O
boato sobre o fim do programa Bolsa-Família deflagrou mais uma batalha
entre o governo e a oposição. A presidente Dilma Rousseff classificou
nessa segunda-feira como “criminoso e desumano” o autor do rumor que se
espalhou Brasil afora e gerou tumulto em 13 estados, principalmente no
Nordeste e Norte do país, levando milhares de pessoas a agências da
Caixa Econômica Federal no fim de semana para tentar sacar o dinheiro.
Adversários e aliados do governo trocaram acusações depois de a ministra
da Secretaria Especial de Direitos Humanos, Maria do Rosário, ter
afirmado que a falsa informação sobre a suspensão do benefício, pago a
cerca de 36 milhões de pessoas, teria sido plantada pela oposição.
“O que aconteceu no Brasil sábado foi
falso, negativo e levou intranquilidade às famílias que recebem o
Bolsa-Família (…) É algo absurdamente desumano o autor desse boato. Além
de ser desumano, ele é criminoso, por isso nós colocamos a Polícia
Federal para descobrir a origem do boato”, afirmou a Dilma em Ipojuca,
no interior de Pernambuco, um dos estados alvos das falsas informações.
Segunda ela, o governo tem um compromisso “forte, profundo e definitivo”
com o Bolsa-Família e não vai abrir mão do programa. “Enquanto for
necessário e tiver algum brasileiro vivendo abaixo da linha da pobreza,
nós iremos buscar esse brasileiro, essa família, essa mãe, iremos
garantir a eles esse direito”, assegurou a presidente, durante cerimônia
de lançamento do navio petroleiro Zumbi dos Palmares.
Postada em seu perfil no Twitter, frase
da ministra Maria do Rosário detonou os atritos entre a oposição e
aliados de Dilma em torno do episódio. “Boatos sobre fim do
Bolsa-Família devem ser da central de notícias da oposição. Revelam
posição ou desejo de quem nunca valorizou a política”, escreveu a
ministra em sua conta no microblog ontem, por volta das 8h. Diante das
reações, a ministra usou o mesmo espaço para se justificar, no fim da
tarde: “Quero dizer que não tenho nenhuma indicação formal da origem de
boatos. Singela opinião. Não quero politizar”.
Logo depois da primeira postagem de
Maria do Rosário, o presidente do DEM, senador José Agripino (RN),
cobrou explicações. “Ela não pode ser leviana nem em parte nem por
inteiro, ela tem obrigação de dizer quem é. Ministro de Estado não pode
brincar de fazer suposições”, afirmou Agripino. “Se o projeto não vai
acabar, e espero que não acabe, se o assunto vem e promove a comoção que
provocou, o que a oposição teria a ganhar com o fato? Seria um gesto de
burrice”, reagiu, classificando a acusação da ministra de “um atentado à
inteligência da oposição”.
O líder do PSDB na Câmara dos Deputados,
Carlos Sampaio (SP), disse que vai pedir explicações à ministra. “Custo
a acreditar que uma declaração de tamanha irresponsabilidade tenha
partido dela. Estou apresentando o requerimento de convocação da
ministra na Comissão de Segurança para dar a ela a oportunidade de
retratar-se”, afirmou.
Dossiês
Mais irritado, o líder do PSDB no Senado
disse que o PT é que fabrica dossiês e espelha boatos, e não a
oposição. “Será que o Brasil não se lembra do boato espalhado pelo PT,
na campanha da presidente Dilma de que José Serra, se eleito, ia acabar
com concursos públicos? Quem tem know-how de fabricar boatos, notícias
falsas? Fomos nós que fabricamos o dossiê dos aloprados, tentando
imprimir infâmias a um político da oposição?”, questionou. “Eu tinha com
a senhora ex-deputada um bom diálogo, a considerava pessoa de boa-fé.
Infelizmente, não considero mais. Porque depois de uma singela opinião
dessas, que acusa a oposição de prática de felonia sem ter nenhuma
indicação formal, ela nem sequer pede desculpas públicas. Ela diz que
não quer politizar, mas já politizou”, disse Aloysio Nunes.
Já o vice-presidente do Senado, Jorge
Viana (PT-AC), reagiu ao afirmar que o PT sempre foi vítima de dossiês
produzidos por “setores que trabalham contra o país”. “Eu não entendo
por que a oposição está vestindo a carapuça. Não tem ninguém que tenha
sido mais vítima de boatos neste país que o PT”, afirmou. Viana lembrou
que o ex-presidente Lula, na campanha eleitoral de 1989, foi vítima de
boato de que o governo, se eleito, tomaria a propriedade das pessoas. “O
certo é que praticamente se institucionalizou a maneira de se enfrentar
a realidade com boatos.” O presidente do Mobilização Democrática (MD),
deputado Roberto Freire (SP), disse que Maria do Rosário tem uma postura
“irresponsável”. (Estado de Minas)
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