quarta-feira, 3 de outubro de 2018

Luta política irá levar Haddad ao segundo turno e pode dar a vitória

Ricardo Stuckert

Quando faltam quatro dias para o primeiro turno da eleição presidencial, os principais sinais da campanha apontam para a passagem de Fernando Haddad para a segunda fase da eleição.
 Ficando nos grandes números.Se uma decisão em primeiro turno exige  de 50% + 1 dos votos válidos, Bolsonaro atingiu 31% das intenções de voto, contra 54% na soma dos adversários.  
Seu crescimento nos últimos dias não deve confundir as coisas. A eleição segue em disputa, talvez a mais dramática em tempos recentes. Máquina de chegada, com 24% de aprovação popular, nestas horas o Partido dos Trabalhadores costuma desempenhar um papel decisivo num debate político dada vez mais necessário -- e irresistível, do ponto de vista dos interesses da maioria. 
Um ponto essencial é mostrar que, por trás da imagem cultivada de "anti-sistema", Bolsonaro é o candidato a dar continuidade ao governo Temer, "só que mais rápido", disse Paulo Guedes à Globonews. Isso quer dizer que irá correr nas privatizações, atacar a Previdência -- já tenta um acordo com Temer para fazer isso antes do fim do ano -- e cortar investimentos públicos. Também planeja reduzir direitos sociais, bandeira sagrada, como demonstra a insistência do vice Hamilton Mourão em denunciar o 13o. salário, contrariando instruções do próprio Bolsonaro, no clássico esforço de manter as aparências enquanto o eleitor ainda pode mudar de ideia. Pela venda, leilão e doações disfarçadas, a proposta é entregar R$ 2 trilhões ao setor privado. 
Como se não bastasse a reforma trabalhista de Temer, que eliminou 80 anos de CLT e que Bolsonaro aprovou com seu voto e pretende manter sem correções nem ajustes, a nova ideia é acabar com a própria carteira de trabalho -- a ser substituída por contratos individuais,  entre patrões e empregados como se fossem partes iguais, com a mesma força econômica e poder de barganha. Algo comum no universo PJ mas desconhecido entre trabalhadores assalariados, com direitos garantidos coletivamente. O plano de reforma tributária é simples e direto: consiste em elevar o imposto dos pobres e diminuir ainda mais o pouco que é pago pelos ricos, quebrando qualquer possibilidade de que um sistema progressivo possa  ajudar a diminuir a desigualdade estrutural do país.
Embora adore apresentar-se em companhia de símbolos nacionais, a começar pela bandeira,  Bolsonaro é integrante daquele setor das Forças Armadas para quem o nacionalismo e apego a soberania é um exercício retórico para datas comemorativas. Herança do anti-comunismo primitivo, que levou ao golpe de 64 e em 1965 enviou tropas brasileiras para combater um governo de esquerda na República Dominicana, o anti-petismo dos discursos de Bolsonaro é parte de uma postura de submissão aos grandes interesses estratégicos norte-americanos nascida nos tempos da Guerra Fria. Essa visão, que nada tem de nacionalista,  tornou-se hegemônica  com  ditadura de 64 e nunca foi questionados de verdade.
A grande força política-empresarial de sua campanha não tem raízes no país, mas é uma organização própria das economias globalizadas. É o Millenium, instituto de milionários e bilionários transnacionais que atua nos bastidores da vida brasileira, com patrocínios para influenciar jornalistas e recrutar jovens para a atuação política, inclusive pela oferta de bolsas no exterior. São os estrategistas do Estado Mínimo e operam em escala máxima na campanha presidencial de 2018, quando a prioridade 0 é impedir por todos os meios a vitória de qualquer candidatura envolvida com as necessidades dos trabalhadores e da população explorada.
 Um dos mais ativos aliados de  Bolsonardo, o empresário Luciano Hang, dono da empresa Havan, gigante do varejo com 112 lojas, cerca de 12 000 funcionários, faturamento de R$ 4,7 bilhões,  está sendo processado pelo Ministério Público do Trabalho. Numa empresa que tem como símbolo a Estátua da Liberdade, Luciano Hang é acusado de não respeitar os direitos de seus funcionários e coagir os trabalhadores a votar no candidato do PSL. O argumento empregado é que "se a esquerda ganhar", fechará lojas e demitirá empregados. É escandoloso mas didático, pois permite compreender o tempo histórico no qual o Brasil pode ser conduzido pelos aliados de Bolsonaro.  
