Há
uma lógica nessa loucura, citando Shakespeare, para falar do governo do golpe.
De um certo ponto de vista, tudo parece uma loucura. O país foi mergulhado numa
depressão econômica profunda, o patrimônio público está sendo rifado a qualquer
preço, os direitos da grande maioria da população estão sendo abolidos, o
prestígio externo do país nunca foi tão baixo, o governo está assediado por
acusações de corrupção para grande parte dos seus membros, o apoio do governo
se aproxima rapidamente do zero, a imagem do presidente é a pior possível, suas
gafes se sucedem diariamente.
Mas
embora muita gente prognostique, semanalmente, a queda do governo, ele
sobrevive. E não apenas por inércia, embora esta conte. Porque ele está
cumprindo com o programa pelo qual o MT se candidatou a assumir a presidência.
Mas
antes mesmo de abordar os retrocessos que estão sendo colocados em prática pelo
governo surgido do golpe, está o primeiro objetivo, que uniu toda a direita:
tirar o PT do governo. Nisso o golpe deu certo, pelo menos até aqui, enquanto
tenta impedir o retorno de Lula ao governo. Mas teve outra vitória política
importante também: a criminalização do PT no bojo da campanha pelo golpe, assim
como, na mesma operação ideológica, a desqualificação do Estado, como espaço
supostamente privilegiado de corrupção – de que a Petrobras seria uma parte
importante.
Além
dessa mudança no panorama ideológico, estão as medidas de acelerado retrocesso,
pelas quais o governo paga o preço caro da impopularidade, mas não deixa de
avançar, atendendo às demandas do capital financeiro e da grande mídia. Os
retrocessos nos direitos sociais, com o ajuste fiscal reorganizando
radicalmente o gasto público, penaliza fortemente quem o governo quer fazer
pagar o preço pela crise: os trabalhadores e o conjunto da população pobre. O
conjunto de iniciativas antipopulares compõe um pacote que eleva o exploração
do trabalho, deixa mais vulneráveis ainda os trabalhadores para as negociações
salariais, pressionadas também pelo desemprego recorde.
A
retirada da rede de proteção social agudiza fortemente a crise social, com os
cenários das nossas cidades de novo povoados por grande quantidade de pessoas e
famílias inteiras dormindo e vivendo nas ruas. Com o retorno das crianças
vendendo balas nas esquinas. A desigualdade aumenta, assim como a exclusão
social e o abandono de camadas cada vez maiores da população.
Por
outro lado, o patrimônio público, em particular o da Petrobras, vai sendo liquidado
a preços vis para empresas estrangeiras, ao mesmo tempo que se destrói a
indústria naval, terminando com o conteúdo local e importando plataformas, ao
invés de fabricá-las aqui.
O
resultado é catastrófico para a massa da população e para todo o país. Para as
condições de vida da população e para o lugar do Brasil no mundo.
Mas
a lógica dessa loucura é que há quem ganhe com tudo isso. Aqui dentro, ganham
sobretudo os bancos privados – que contam a seu favor também com o
enfraquecimento dos bancos públicos. Lá fora, ganham os EUA, com o
enfraquecimento da presença autônoma do Brasil no mundo e a passagem a uma
política de muito baixo perfil e de subserviência. Se desmontam as políticas de
alianças na América Latina e com os Brics, que tanto atemorizam aos EUA.
O
golpe deu certo para a direita brasileira, derrotada quatro vezes nas urnas,
mas que encontrou a via do golpe para voltar ao governo. Deu certo para os
inimigos externos de um Brasil independente e soberano.
Perdem
o país, o povo brasileiro, a democracia, o Estado, os direitos dos
trabalhadores, a soberania externa. É uma loucura para a grande maioria e uma
lógica cruel e seletiva para a ínfima minoria dos mais ricos. (247).
Blog
do BILL NOTICIAS