quarta-feira, 29 de outubro de 2025

Moradores protestam contra execuções na comunidade Vila da Penha


O empreendedor Raull Santiago fez um desabafo. 'A desigualdade grita e o poder direciona o seu ódio numa prática o mais brutal possível'

Rio de Janeiro (RJ), 29/10/2025 - Moradores protestam contra execuções na comunidade da Vila da Penha, alvo da Operação Contenção. No carro está escrito 'organize seu ódio' (Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil)

Ativistas que acompanharam a retirada de mais de 60 corpos de uma área de mata no Complexo do Penha, um dia após a maior operação policial realizada no Rio de Janeiro nos últimos 15 anos, classificam o evento como uma “chacina” e um “massacre” promovidos por forças de segurança. O governo do estado do Rio contabilizou 121 mortos após a operação na zona norte da capital.

O empreendedor Raull Santiago, nascido no Morro do Alemão, foi um dos primeiros a noticiar o encontro dos corpos. Ele usou transmissões ao vivo pelas suas redes sociais. “Essa é a face da cidade maravilhosa, que é capital na América Latina quando a gente pensa em turismo. E eu amo a minha cidade, o meu estado, a minha favela, mas há esses momentos em que a desigualdade grita, o poder direciona o seu ódio e traz na prática mais brutal possível o seu recado para quem vive em comunidades como a nossa”, lamentou.

“Infelizmente, pela minha realidade, eu já estou acostumado a ver corpos, baleados, estraçalhados. Mas, [com] isso aqui, eu nunca vou me acostumar”, disse Raull Santiago sobre o choro das mães diante dos corpos de seus filhos.

“Tanto essas execuções, quanto os policiais que morreram, tudo isso [são] marcos históricos que gritam a ineficiência da política de segurança pública do Rio de Janeiro. Ou, pior que isso, a eficiência dela, a forma como ela é desenhada, estruturada, pensada e aplicada para lidar com algumas vidas", afirmou Santiago. "Da favela para dentro, tiro, porrada, bomba, invasão, desrespeito, chacina, massacre. Em outros endereços, o tratamento é quase vip”, criticou.

Punição

O presidente da organização não governamental Rio de Paz, Antônio Carlos Costa, também acompanhou a retirada dos corpos e pediu responsabilização do governador do estado, Cláudio Castro, pela tragédia. Ele lembrou, entretanto, que esse episódio se assemelha a muitos outros já ocorridos no estado.

“O que há de novo nesse massacre? Apenas a sua extensão, a quantidade de mortos… O que não há de novo é essa política de segurança pública, a destruição da vida do morador de comunidade. Quando ouvimos as respostas sobre a operação, ouvimos o que foi falado há 40, 50 anos atrás", lamentou.

"As causas desse gravíssimo problema social já foram elucidadas, mas por que medidas tão óbvias não são implementadas? Porque falta vontade política. Porque quem morre são os moradores de comunidades e porque são eleitos homens que conseguem chegar aos mais altos postos com o discurso do “bandido bom é bandido morto”, completou o presidente da ONG Rio de Paz.

Federação das favelas

Movimentos populares e de favelas também condenaram as ações policiais e afirmaram que "segurança não se faz com sangue". A Federação das Associações de Favelas do Rio de Janeiro (Faferj) divulgou nesta quarta-feira (29) uma carta pública de repúdio contra o que foi chamado de “massacre dos Complexos da Penha e do Alemão”.

“Os relatos de horror que emergiram dessas comunidades – com cenas de guerra, execuções sumárias, violação de domicílios, impedimento de socorro a feridos e a total suspensão dos direitos mais básicos – não são incidentes isolados. São a face mais crua de uma política de segurança pública falida e genocida, que há décadas trata as favelas e seus moradores como territórios inimigos e cidadãos de segunda categoria”, diz o documento.

A Faferj também manifestou indignação por acreditar que a vida dos moradores das favelas está sendo tratada como “dano colateral em operações que, sob o pretexto de combater o crime, semeiam terror, luto e trauma coletivo.” Diz assim que a política de segurança atual apenas “aprofundou o abismo social, naturalizou a violência de Estado e perpetuou um ciclo de morte que só interessa ao projeto de extermínio da população pobre e negra deste país.”

Além das palavras de repúdio, o documento traz também reivindicações da organização, como a “desmilitarização das abordagens policiais nas favelas” e a construção de uma nova política de segurança pública pautada pelo cuidado e pela garantia de direitos.

Para a Federação, um “sistema que funcione” precisa contemplar também políticas de educação, com escolas em tempo integral, lazer, com a criação e manutenção de espaços de convivência e cultura.

A Faferj reivindica ainda medidas de emprego e renda, como capacitação e criação de vagas formais, e de habitação, como saneamento básico, urbanização e regularização fundiária. “Segurança se faz com presença do Estado, não com invasão. Com políticas sociais, não com políticas de morte. Com vida digna, não com luto permanente”.

Organização das Nações Unidas (ONU) e outras entidades fizeram críticas à maneira como aconteceu a operação policial contra a facção criminosa Comando Vermelho (CV), que nasceu no estado na década de 70. Atualmente, o CV conta com forte poderio econômico e tem ramificações em mais de 20 estados brasileiros.

Ações

procurador-Geral da República, Paulo Gonet, pediu ao Supremo Tribunal que determine ao governo do Rio de Janeiro a prestação de 11 esclarecimentos solicitados pela PGR. O Ministério da Justiça e Segurança Pública, chefiado por Ricardo Lewandowski, detalhou como a pasta está gerenciando a situação com o Executivo estadual.

prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, afirmou que a prefeitura continuará trabalhando “com autoridade, comando e firmeza” para proteger a população. O chefe do Executivo municipal também comentou sobre a prestação de serviços na cidade.

No Congresso Nacional, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), determinou nesta terça (29) a instalação da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Crime Organizado, após a chacina no Rio (com Abr). - 247.


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