Lé Figaro
O otimismo, a esperança e a benevolência em relação a si mesmo são recursos que todos nós possuímos em maior ou menor dose. Devem ser constantemente cultivados se quisermos viver felizes.
Por: Pascale Senk - Le Figaro Santé
O sentimento de ser feliz tem origem, essencialmente, em uma maneira de pensar. É o que procura demonstrar a psicologia positiva, uma corrente da psicologia que começou a ser difundida a cerca de dez anos. Antonia Csillik, psicóloga clínica e mestra na Universidade Paris Nanterre, explica que, nessa abordagem, o bem-estar é considerado essencialmente um fenômeno subjetivo. "É a própria pessoa quem está mais capacitada para avaliar o seu nível de felicidade. Mas certos traços estáveis de personalidade, ou de recursos e capacidades positivas, lhe permitirão manter esse estado", afirma a psicóloga. Antonia acaba de publicar o livro Les Ressources psychologiques: apports de la psychologie positive (Os recursos psicológicos: contribuições da psicologia positiva), Edições Dunod.
Na verdade, atualmente, a cada semana um novo estudo é publicado para provar, cientificamente, aquilo que antes era percebido de maneira intuitiva pela maior parte das pessoas. Exemplos: foi demonstrado que uma experiência agradável repetida proporciona menos prazer do que uma primeira "experiência". Da mesma forma, está comprovado que atividades realizadas com outras pessoas proporcionam mais prazer e alegria do que as coisas que praticamos sozinhos...
"Cursos de felicidade" e "cursos de bem-estar" inteiramente dedicados a esta cultura da felicidade - os métodos, meios e modos para que consigamos alcança-la - não param de serem oferecidos e espalhados em todo o mundo. Há poucas semanas, a Universidade de Yale, nos Estados Unidos, revelou que um novo curso batizado de Psychology and the Good Life («psicologia e vida feliz»)*, ministrado pela professora Laurie Santos, tinha atraído cerca de 1200 inscritos, ou seja quase um quarto do número total de estudantes de primeiro ciclo!
Benevolência em relação a si mesmo
Diante de um aumento espetacular dos casos de depressão e de distúrbios de ansiedade nas universidades norte-americanas - muito competitivas e exigentes -, algumas instituições de ensino superior, como é o caso da Yale, decidiram oferecer aos estudantes uma iniciação à realização pessoal. Tratam-se, como regra geral, de ensinamentos que retomam sugestões formuladas pela psicologia positiva e destinadas a promover mudanças de estado de espírito. Na lista dessas sugestões figuram, em primeiro lugar, posturas tais como experimentar e exprimir mais gratidão, renunciar ao adiamento de projetos e à concretização de decisões tomadas, conduzir uma vida social mais rica e movimentada. Na metodologia desse ensinamento, cada estudante deverá apresentar o seu "projeto pessoal de auto-melhoria".
Mas, para ser feliz, quais recursos e capacidades pessoais terão de ser cultivados? Entre as mais evidentes, o otimismo e a esperança, já citados aqui. Mas outras forças agora ganham evidência cada mais mais acentuada. A primeira constitui a aceitação de si mesmo, e dos acontecimentos e situações que nos são trazidos pela realidade. Com destaque para a benevolência em relação a si mesmo - que Antonia Csillik distingue da auto-estima, esta última muito cotada durante os anos 1990. «A ideia da auto-estima, como nos era apresentada, implicava em uma certa comparação social e levava ao narcisismo", considera a pesquisadora. A benevolência em relação a si mesmo, ao contrário, leva à aceitação do fato de que não somos perfeitos.
Outro recurso: a tendência à atenção consciente, que nos incita a sermos "plenamente atentos e conscientes daquilo que se passa no instante presente". Essa tendência seria inata. "A disposição para o estado de "mindfulness" (mente plena) teria origens genéticas", explica Antonia Csillik. "Ela permite uma autorregulação das emoções e dos sentimentos negativos, e está plenamente conectada ao sentimento de bem-estar".
Para aqueles que não se sentem dotados desse atributo desde o nascimento, nada de pânico! Certas práticas o favorecem amplamente: a meditação e as terapias fundamentadas no mindfulness, as atividades físicas, a atenção levada à respiração - todas elas são bastante propícias. Natação, caminhadas, ioga... Se a pessoa pratica tais exercícios e esportes (que não implicam em nenhum desejo de competição) ao mesmo tempo em que regula o ritmo de sua respiração, ela pode se tornar uma pessoa meditativa e os bons resultados dessa transformação se difundem em todos os aspectos do quotidiano do praticante.
Para os adeptos da psicologia positiva, o segredo da felicidade reside portanto ao mesmo tempo nas disposições naturais (os mais sortudos!) e na capacidade de desenvolver aquilo que ainda lhe falta.
(*) Nota da Redação - A psicologia positiva é um movimento recente dentro da ciência psicológica que visa a fazer com que os psicólogos contemporâneos adotem uma visão mais aberta e apreciativa dos potenciais, das motivações e das capacidades humanas, enfatizando mais a busca pela felicidade humana do que o estudo das doenças mentais. Essa nova corrente considera que uma personalidade emocionalmente equilibrada, em vez de uma neurótica, correlaciona-se bem com a felicidade. A estabilidade emocional protege a pessoa contra as emoções negativas e prevê uma inteligência social mais elevada. Isso ajuda a gestão de relacionamentos com outras pessoas, que é uma parte importante do ser feliz. O desenvolvimento de um temperamento extrovertido pode corresponder com a felicidade pela mesma razão: ele constrói relacionamentos e grupos de apoio.(Saúde247).
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