Encerrada a CPI da Pandemia, que cumpriu papel decisivo ao desmascarar com fatos e depoimentos a responsabilidade de Bolsonaro e seu bando, o Brasil entrará numa fase de decantação política entre novembro/2021 e abril/2022 - como escrevi em coluna anterior.
Está claro que Bolsonaro não será afastado por impeachment (como seria desejável) e que a decisão ficará mesmo para 2022: o Brasil irá às urnas, tudo indica, em meio à recessão. Nesse quadro, Lula é o favorito, apesar de a maior parte da elite financeira não aceitar bem a volta do petista.
Mas gostaria de chamar atenção para os arranjos locais da política, especialmente em dois estados que costumam ser decisivos nas eleições brasileiras: Rio e Minas.
Desde 2002, nas últimas cinco eleições presidenciais, a geografia do voto no país parece bastante consolidada.
O PT (com Lula, Dilma ou Haddad) ganha com folga no Nordeste (que tem cerca de 27% do eleitorado) e em parte do Norte. A margem aberta pelos petistas nessas regiões costuma compensar a dianteira dos candidatos da direita em São Paulo, no Sul e no Centro Oeste.
A eleição, portanto, decide-se em Minas e no Rio - que são, no Brasil, o que os norte-americanos costumam chamar de "swing states" (estados que flutuam, sem um eleitorado tão definido).
Em 2014, apesar de todas as dificuldades, Dilma colheu surpreendente vitória sobre Aécio no estado de origem do tucano. O mesmo deu-se no Rio: apesar de ficar atrás do candidato do PSDB na capital fluminense, garantiu dianteira na Baixada e no interior do Estado.
Em 2018, o quadro se inverteu. Haddad ganhou de lavada no Nordeste e no estado mais populoso do Norte (Pará). A novidade foi que Bolsonaro (ao contrário do que aconteceu com os candidatos tucanos nas eleições anteriores) foi capaz de avançar no Rio e em Minas.
Os dois estados serão fundamentais mais uma vez em 2022. E chama atenção que o PT não tenha candidatos próprios em Minas ou Rio. Depende de alianças.
Em Minas, o atual governador Zema (Novo) está na frente nas pesquisas. O adversário dele deve ser o prefeito Kalil (PSD), que só é conhecido em BH e na região metropolitana.
Como se sabe, Minas são muitas... O Norte do Estado e o Vale do Jequitinhonha têm um eleitorado fortemente lulista, enquanto o Triângulo e o sul de Minas seguem a tendência antipetista de estados vizinhos.
Por isso, uma aliança de Lula com Kalil parece fazer sentido político (puxando o eleitor "centrista" para o lado de Lula) mas também geográfico: a popularidade de Kalil pode ajudar o petista na Grande BH, enquanto Lula puxaria voto para o candidato do PSD no Norte mineiro.
No Rio, o quadro é mais complexo. A militância petista parecia ter mais simpatia pela candidatura de Freixo (PSB), mas lideranças do PT avaliam que o deputado socialista tem dificuldades para dialogar com setores conservadores, e que um palanque exclusivo Lula/Freixo poderia deixar a avenida aberta para Bolsonaro (especialmente na Baixada e no interior do Estado).
O ex-prefeito de Niterói Rodrigo Neves (PDT) é visto como nome mais palatável para dialogar com o "centro", sem falar no advogado Felipe Santa Cruz (PSD), apoiado por Eduardo Paes.
Lula está na frente nas pesquisas no Rio e em Minas. Mas se não amarrar bem os palanques locais, corre risco de ver Bolsonaro crescer ao colar em Zema e Claudio Castro - dois governadores com esquemas políticos bem azeitados para 2022.
A melhor fórmula para Lula parece ser: palanque fechado com Kalil em Minas; palanques múltiplos no Rio. A vitória nacional de Lula depende de arranjos bem feitos nesses dois estados. Rodrigo Viana.
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