Despertar juvenil
É o que se pode ver com nitidez na Esplanada dos Ministérios o resultado político de um mês da CPI da Covid-19, que colocou a nu o bolsonarismo genocida: a juventude de peito aberto pedindo revogação do mandato de Bolsonaro é, indubitavelmente, o novo e palpitante fato político; ela, dando aula de civilidade(todos de máscara, alcoolgel e distanciamento, conforme protocolo científico) disse alto e bom som que não dá para esperar 2022; tem que ser agora, já, a saída do capitão presidente; deu para fazer paralelo com o que aconteceu há 30 anos, em 1992, no mesmo local, com a juventude mobilizada para derrubar Fernando Collor; ela vestira de preto, enlutada, para negar sugestão collorida de encher as ruas vestida de verde-amarelo; o que se viu em protesto foi o repúdio geral dos jovens diante daquele que convocava a população para salvá-lo da CPI que apontou a corja corrupta do presidente que perdera confiança popular; Paulo César Faria, o caixa ambulante da campanha eleitoral de Collor, havia aprontado demais e deixado rastro grosso de roubalheiras, que acabaram detonando o mandato collorido; com muito mais razão, agora, os jovens se mobilizam com gritos fortes para protestar contra mais de 450 mil mortes produzidas pelo negacionismo bolsonarista; à motivação explícita, o genocídio bolsonarista, que, nesse final de semana, mobiliza juventude em mais de 85 cidades brasileiras, segue a motivação implícita que bate fundo na consciência juvenil: sua oposição à tentativa do governo de jogá-la na marginalização social.
Sem chances com Bolsonaro
Com o bolsonarismo ultraneoliberal, que produz mais de 15 milhões de desempregados, somados ao dobro disso, que são os trabalhadores desalentados, desocupados, por desistirem de procurar empregos inexistentes, os jovens se veem, no momento, como verdadeiros párias; reagem, radicalmente, a essa possibilidade sinistra; lutam, agora, nas ruas contra sua exclusão social definitiva; reagem, energicamente, às reformas neoliberais, que destruíram direitos econômicos e sociais, jogando na lata de lixo a Constituição cidadã de 1988; dão grito de guerra contra governo inconstitucional; bradam contra reforma previdenciária que inviabiliza o futuro dos trabalhadores, eliminando direitos às aposentadorias; a reforma trabalhista acabou com salário mínimo e estabeleceu a regra do capital segundo a qual passa a valer o negociado no lugar do legislado; ou seja, a lei passa a ser a faca afiada contra o pescoço do proletariado; em nome do ajuste fiscal neoliberal, cuja essência é a desestatização acelerada com sucateamento das estatais, os agentes indispensáveis do projeto desenvolvimentista, a juventude ficou sem amparo futuro; foram os agentes desenvolvimentistas que criaram as bases da educação técnica sem a qual a juventude brasileira não tem como enfrentar os desafios ancorados na ciência e tecnologia, como fatores de avanço da produtividade e eficiência econômica no mundo globalizado.
Fim da anestesia alienante
Até o momento os jovens estavam sendo anestesiados pela mídia conservadora golpista que derrubou o governo popular que conduzira, democraticamente, o Brasil de 2003 a 2016; nesse período, democratizou-se, amplamente, o acesso dos jovens ao ensino universitário, mediante oportunidades jamais vistas, por meio de aumentos de gastos sociais e valorização do salário mínimo, graças aos quais os mais pobres puderam se alimentar, morar, estudar e viajar; milhares de jovens pobres foram para o exterior se especializar em carreiras universitárias e cursos de preparação técnica etc; os cortes orçamentários violentos impostos pelos neoliberais com imposição do teto de gastos, previstos para vigorar de 2016 a 2036, barraram, abruptamente, as chances da juventude de se formar e sonhar com futuro profissional; o reajuste do orçamento da saúde, da educação, da segurança e da infraestrutura, necessário para garantir formação sólida da juventude, virou fumaça; a correção orçamentária passou a ser realizada, apenas, com base na inflação do ano anterior; os neoliberais assaltaram o orçamento e caparam o futuro da juventude, em nome do ajuste fiscal, expresso em pagamento de juros e amortizações na base da especulação financeira; educação virou mera despesa aos olhos neoliberais, destruindo entendimento de que são investimentos necessários à independência econômica nacional com conquista de conhecimento, maior riqueza de uma nação; o bolsonarismo relega a juventude à barbárie; por isso, nessa mobilização, ela aparece, quantitativa e qualitativamente, como personagem central das ruas para resgatar conquistas sociais perdidas; deram seu grito: colocar o Brasil em novo rumo adequado aos sonhos e anseios maiores dela, para ser mais do que foram seus pais e botar o país no rumo do desenvolvimento com justiça social. Por: César Fonseca Repórter de política e economia, editor do site Independência Sul Americana.