Investigações de ambos os estudos sugerem que o planeta pode ter entrado num período de várias décadas acima de 1,5°C
Por: Isabel Alvarez
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Dois estudos publicados por cientistas da Alemanha e da Áustria na revista Nature Climate Change demonstram que o aumento de temperatura acima de 1,5ºC verificado no ano de 2024, o mais quente já registrado na história, é uma tendência de longo prazo que deverá se prorrogar por pelo menos mais 20 anos.
As investigações de ambos os estudos sugerem que o planeta pode ter entrado num período de várias décadas acima de 1,5°C e questionam se o fato de ser ultrapassado o limiar de 1,5°C ao longo de um ano não representa um alerta precoce, indicando que o limite de longo prazo já está em processo de ser extrapolado.
As equipes analisaram a questão combinando dados observados e modelos, na qual observaram que, desde o início do aquecimento global, sempre que um ano ultrapassou certos níveis de aumento nas temperaturas médias, estes permanecem ao longo de duas décadas.
“Se o suplantarmos para o limiar de 1,5°C, este modelo sugere que o período de 20 anos acima desta temperatura já começou e que os efeitos esperados a 1,5°C de aquecimento começarão a surgir. A menos que sejam implementadas reduções ambiciosas de emissões. O mundo ainda está apenas no início deste período. Teremos provavelmente de esperar dez anos para estabelecer que o aquecimento médio excedeu 1,5°C ao longo de duas décadas", relatam os autores
Esta estimativa de 20 anos é compatível com a dos cientistas do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas), grupo de especialistas da ONU que monitora e avalia as alterações climáticas. O IPCC prevê que há uma probabilidade em duas de assistirmos, entre 2030 e 2035, o clima aquecer em média 1,5°C.
"Se a anomalia de 1,5°C continuar além de 18 meses consecutivos, é quase certo que o limiar do acordo de Paris será ultrapassado", mesmo num cenário intermediário de emissões de gases com efeito de estufa”, explicou Alex Cannon, do Ministério canadense do Ambiente e Alterações Climáticas.
Os investigadores enfatizam a importância de se tentar conter tanto quanto possível o aquecimento global, calculando que cada fração adicional de grau irá trazer mais riscos, como ondas de calor ou a destruição da vida marinha.
Também fundamentado em seis grandes bases de dados internacionais, a Organização Meteorológica Mundial (OMM), indicou que o ano passado foi o primeiro ano a registrar um aquecimento global acima de 1,5ºC, com uma temperatura média na superfície do planeta 1,55°C superior à média do período 1850-1900, uma vez que o aquecimento global é medido a partir da era pré-industrial.
Antes disso, uma série de doze meses consecutivos acima deste limiar já tinha sido observada pelo observatório europeu Copernicus.
"Um único ano acima de 1,5°C não significa que não tenhamos conseguido atingir os objetivos de temperatura a longo prazo do Acordo de Paris, que abrangem décadas", sublinhou a secretária-geral da OMM, Celeste Saulo.
O acordo histórico de 2015 tem por objetivo dos países signatários manterem o aquecimento bem abaixo dos 2°C e prosseguir com esforços para limitá-lo a 1,5°C. Entretanto, estas temperaturas se referem a uma média climática, normalmente superior a 20 anos, tornando possível suavizar a variabilidade das temperaturas de um ano para o outro. De acordo com esta definição, o aquecimento atual estaria em torno dos 1,3°C.