Esquema criminoso que camuflava droga em cargas de frutas do Vale do São Francisco foi descoberto pela Polícia Federal após apreensão de 5,5 toneladas de cocaína
Por: André Duarte
Após realizar a segunda maior apreensão de cocaína da história do Brasil, tirando de circulação 5,5 toneladas da droga em três estados nordestinos, a Polícia Federal (PF) descobriu que o tráfico internacional de entorpecentes vem sendo novamente irrigado através do polo de fruticultura do Vale do São Francisco. Ao localizar a droga nos estados de Pernambuco, Bahia e Rio Grande do Norte, entre a sexta-feira (23) e o sábado (24), os agentes federais suspeitam que o próspero perímetro do agronegócio, concentrado entre as cidades de Petrolina (PE) e Juazeiro (BA), abriga uma das mais lucrativas rotas do pó no país.
A PF acredita que as centenas de tabletes que estavam sendo transportados em dois caminhões e escondidos em fundos falsos em dois depósitos seriam despachadas ilegalmente para a Europa dentro de bombonas de 200 litros contendo concentrado de frutas. Os recipientes de plástico (com frutas e droga dentro deles) seriam colocados em contêineres refrigerados e exportados em navios como se fossem cargas legais.
Dessa forma, a atividade agrícola seria apenas um investimento de fachada para a organização conseguir levar cocaína até os portos europeus, especialmente na Bélgica, Alemanha e Holanda. “Isso dificulta a fiscalização. Sem contar que as cargas são fiscalizadas na saída dos portos brasileiros por amostragem, o que torna muito difícil achar alguma coisa, já que o fluxo de cargas da fruticultura é muito grande”, explica, por telefone, o delegado federal Fernando Berbert.
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No início da apreensão recorde, cerca de 14 bombonas foram achadas dentro de caminhões flagrados com droga pela polícia em uma blitz na BR-407, em Juazeiro. Já em Petrolina, a cocaína foi achada em um fundo falso, assim como em um galpão em Natal (RN). Três homens foram presos em flagrante, todos caminhoneiros.
Delegado regional de Investigação e Combate ao Crime Organizado da PF da Bahia, Berbert lembra que a cocaína percorre uma longa viagem antes de chegar em solo europeu. O mapa do tráfico começa nas fronteiras do Brasil com o Paraguai ou Bolívia. Escondida em caminhões, a droga geralmente segue até alguma cidade portuária brasileira.
Algo novo
Mas a rota nordestina do pó vem registrado desvios até as cidades do Sertão do São Francisco. “A novidade foi a estrutura que essa organização tinha e o lucro que eles teriam com essa operação”, aponta o delegado, que, por razões estratégicas, evita estipular valor de revenda dos mais de 5 mil quilos de cocaína no inflacionado mercado ilegal gringo.
Não é a primeira vez que a PF comprovou a utilização da fruticultura irrigada para exportação de produtos que iam além de mangas e uvas frondosas. Em agosto de 2007, os agentes federais deram uma batida nas instalações da Fazenda Mariad, em Juazeiro, como parte da Operação São Francisco. A investigação federal descobriu que a fazenda era usada como fachada para o tráfico internacional e tinha como chefe o colombiano Gustavo Duran Bautista, apontado como um forte articulador do Cartel do Norte, de Juan Carlos Ramírez Abadía, também preso.
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