Grandes projetos de infraestrutura serão contemplados pela parceria estratégica
Os governos do Brasil e da China lançam hoje uma parceria de investimentos que evita a adesão formal à Iniciativa Cinturão e Rota, popularmente conhecida como Rota da Seda. Nesta quarta-feira (20), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente chinês Xi Jinping anunciarão o plano conjunto durante a visita de Estado em Brasília, marcando uma etapa que busca promover investimentos estratégicos e proteger o Brasil de desgastes geopolíticos.
A decisão de lançar um projeto de sinergias, sem adesão oficial à Rota da Seda, reflete o esforço do governo brasileiro em equilibrar suas relações com potências globais, como Estados Unidos e China. Celso Amorim, assessor especial da Presidência, explicou: “A gente quer a sinergia. Se para ter a sinergia eles têm que chamar de Cinturão e Rota, não tem problema. O que interessa são os projetos que têm essa sinergia”. O enfoque está em manter autonomia e flexibilidade para escolher os projetos de interesse prioritário ao Brasil, segundo aponta reportagem de Felipe Frazão, no Estado de S. Paulo.
Desde o lançamento da Belt and Road Initiative por Xi Jinping, em 2013, a China tem mobilizado mais de US$ 1 trilhão em investimentos, conectando regiões como Ásia, Europa, África e América Latina. Embora 151 países tenham aderido formalmente, o Brasil, ao lado de Colômbia e Paraguai, preferiu manter-se à margem. Para o governo Lula, a adesão ao projeto poderia ser interpretada como uma submissão a normas políticas e acordos de confidencialidade, algo incompatível com a legislação brasileira.
Nos bastidores, embaixadores e diplomatas brasileiros discutiram as implicações de uma adesão formal. “Quanto mais você se aproxima da China, mais deixa de ter apoio em outros cantos. O Brasil precisa calibrar suas atitudes para não se desacreditar junto a outros países”, afirmou um embaixador sob anonimato.
Interesses estratégicos e projetos futuros
A parceria Brasil-China contempla pelo menos 50 projetos bilaterais, com destaque para investimentos em infraestrutura, tecnologia e inteligência artificial. Entre as propostas está o desenvolvimento de combustível de aviação sustentável (SAF) e a ampliação de rotas de transporte que conectem o Brasil aos seus vizinhos sul-americanos. O Palácio do Planalto, inclusive, propôs à China um fundo para a recuperação de pastagens degradadas, parte de sua agenda ambiental.
Apesar de ainda haver incertezas sobre a venda de 20 aeronaves Embraer a empresas chinesas, sinalizando que a negociação não se concluiu na visita de abril de 2023 de Lula a Pequim, a expectativa é que os projetos discutidos impulsionem um novo patamar na relação bilateral.
A pressão das potências e a busca pela independência
A diplomacia brasileira enfrenta o desafio de equilibrar as relações com a China e os Estados Unidos, especialmente em um cenário de disputas geopolíticas. Autoridades norte-americanas, como o embaixador Brian A. Nichols, alertaram sobre os riscos dos investimentos chineses, mencionando uma “armadilha da dívida”. Por outro lado, a embaixada chinesa rebateu as críticas americanas, classificando-as como “irresponsáveis”.
A postura brasileira, de evitar o alinhamento a uma única potência, reforça a tradição de não-alinhamento do País. Lula destacou essa abordagem: “Não vamos fechar os olhos à Rota da Seda”, afirmou, sublinhando a importância de uma avaliação cuidadosa dos benefícios e riscos. - 247.
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