domingo, 25 de fevereiro de 2024

Com G20, Blinken e Lavrov, o Brasil assume posição global muito forte

 

ADRIANO MACHADO/REUTERS

Publicado em: 25 de fevereiro de 2024, 11:09

As imagens falam por si. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebendo, em dois dias seguidos, o secretário de Estado dos Estados Unidos, Anthony Blinken, e o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov, dois dos países de maior peso geopolítico do planeta.

Não foram visitas de cortesia, como as que se fazem habitualmente entre representantes de nações amigas, mas reuniões de trabalho, negociações intensas, com interlocutores dotados de autoridade e autonomia. Discutiram-se em detalhes os processos dos dois graves conflitos do momento: o genocídio realizado por Israel na Faixa de Gaza e o conflito na Ucrânia, que completa dois anos.

Lula acabava de voltar de viagem ao Egito e à cúpula da 37ª Cúpula da União Africana, onde foi o único participante de fora do continente convidado a discursar.

Foi no âmbito dessa reunião, em Adis Abeba, que Lula fez a já histórica declaração que colocou o país em posição de vanguarda mundial na crítica ao morticínio genocida realizado por Israel na Faixa de Gaza.

Lula teve a coragem e o descortínio de denunciar o massacre de inocentes da Faixa de Gaza. Mencionou, criticando sofrimentos sofridos pelos judeus sob a máquina de morte nazista durante a Segunda Guerra. Verbalizou a indagação que tantos se fazem silenciosamente: como um povo que sofreu tanto é capaz de infligir tanto sofrimento a outro?

O fato de a reação de Israel ter sido tão imediata, destemperada e baixa atesta a precisão cirúrgica da manifestação do mandatário brasileiro. Lula colheu apoios internacionais abertos junto a silêncios de solidariedade eloquente. A diplomacia brasileira reagiu e repeliu o extremismo israelense. Mesmo Blinken, apesar de se opor, teve que reconhecer a legitimidade e a soberania da posição brasileira. A reunião amistosa, a cautela presente em sua manifestação de discordância em relação a Lula decorrem do reconhecimento irrecusável do peso do Brasil no cenário geopolítico.

Respeito, aliás, obtido apesar da oposição vexaminosa das elites brasileiras e de seus veículos jornalísticos, contrários a qualquer posicionamento brasileiro que se desvie do evangelho emanado da potência hegemônica, os Estados Unidos, e de seu satélite extremista, Israel.

A cobertura dessa mídia propiciou um constrangedor espetáculo de sabujice ao império. Terminou desconcertada e humilhada quando seu sol supremo, o Departamento de Estado, em torno do qual ela gravita, viu legitimidade na posição de Lula.

O Brasil assumiu assim a liderança mais explícita, fora do mundo árabe, da repulsa ao "suplício televisionado" imposto aos palestinos pelo regime israelense.

Falando com sinceridade e sem medo, Lula despiu o tabu da invulnerabilidade israelense.

Não se pode ignorar que o jogo cada vez mais sério que o Brasil desempenha na arena mundial se dá num contexto de câmbios agudos na correlação de forças, o que atravessa os conflitos na Europa e na Palestina.

O grupo do Brics, a que o país está tão identificado sob Lula, já tem hoje a mesma fatia de cerca de 30% da riqueza mundial que o antes inalcançável clube do G7. Há duas décadas, o G7 detinha 42% contra 19% dos Brics.

A diplomacia brasileira, sob a condução estratégica do chanceler Mauro Vieira, galga portanto um degrau superior de complexidade, em meio à ocupação dos espaços abertos nesse momento de mudanças geopolíticas.

Em seguidos episódios, em sinais emitidos em situações distintas por atores internos e externos, vai ficando evidente que o Brasil sob Lula ocupa a posição mais proeminente na história de suas relações exteriores.

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