Ao longo do fim de semana, o presidente disse a interlocutores que iria insistir no nome de Ramagem
Por: Igor Gielow, da Folhapress

Presidente Jair BolsonaroFoto: Carolina Antunes/PR
Jair Bolsonaro foi convencido no último minuto a não desafiar o
STF (Supremo Tribunal Federal) nesta segunda-feira (4). A intenção do
presidente era a de tentar renomear o delegado Alexandre Ramagem para a Polícia
Federal.
A nomeação do atual diretor da
Abin, agência de inteligência do governo, fora sustada por uma decisão
provisória do ministro Alexandre de Moraes na semana passada.
Isso enfureceu Bolsonaro, que vê
em Moraes um elemento contrário a seu governo no STF. O atacou diretamente.
Apesar de alguns ministros terem visto excesso na decisão, considerada uma
interferência indevida em atos de outro Poder, a corte se fechou em apoio ao
colega.
Ao longo do fim de semana, o
presidente disse a interlocutores que iria insistir no nome de Ramagem. O
imbróglio institucional estaria garantido, além da confusão jurídica.
No domingo, Bolsonaro participou
novamente de um ato contrário ao Supremo e ao Congresso. Segundo relatos de
aliados, ele ficou entusiasmado com a aglomeração de apoiadores na praça dos
Três Poderes, e teria reforçado sua convicção de nomear Ramagem.
Isso levou a uma romaria de
aliados, mas não só eles, ao telefone e ao Palácio da Alvorada para tentar
demover o presidente. Participaram da operação, que entrou a madrugada,
ministros militares, o governador Ronaldo Caiado (DEM-GO) e o presidente do
Senado, Davi Alcolumbre.
A percepção de que a agudização
da crise seria intolerável, mesmo para os padrões do governo Bolsonaro, levaram
por fim o presidente a escolher o plano B, o delegado Rolando Souza, que era
subordinado a Ramagem na Abin.
Souza chegou fazendo exatamente o
que Sergio Moro acusou Bolsonaro de querer: mudar a superintendência da PF no
Rio de Janeiro, terra onde são investigadas as relações de seu clã com milícias
e esquemas ilegais.
Além disso, bolsonaristas diziam
nesta segunda-feira (4) que o presidente não desistiu de indicar Ramagem, mas
que ganharia tempo agora com Souza. Situação semelhante ocorre no caso do
Exército. Bolsonaro cogitou no fim de semana a troca do comandante da Força,
Edson Pujol, a quem os filhos do presidente consideram distante da frequência
do pai na condução da crise do coronavírus.
Um eventual substituto, Luiz
Eduardo Ramos (Secretaria de Governo), se mobilizou para dizer que não havia
nada disso no ar quando a Folha de S.Paulo noticiou a possibilidade -que era
aventada talvez para o ano que vem, na reunião que ministros e comandantes
militares tiveram com Bolsonaro no sábado.
Nesta segunda, Ramos voltou a
negar a hipótese, ligou para Pujol e distribuiu uma mensagem chamando a
reportagem de falsa. "Sem mencionar que seria desonroso para mim e total
quebra dos valores que todos nós cultuamos , como antiguidade e
merecimento", disse.
A desconfiança entre setores da
ativa, que não veem com tão bons olhos a associação entre as Forças e o
governo, foi reforçada no episódio. Coube então ao ministro da Defesa, general
Fernando Azevedo, divulgar nota em que todos os lados da questão foram
admoestados.
O problema, como notou um
político próximo da área militar, é que é a segunda vez em menos de um mês em
que Azevedo se vê obrigado a dizer que as Forças Armadas não querem saber de
golpe. É um preço, avalia, que os fardados pagam por sua simbiose com o governo
de Bolsonaro e seus arroubos autoritários.
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