Em entrevista exclusiva à TV 247, o ministro mais forte do regime militar e um dos mais influentes conselheiros dos governos Lula e Dilma, além de interlocutor frequente do governo atual, Delfim Netto disse que a crise da carne vai acabar quando o Brasil der um desconto aos importadores; “Eles vão continuar comprando. É uma questão de preço”; Delfim conta por que Dilma caiu e por que se afastou dela: “A Dilma fez em 2011 um excelente governo. No começo de 2012 teve uma mudança na sua forma de pensar e começou a cometer erros dramáticos”; Não economiza elogios a Lula: “O Lula é um gênio! O Lula é um diamante bruto! É ilusão pensar que o Lula é um falecido”; para ele, Moro deu um “tiro mortal”
na nomeação de Lula na Casa Civil, “que teria mudado a história do Brasil”; e agiu como censor no caso do blogueiro Eduardo Guimarães: “É evidente que ele exerceu censura. Você ser obrigado a dizer qual é a sua fonte”
Nessa
entrevista exclusiva à TV 247, ao editor-responsável do 247, Leonardo Attuch, e
ao colunista Alex Solnik, o ministro mais forte do regime militar e um dos mais
influentes conselheiros dos governos Lula e Dilma, e interlocutor frequente do
governo atual, Delfim Netto disse que a crise da carne vai acabar quando o
Brasil der um desconto aos importadores.
“Eles vão continuar comprando. É uma questão de preço. O chinês
vai continuar comprando, mas vai pedir 10% de desconto. É o que vai acontecer”,
disse. Os fiscais praticaram corrupção: “Sobre isso eu acho que não há a menor
dúvida. É que o cidadão mora dentro de um frigorífico... no fim ganha umas
perninhas de frango de presente”...
Delfim conta por que Dilma caiu e por que se afastou dela: “A
Dilma fez em 2011 um excelente governo. Um excelente governo! Cresceu 3, 9; a
inflação foi 5,6. Reduziu a relação dívida-PIB. A Dilma no começo de 2012 teve
uma mudança na sua forma de pensar e começou a cometer erros dramáticos”.
Para ele, embora as “pedaladas” fossem muito mais sérias do que
costumavam ser, “em condições normais de pressão e temperatura, se ela
estivesse tendo sucesso na administração e protagonismo provavelmente dava um
puxão de orelha”. E não um impeachment.
Não economiza elogios a Lula: “O Lula é um gênio! O Lula é um
diamante bruto! Eu sempre disse pro Lula: Lula, tua sorte foi não ter feito a
USP”! “Eu volto a insistir. É ilusão pensar que o Lula é um falecido”.
O estado corrompeu os empresários e não o contrário: “O estado
organizou o cartel! Quem não entrasse no cartel não tinha obra e ponto final”.
Quanto ao caixa 2 nas campanhas ele é taxativo: “Na minha opinião, é o
seguinte: todos eles fizeram exatamente a mesma coisa”.
Acha Temer melhor presidente que Dilma: “Temer é um dos poucos
sobreviventes políticos que faz tricô com quatro agulhas”.
Para ele, Moro deu um “tiro mortal” na nomeação de Lula na Casa
Civil “que teria mudado a história do Brasil”. E agiu como censor no caso do
blogueiro Eduardo Guimarães: “É evidente que ele exerceu censura. Você ser
obrigado a dizer qual é a sua fonte”.
Do alto dos seus 89 anos, desafia os cânones e proclama: “Quem
não bebe e não faz esporte vive mais”.
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O
senhor que já foi ministro da Agricultura pode nos dizer o que aconteceu para o
Brasil ter hoje uma situação de embargo da importação da carne brasileira em
vários países? Como o senhor vê esse problema?
Na verdade, eu vejo isso com muita tristeza, porque levou muitos
anos para o Brasil construir realmente um setor poderoso de produção de carnes
não só bovina, como frango e suína e conquistamos um espaço importante no mundo
pela qualidade do produto. Eu vejo com tristeza, porque esse esforço está sendo
comprometido. Haja o que houver, a competição brasileira nesse mercado vai
sofrer muito. Eles vão continuar comprando. É uma questão de preço. Eu suspeito
que a carne brasileira vai sofrer nos próximos quatro, cinco anos um deságio. O
chinês vai continuar comprando, mas vai pedir 10% de desconto. É o que vai
acontecer.
Ou
seja, se a gente tem um setor que exporta 15 bilhões de dólares por ano a gente
pode perder 1 bilhão, 1,5 bilhão por ano?
Eu acho que vamos perder em preço 1,5 bilhão por ano até
reconquistar a posição. É claro que nossa gente é muito eficiente. Isso não vai
ser brinquedo. Mas, seguramente, os competidores que estavam sendo passados pra
trás, pela eficiência do setor brasileiro, estão hoje muito alegres. Porque vão
reconquistar uma certa posição...
O
senhor se refere aos americanos, aos australianos?
Todos eles. Na verdade, é o seguinte. A exportação de proteína
animal do Brasil produz um incômodo enorme e produziu uma mudança profunda na
estrutura de comercialização no mundo. Isso é um acidente, não há o que fazer,
é impossível negar os fatos. De forma que você tem que conviver com eles.
Quem
mais errou nesse episódio?
Na minha opinião, é o seguinte. Eu acho que podia ter sido feito
com um pouco mais de cuidado. Agora, de qualquer forma, isso não deve ser usado
como desculpa...
(Devido a queda de sinal a
transmissão ao vivo é interrompida.)
Tá com uma ziquizira aí? Acho que tem a Polícia Federal nesse
troço aí...
É
o Moro... é o Moro... esse negócio de criminalizar jornalista é demais... quem
tem que guardar sigilo é o policial, o jornalista tem que dar o furo.
