Mais
 de cem anos depois da Guerra de Canudos o território da Canudos Velha 
volta a aparecer. Nas últimas semanas as ruínas se tornaram um local 
turístico por causa da seca. Foi ela que fez o Açude do Cocorobó, 
construído em 1968, baixar o seu nível em nada menos que 11 metros. Dos 
245 milhões de metros cúbicos d’água (245 bilhões de litros), restam 
apenas 20%. A perda fez aparecer ruínas de duas Canudos: a Canudos 
conselheirista, que viveu as batalhas, e a Canudos pós-conselheirista, 
ambas inundadas pelo açude.
A última vez que algo parecido aconteceu
 tem pelo menos 17 anos, na seca entre 1996 e 1999. Com a nova seca, 
emergiram da primeira Canudos a base do cruzeiro defronte às duas 
igrejas do arraial, parte do cemitério onde estariam os restos mortais 
de alguns dos combatentes e a base de um canhão, uma matadeira de 
fabricação alemã. Da segunda Canudos, reconstruída no mesmo local, 
aparece hoje boa parte das ruínas de uma terceira igreja, edificada após
 a morte de Conselheiro, e uma ponte que dava acesso à cidade.
Ainda que a seca continue, há pouco a se
 revelar da primeira e segunda Canudos além do que já existe. Apenas as 
bases das duas igrejas conselheiristas, feitas de pedra, ainda resistem 
abaixo do lodo do açude. Dos casebres do arraial, não existe mais nada. 
Até porque as construções eram de pau a pique.
Se voltar a chover e, como diz o povo 
canudense, o açude novamente sangrar (transbordar), tudo vai 
desaparecer. Se bem que, essa cidade tem como essência a resistência. 
Destruída pelo fogo da guerra, ressurgiu para ser apagada pela água. 
Reapareceu pela terceira vez em outro local e hoje segue viva. No 
presente e no passado. E a cada aparição das suas ruínas, aqueles que 
têm o mínimo de imaginação, talvez consigam ouvir a munição das 
espingardas bate-bucha zunindo nos ouvidos.
Ao fazer ressurgir o Arraial de Canudos,
 a seca que atinge o Sertão da Bahia mostra que não é só sofrimento. A 
aparição das ruínas possibilita, entre outras coisas, o estudo do local.
Na última seca, na década de 90, uma 
equipe de arqueólogos trabalhou nas ruínas durante 20 dias. Era preciso 
aproveitar a chance antes que voltasse a chover. Na época, foram 
desencavadas ossadas, cartuchos de balas, estilhaços de granada. Foram 
retiradas a lama e o entulho que cobria alguns monumentos. Já na década 
de 80, já havia sido criado o Parque Estadual de Canudos. Hoje, no 
parque, há preservados vestígios da guerra não submersos, como quatro 
trincheiras conselheiristas que tentaram barrar a aproximação das 
volantes. As informações são do Correio 24 horas.
Blog do Banana
Blog do Bill Art´s