   É preciso voltar ao país tempos da Republica Velha, anterior a Revoluçãoi de 1930, para encontrar uma situação semelhante. A elite usava casaca e cartola, a população se amontoava como podia e as greves de trabalhadores eram enfrentadas à bala. Descrevendo as eleições daquele período, uma entidade chamada Coligação Operária de Santos denunciou os esquemas de pressão das empresas sobre trabalhadores durante as eleições.
"Não existe eleitorado livre e independente," registra texto, recuperado pelo historiador Dainis Karepovs no livro "A Classe Operária Vai ao Parlamento ". Ali se diz: "a grande maioria do eleitorado está toda segura e ligada por intermédio dos cabos eleitorais que são ao mesmo tempo os chefes das empresas onde o eleitor trabalha". Descrevendo uma cena habitual, num tempo em que o voto estava longe de ser secreto, mas consumado a vista de todos que estavam por perto, o documento diz que: "à porta de cada seção eleitoral fica um individuo com a lista dos eleitores que votam, assinalando com uma marca à lápis os que votam neste ou naquele partido. " Por esse sistema,  "os eleitores sabem perfeitamente" que quem votar contra a orientação da chefia "estará despedido no seguinte".
 Boa parte dos aspectos mais nocivos da candidatura Bolsonaro pode manter-se longe do olhar dos eleitores em função de um imprevisto que mudou a campanha eleitoral como um todo.
 Vitima de um atentado criminoso, pode manter-se longe de debates entre candidatos que seriam um fator inevitável de contenção, críticas e confrontos a seu crescimento. Passou os últimos dias do primeiro turno em situação mais do que favorável do ponto de vista eleitoral. Pode ficar de mãos livres para reforçar a auto-mistificação que acompanha sua campanha presidencial e sua vida pública há bastante tempo.
Em vez de ser contestado e forçado a dar explicações no ambiente todos-contra-um que marca todo encontro presidencial com a presença de um líder das pesquisas,  atendeu jornalistas aliados que disputaram a chance de lhe fazer perguntas de pai para filho. Mesmo de longe, contou com mãos amigas para reforçar o cerco a Haddad nos últimos dias, inclusive num debate no qual incontroláveis ambições pessoais  uniram-se no esforço para dificultar os movimentos  daquele que, com todas as virtudes e defeitos, já ocupava a condição de único adversário em condição de enfrentar uma  candidatura anti-democracia.
Num cenário político construída por Fernando Henrique Cardoso numa Carta a Eleitoras e Eleitores de duas semanas atrás, a campanha segue a dinâmica de uma fantasia ideológica cuja finalidade consiste em rebaixar Haddad, colocando-o no mesmo patamar que Bolsonaro. Desonesta até a medula no que diz respeito ao candidato do PT, cuja moderação chega a ser alvo de mal-estar entre vários aliados, essa versão tenta sustentar a noção de que a eleição se resume a um conflito entre duas candidaturas radicais e extremistas. O efeito prático deste raciocínio é previsível. Nivelando por baixo forças e opções inteiramente desiguais, acaba-se  beneficiando o pior, realmente perigoso e ameaçador -- em benefício de Bolsonaro, como vem acontecendo nos últimos dias, num processo que provocou um alerta do empresário Ricardo Semler, em artigo publicado na Folha: "Colegas de elite, acordem. Não se vota com bílis. O PT errou sem parar nos 12 anos, mas talvez queira  e possa mostrar, num segundo ciclo, que ainda é melhor do que o Centrão megacorrupto ou uma ditadura autoritária. Foi assim que a Europa inteira se tornou civilizada".247

Blog do BILL NOTICIAS

Maioria dos americanos desaprova gestão de Trump na economia, diz pesquisa

  Pesquisa da CBS News mostra queda de quatro pontos nos índices de apoio às políticas econômicas do ex-presidente Presidente dos EUA, Donal...