A produção agropecuária fechou 2017, com base nas informações do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, com uma receita de R$ 533,5 bilhões, 1,6% acima do valor de 2016. Um dos segmentos que mais contribui para o setor é a agricultura familiar, que traz desenvolvimento e expansão para a economia brasileira.
Dados da Secretaria Especial de Agricultura Familiar e do Desenvolvimento Agrário apontam que o Brasil possui aproximadamente quatro milhões e quatrocentas mil famílias agricultoras, o que representa 84% dos estabelecimentos rurais brasileiros. A agricultura familiar é econômica: vem dela 38% do valor bruto da produção agropecuária. Além disso, o setor responde por sete em cada dez postos de trabalho no campo.
Outro benefício trazido pela agricultura familiar é o cuidado com o meio ambiente, principalmente através das Áreas de Preservação Permanentes, as APPs. Durante o Fórum Mundial da Água, que acontece em Brasília, o ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Blairo Maggi, propôs que seja incluído no documento final do encontro um compromisso entre os países participantes para estimular a preservação da vegetação nativa em margens de rios e nascentes. Maggi aproveitou a oportunidade para ressaltar que a legislação brasileira já prevê a preservação ambiental. Também aproveitou para descontruir, segundo ele, “alguns mitos que giram em torno da produção agropecuária e o gasto de água”.
“A água é reciclada no processo. Não há a exportação de água, conforme alguns falam. Por exemplo, fala-se que precisa de 15 mil litros de água para fazer um quilo de carne. E não é verdade, isso é uma lenda urbana. Uma coisa que começou a ser dita e continua sendo dita sem nenhuma explicação científica para isso. A verdade é que um quilo de carne, não leva um quilo de água”, exemplificou.
O ministro fez questão de explicar que o Brasil é um grande produtor agrícola e “usa na irrigação muito pouco da água subterrânea ou da água de rios”. De acordo com o presidente da Embrapa, Maurício Lopes, a tecnologia é uma aliada tanto na preservação dos recursos naturais quanto no desenvolvimento de modelos sustentáveis de produção. “Então, como reconciliar essas duas vertentes? A vertente da natureza, que demanda água, e a vertente da produção agropecuária, que demanda água. Acho que a boa notícia que vem do Brasil chama-se tecnologia. O Brasil há 40 anos fez a opção pelo desenvolvimento de um modelo de agricultura fortemente baseado em ciência”, explicou.
Dados da Agência Nacional de Águas (ANA) indicam que o Brasil está entre os 10 países com maior área irrigada no mundo, com 7 milhões de hectares irrigados, mas que corresponde a apenas 10% da área plantada. A agricultura familiar, por exemplo, é responsável pela produção de mais de 50% dos alimentos da cesta básica brasileira, segundo a Secretaria Especial de Agricultura Familiar e do Desenvolvimento Agrário. Pela legislação, é exigido que os produtores brasileiros preservem 20% do território nacional, contribuindo para a conservação dos recursos hídricos e da vegetação nativa de suas áreas.
Produção sustentável
A agricultura familiar no Brasil exerce um importante papel como principal fonte de abastecimento de alimentos do mercado interno. Apesar de representar uma significativa parcela na produção nacional, os agricultores familiares ainda carecem de sistemas de produção apropriados à capacidade de investimento, ao tamanho de suas propriedades rurais e ao tipo de mão-de-obra empregada.
Uma das saídas que pode trazer vantagens econômicas e ambientais para os agricultores familiares é a técnica denominada agrofloresta ou sistema agroflorestal (SAF). Segundo Maurício Lopes, o sistema é planejado para permitir colheitas desde o primeiro ano de implantação, de forma que o agricultor obtenha rendimentos provenientes de culturas anuais, hortaliças e frutíferas de ciclo curto, enquanto aguarda a maturação das espécies florestais e das frutíferas de ciclo mais longo.
Assim, o maior número de produtos disponíveis para comercialização em diferentes épocas do ano e ao longo do tempo, incrementa a renda e aproveita melhor a mão-de-obra familiar. Além disso, ele afirma ainda que a prática agroflorestal já é adotada em 25% das propriedades rurais brasileiras. “O Brasil vem experimentando muito com o conceito da agroflorestal. Nós temos, agora, eu acredito, uma revolução no Brasil, que é a intensificação através do uso dos sistemas integrados, integrando lavoura e pecuária, lavoura, pecuária e floresta, e diferentes combinações de sistemas integrados que já perfazem cerca de 12 milhões de hectares do Brasil.”
Capacitação
Desde 1999, a Embrapa oferece cursos presenciais de sistemas agroflorestais, destinados à produtores rurais, pesquisadores, professores e técnicos extensionistas. A partir de 2016, o órgão passou a mapear e estimular agroflorestas nas regiões Sul e Sudeste. No Rio de Janeiro, há exemplos dessa prática em municípios como Paraty e Silva Jardim. Nos locais, arbustos e árvores se unem a uma variedade de frutos, que vão desde limão, açaí, manga e acerola até caju, banana e laranja. O que comprova, na prática, o objetivo do modelo agroflorestal: a possibilidade de cultivar sem desmatar.
Outra problemática que também afeta os agricultores familiares é a gestão da água, recurso que é a base da produção no campo. Na visão do presidente da Associação Brasileira das Entidades Estaduais de Assistência Técnica e Extensão Rural (Asbraer), Luiz Hessmann, o consumo hídrico dos agricultores familiares é indispensável. Ele também reforça a necessidade de haver equilíbrio entre as áreas rural e urbana.
“O meio rural preserva ‘muito bem, obrigado’ as águas. O que nós precisamos muito seriamente é com o urbano, que está dando alguns problemas. E a água para nós na agricultura é de fundamental importância, é um case de sucesso em qualquer atividade na pecuária ou na agricultura”, afirmou ele.
A agrofloresta, segundo a Embrapa, tem como característica marcante a reciclagem mais eficiente dos nutrientes. A biomassa depositada no solo pela queda de folhas, pela poda de ramos e por resíduos das culturas anuais, por exemplo, melhora a oferta de nutrientes dos cultivos e favorece a atuação de microorganismos benéficos ao solo.
A dica para agricultores familiares é observar qual cultura será produzida e em qual região. A indicação é que se utilize espécies forrageiras perenes, como alfafa e capim, quando houver criação de animais. A Embrapa garante ainda que esse sistema de produção é uma opção viável para os produtores rurais, já que contribui para a diversificação de produtos e a sustentabilidade ambiental. Além disso, a prática agroflorestal incrementa a fertilidade do solo e reduz os custos de produção.
Se você quiser saber mais sobre esse tipo de produção sustentável, procure a Embrapa no seu estado ou na sua região. São mais de 60 unidades espalhadas pelo Brasil. Para ver a lista de locais e endereços completos, acesse embrapa.br. (C.Geral).
Blog do BILL NOTICIAS