"Por mais tresloucados que sejam em não ouvir a ninguém a não ser aos seus próprios arroubos, (neste quesito Bolsonaro é campeão) uma queda significativa no percentual de aceitação os leva, sim, a recuar diante do risco de fazer sombra aos próprios planos", escreve Denise Assis, do Jornalistas pela Democracia
(Foto: Marcos Correa - PR)
Por Denise Assis, do Jornalistas pela Democracia
Nada como a realidade dos números e estatísticas para dar um “sacode” em dirigentes que se arvoram ao autoritarismo. Já se sabe que presidentes podem muito, mas não podem tudo. E, sim, vão responder por seus atos perante a Lei e à História. Medidas provisórias, decretos, são instrumentos de que eles lançam mão, mas há que seguirem os freios e contrapesos dos demais poderes e os limites impostos pela Constituição.
Não só. Entram aí os componentes da vaidade – que os faz ter ímpetos de avançar além da linha do legítimo –, e do bom senso. Por mais tresloucados que sejam em não ouvir a ninguém a não ser aos seus próprios arroubos, (neste quesito Bolsonaro é campeão) uma queda significativa no percentual de aceitação os leva, sim, a recuar diante do risco de fazer sombra aos próprios planos.
Tudo isto para observar que o Bolsonaro presente à reunião de hoje, com os governadores, pisou no freio. Acusou o golpe de despencar de uma aprovação em janeiro, na casa de 36%, para um índice de reprovação agora em 50%. Sem falar nos desdobramentos da pesquisa, onde 76% dos entrevistados (por telefone), apontaram apoio ao isolamento social, que ele tanto combate. Ao todo, 57% consideram que o isolamento deve durar até que o risco seja reduzido, e 11% até o final de julho. A ideia de que acabe no fim de maio tem apenas 14% de apoio. E contra números não há argumentos.
Foi assim, vergado ante o peso desses índices, (agravados pelos 57% que consideram errada a política econômica do seu governo), que Bolsonaro mostrou-se quase cordial com os governadores, a quem deve um apoio financeiro urgente, exatamente para eles terem fôlego de continuar a praticar aquilo que 76% dos brasileiros pedem: a proteção à saúde, com a continuidade do isolamento social.
Bolsonaro estava pianinho ao abrir o encontro. Depois da fala do presidente da Câmara, Rodrigo Maia - “vidas em primeiro lugar”, discursou ele -, seguido de Davi Alcolumbre que, não com tanta ênfase, mas chamando o presidente à razão (se é que isto é possível), falou da urgência de se liberar recursos aos estados. Está em jogo a saúde e a economia, lembrou, fazendo Bolsonaro ver que não se dissocia uma coisa da outra.
Quem primeiro se pronunciou em nome dos governadores foi Reinaldo Azambuja, (PSDB), Mato Grosso do Sul. Abriu também ressaltando a necessidade de se priorizar vidas e não a economia. Ele pediu a aprovação imediata do projeto de Lei Complementar PL 39/2020, que cria o Programa Federativo de Enfrentamento ao Coronavírus para prestar auxílio financeiro de até R$ 125 bilhões a estados, Distrito Federal e municípios. O Programa Federativo de Enfrentamento ao Coronavírus vai direcionar R$ 60 bilhões em quatro parcelas mensais, sendo R$ 10 bilhões exclusivamente para ações de saúde e assistência social (R$ 7 bi para os estados e R$ 3 bi para os municípios) e R$ 50 bilhões para uso livre (R$ 30 bi para os estados e R$ 20 bi para os municípios). Além disso, o Distrito Federal receberá uma cota à parte, de R$ 154,6 milhões, em função de não participar do rateio entre os municípios. Esse valor também será remetido em quatro parcelas. (Fonte: Agência Senado).
Na mesma toada foi José Renato Casagrande (PSD), governador do Espírito Santo. E, por fim, a fala mais esperada, a de João Dória (PSDB-SP), foi cercada de suspense. Não só pela animosidade que vem rolando entre ele e Jair, mas porque um problema técnico o tirou do ar na hora do seu discurso. Boicote??? Não. Apenas sobrecarga na Internet, em tempos de pandemia. Também ele depôs armas. Em tom cordial, deu-se à gentileza de elogiar a iniciativa do encontro e foi direto ao ponto. Aprovação já.
Todos, no entanto, foram safos. Não esticaram conversa sobre a proibição de reajustes para algumas categorias, ressalvadas no projeto. No projeto aprovado no Senado, foram incluídos novos setores que ficarão fora do congelamento de salários de servidores públicos. Além dos profissionais de saúde, de segurança pública e das Forças Armadas, foram excluídos do congelamento os trabalhadores da educação pública, servidores de carreiras periciais, Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal, guardas municipais, agentes socioeducativos, profissionais de limpeza urbana, de serviços funerários e de assistência social. Os governadores adotaram a tática de deixar o veto para Jair, na linha: “quem pariu Mateus que o embale”.(247)
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