimônio”. 

Críticas 
Apesar dos avanços e do equilíbrio nas contas, aliados criticam a falta de comunicação com a sociedade. “Acho que o governo se comunicou pouco com a população para mostrar o esforço que vinha fazendo, esforço para manter o Estado de pé e para melhorar esse conjunto de politicas públicas”, pondera Raul Henry. O líder do governo na Alepe seguiu a mesma linha. “A comunicação executada pelo (governo do) Estado não conseguiu divulgar para a sociedade as entregas de ações e as dificuldades que o Estado vivenciou pelo boicote de Temer”, concorda Nascimento.

Entre as críticas da oposição está a perda interlocução com o governo Michel Temer e a falta de ousadia de Câmara para solucionar problemas na administração. O líder da oposição na Assembleia Legislativa critica a perda de interlocução com o governo Michel Temer. “Faltou proatividade na interlocução para captação de investimentos para Pernambuco”, reclama Costa Filho. Esta, inclusive, foi uma crítica de muitos oposicionistas, que atribuíram a questões eleitorais.

A potencial líder da oposição na Alepe na próxima legislatura, deputada estadual Priscila Krause (DEM) pondera que o gestor não atendeu as expectativas dos desafios que Pernambuco precisa. A parlamentar, todavia, aguarda com atenção os resultados da reforma administrativa, enviada pelo Executivo e aprovada pela Assembleia na última quinta-feira. 

Reforma administrativa
Inspirada no modelo deixado por Eduardo Campos, Câmara manteve as 22 pastas, além de Procuradoria Geral do Estado e a Casa Militar com status de secretarias. Houve, no entanto, a fusão de algumas estruturas. Estima-se que 46 cargos comissionados e 700 funções gratificadas foram extintas. “A reforma não trouxe economia para o Estado”, destaca Priscila Krause. Questionado sobre a economia gerada pela reformulação, o Palácio do Campo das Princesas diz que não trabalha com perspectiva de valor, mas de eficiência da máquina

Com a reformulação, o governo estadual sinalizou à sociedade que poderá dar atenção especial às áreas de recursos hídricos, com a pasta de Infraestrutura e Recursos Hídricos, e ao social, com a de Política de Prevenção às Drogas. “Paulo não só tem melhorado os índices na segurança como direcionou claramente, com a reforma, que, em vez de combater a violência pelo efeito, vai combater pela causa”, defendeu a vice-governadora eleita Luciana Santos (PCdoB). Acrescentando que a questão dos recursos hídricos já é uma marca importante do governo que foi consolidada com a pasta.

Luciana Santos, inclusive, é a primeira vice-governadora mulher eleita na história de Pernambuco. Além de auxiliar Câmara no aconselhamento e na ausência dele do Estado, ela pretende dar mais transversalidade nas políticas para as mulheres. “Vamos discutir projetos e tentar alinhar nossas visões”, diz.

Desafios
Os especialistas entrevistados pela Folha de Pernambuco elegeram o desemprego e a segurança pública como os principais desafios de gestão. “O desemprego muito elevado e a violência são, provavelmente, os aspectos mais preocupantes das condições de partida da segunda gestão. Com um cenário nacional relativamente mais favorável - ainda que desafiador sob a ótica da articulação com Brasília - é provável que o governo tenha melhores condições de favorecer a aceleração da economia em 2019”, prevê o economista Luiz Maia.

A cientista política adverte que a questão da segurança vai continuar demandando nos próximos anos, assim como o desenvolvimento econômico do Estado, mas ela frisa que Câmara pode ter um grande desafio político. “Ele precisa recompor a base política”, diz Priscila Lapa, em referência às costuras para a campanha eleitoral passada que culminaram no rompimento com os irmãos Ferreira (PSC e PR), PSL e outros partidos menores. 

Sobre os desafios, o governador foi direto: melhorar os serviços públicos. “Somos sabedores que não dá pra fazer grandes obras, mas dá pra melhorar a vida do povo em todas as áreas e é isso que a gente vai focar: melhorar a vida das pessoas, seja nas cidades, seja na zona rural, nos serviços básicos. E buscar, com todas as áreas de governo, gerar empregos”, antevê Câmara.



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