quinta-feira, 14 de dezembro de 2017

Chico diz que saída de Temer 'é pouco' e ironiza 'pessoas finas' que o xingam

Pública puxa coro de "fora, Temer" durante show e o cantor desabafa sobre xingamentos que vem recebendo em bairros da elite carioca

Chico Buarque
Chico BuarqueFoto: Divulgação


Não havia muita dúvida de que o momento viria, e aconteceu, ironicamente, logo antes de "Gota d'Água" ("Deixe em paz meu coração / que ele é um pote até aqui de mágoa"): o público que lotou o Palácio das Artes, em Belo Horizonte, para assistir à estreia do novo show de Chico Buarque, na noite desta quarta-feira (13), irrompeu num grande coro de "fora, Temer".

O cantor, que não havia ouvido direito os primeiros gritos, deu corda a seus fãs: "E é pouco", disse em resposta ao coro, à medida que os pedidos pela saída do presidente se avolumavam. "Eu não tava ouvindo bem porque a gente canta com esses fones enfiados no ouvido, agora eu ouvi bem o 'fora, Temer'", disse, após tirar os fones.

Leia também:
Chico Buarque anuncia turnê nacional do disco 'Caravanas'
Entrevista: Jorge Vercillo defende Chico Buarque e saúda nova geração da MPB


Aproveitando o momento, que aconteceu no trecho final do show e foi, de longe, o mais relaxado e informal da sempre tensa noite de estreia, Chico ironizou seus antagonistas da elite carioca, que, segundo ele, o xingam durante suas caminhadas pelo calçadão da praia.

"Acho que agora eu vou passar a usar esses fones permanentemente, porque lá no Rio, nos bairros chiques onde eu ando, volta e meia passam aquelas pessoas finas nos seus carros grandes e gritam 'viado, filho da puta!', 'viado, vai pra Cuba', 'vai pra Paris, viado'. O único consenso é o 'viado'", disse, rindo e fazendo a plateia rir.

A reação de Chico aos "haters" veio também em forma de música, em certos pontos do show, um deles logo no início. Após um breve problema técnico que retardou a abertura das cortinas, o artista começou a apresentação com uma dobradinha de sambas, emendando o clássico "Minha Embaixada Chegou" (de Assis Valente) com seu "Mambembe".

A eles seguiu-se uma versão mais jazzística de "Partido Alto", com a estrofe final sendo declamada pelo cantor, em tom pausado, forte, quase sem som instrumental, como quem dá um aviso: "Deus me fez um cara fraco / desdentado e feio / Pele e osso simplesmente / quase sem recheio / Mas se alguém me desafia / e bota a mãe no meio / Dou pernada a três por quatro / e nem me despenteio / Que eu já estou de saco cheio".

Foi a senha para uma das muitas explosões de palmas que se ouviram ao longo das 29 músicas do roteiro, que incluiu as nove canções de "Caravanas", o álbum lançado em agosto e que serve de gancho para a turnê. Outro trecho de, digamos, "acerto de contas", foi a sequência que teve a recente "Desaforos" ("Alguém me disse / Que tu não me queres / E que até proferes / desaforos pro meu lado") e o sucesso "Injuriado" ("E agora não há francamente / Motivo pra você me injuriar assim").

Saudoso do ídolo, que não fazia shows individuais há cinco anos, o público que lotou os cerca de 1.600 lugares do teatro mineiro gritou elogios e juras de amor nos intervalos das canções e relevou os não poucos problemas técnicos e as falhas do cantor -que, por exemplo, esqueceu-se da letra de "Sabiá", uma de suas duas parcerias com Tom Jobim presentes no roteiro, a outra foi "Retrato em Branco e Preto", inédita em shows de Chico.

Saudações aos parceiros

O espetáculo foi dividido em blocos temáticos e gêneros musicais, abarcando a variedade da obra buarquiana, dos sambas (como "A Volta do Malandro" e "Homenagem ao Malandro") aos blues (a nova "Blues pra Bia" e "A História de Lily Braun", emendada com "A Bela e a Fera", ambas parcerias com Edu Lobo para "O Grande Circo Místico"), passando pelos boleros -com a popularíssima versão de "Iolanda", do cubano Pablo Milanés, seguida pela nova "Casualmente", parceria com o baixista Jorge Helder, com letra bilíngue falando de Havana e composta para a cubana Omara Portuondo.

Cortês como de hábito, Chico saudou cada um dos muito parceiros cujas composições interpretou: Helder (o único presente, na banda), Jobim, Edu Lobo, Cristóvão Bastos -as duas parcerias com este, a propósito, formaram o momento mais bonito e romântico da noite: "Todo o Sentimento" e "Tua Cantiga".

O astro guardou suas maiores deferências, no entanto, para dois trechos especiais. O primeiro, ao interpretar a valsa "Massarandupió", "do meu parceiro mais amado, Chico Brown, meu neto Chiquinho", que estava presente, na plateia, ao lado da irmã Clara Buarque ("Que também canta no meu disco", como lembrou o avô).

O segundo foi ao apresentar a banda que lhe acompanha há anos -o maestro, arranjador e violonista Luiz Claudio Ramos, João Rebouças (piano), Bia Paes Leme (teclados e vocais), Chico Batera (percussão), Jorge Helder (contrabaixo), Marcelo Bernardes (flauta e sopros)-, quando lembrou da ausência do veterano sambista e baterista Wilson das Neves, morto em agosto (Jurim Moreira assumiu as baquetas). "Esse show é dedicado ao nosso companheiro de tantas viagens, tantos palcos, tantos camarins, tantos momentos felizes. A bênção, Wilson das Neves", disse, antes de vestir um chapéu Panamá (como os que caracterizavam o velho sambista) e arriscar inclusive uma sambadinha ao interpretar "Grande Hotel", parceria de ambos. "Saravá, chefia!", gritou Chico ao fim.

Já se encaminhando para o fim do show, Chico viu sua voz falhar ao começar "As Caravanas", obrigando-o a reiniciar a música -na qual a percussão de Chico Batera e o beatbox de Marcelo Bernardes deram um tom de pancadão funk, como no disco. "Estação Derradeira", uma de suas muitas homenagens à Mangueira, foi emendada com um trecho da canção de abertura, fechando o círculo do roteiro: "Minha embaixada chegou / meu povo deixou passar / ela agradece a licença que o povo lhe deu para desacatar". No bis, com a plateia de pé e próxima ao palco, Chico cantou duas favoritas dos fãs, "Geni e o Zepelin" e "Futuros Amantes".(Folhape).



Blog do BILL NOTICIAS

Lula e Xi Jinping estreitam laços com a assinatura de 37 acordos bilaterais entre Brasil e China

  Acordos abrangem mais de 15 áreas estratégicas, como agronegócio, tecnologia, saúde, educação, infraestrutura e energia Presidente da Repú...