O que ele tá querendo realmente é que ele dê o furo. Aquele
problema de domingo, da Folha, é um negócio brabo...
O
negócio da “coletiva em off” do Janot?
É. Isso tem todo dia às seis
horas, eles se comunicam, o pessoal da Globo às seis horas recebe as
comunicações deles todos... porque, inclusive, eles ficam puxando o saco do...
ô, Solnik, não existe mais jornalista! Só existe comentarista. Ninguém mais dá
uma notícia “olha, aconteceu isso... o sujeito disse isso”... (risada) Quem
acredita, né? O que acontece? Não há mais jornalismo, todo mundo é
comentarista. Ninguém dá aquela notícia...
Pura?
Pura. Todo mundo quer tirar uma consequência da notícia...
Talvez
porque a fonte fale diretamente com a Globo, com a Folha, então eles têm o
monopólio da notícia pura e aos demais só resta comentar.
Eu acho que eles montaram um sistema que tem um teatro. Todo fim
de tarde eles falam com meia dúzia de jornalistas. Alguns são amigos nossos...
você sabe disso.
Jornalista
não tem que guardar sigilo. Ele quer dar o furo. Eles querem pegar o Eduardo
Guimarães para saber se ele informou o presidente Lula antes.
Eu acho esse negócio do Lula um exagero!
Eles
estão promovendo o Lula, o efeito contrário ao que pretendiam.
Eu acho que, no fundo, esse sujeito nunca poderia ter sido
nomeado...
Quem?
O homem do Paraná...
O
Serraglio? O Moro?
Não... o homem da Agricultura...
Ah,
o fiscal Daniel Gonçalves Filho?
Ele já tinha tido inquérito...
O
senhor dizia que os importadores então vão impor um deságio?
Certamente vão impor um deságio. Porque é como funciona o
mercado. A indignação desaparece com um pequeno desconto no preço.
De
10% a 15%?
Estou fazendo uma estimativa...vai levar algum tempo para você
reconstruir a credibilidade que havia. Agora, o sistema é razoavelmente
seguro...de forma que o governo vai ter que agir com muito cuidado, entrar em
contato com essa gente, trazê-los para ver como funciona.
Mas
o senhor falou que houve fatos e fatos não podem ser negados.
Não há o que fazer...
Havia
corrupção dos fiscais?
Sobre isso eu acho que não há a menor dúvida. A natureza... É
que o cidadão mora dentro de um frigorífico... no fim ganha umas perninhas de
frango de presente... Esse tipo de corrupção, na verdade, não implica que você
vai deixar passar problemas que prejudiquem a saúde, mesmo porque nem interessa
à empresa esse fato. Empresas como essas que estão envolvidas qualquer problema
de qualidade é uma destruição.
No
seu tempo de ministro da Agricultura tinha problema com fiscais corruptos?
Deixa eu lhe dizer. O funcionalismo era mais profissional. Num
caso como esse, por exemplo, no regime autoritário o deputado que viesse pedir
para nomear um fiscal estava matando a vida do fiscal.
Pediram
ao senhor alguma vez?
Não, não. Nem pediam porque sabiam que, se pedissem, iam
prejudicar o sujeito. Nunca mais ele ia ser promovido.
Tinha
mais rigor naquela época?
Sem dúvida nenhuma.
Não
faz muito sentido a gente imaginar que um fiscal pudesse ser nomeado pela
bancada federal. A ministra Katia Abreu disse que a presidente Dilma mandou
demitir e a bancada em peso a impediu. Como o senhor vê isso?
O que eu acho é o seguinte. O governo cedeu. Então, é o que eu
digo... contra os fatos não há argumento plausível. Houve, realmente, um certo
lachismo na escolha desses fiscais.
E
a Polícia Federal se comportou bem?
Eu acho que a Polícia Federal iniciou um processo de procura de
corrupção, avançou muito e depois fez uma confusão de informações.
Confusão
na questão sanitária?
Na questão sanitária... porque exige um certo conhecimento
especializado. Agora, eu diria o seguinte. Talvez a teatralidade da operação é
que tenha sido exagerada. O que causou um abalo no mundo.
Gilmar
Mendes tem dito que não é papel de autoridades cavalgar escândalos, como se
eles estivessem disputando holofotes...
No caso... quando você põe mil pessoas numa investigação, dá
impressão do seguinte: que realmente descobriram uma tragédia de proporções
universais...Eu acho que a gente tem que baixar a bola nesse negócio porque o
que interessa realmente são as consequências para o pessoal que vai ser punido,
vão ser postos na rua, vão ser indiciados, processados, agora, o que importa é
corrigir os exageros que produziram essa situação muito delicada para um setor
próspero da economia brasileira. O que mostra também que o setor talvez esteja
com uma concentração demais...
Excesso
de concentração? O modelo do BNDES de favorecer os grandes frigoríficos foi um
equívoco?
Eu acho que uma ideia de criar grandes vencedores
necessariamente não deveria ter produzido esse efeito. Esse efeito foi de
pequenas transigências, mas resta provar, ainda, de fato se algum político se
beneficiava destes fatos. Isso é o que resta provar. A Policia Federal diz que
tem outras provas.
A
Policia Federal não estaria agindo com poder demasiado? Até com abuso de poder?
Isso é uma coisa nova, o Brasil está vivendo isso, tem em todo
lugar do mundo. Não vamos ter ilusão. A Lava Jato é um ponto de inflexão na
história do Brasil. Vai sair um país completamente diferente. As relações
promíscuas entre o setor privado e o estado vão diminuir dramaticamente. Ainda
que no curto prazo ela possa causar alguma perturbação pro crescimento. Não
tenho a menor dúvida. Ela vai terminar. Quando ela terminar o Brasil vai
crescer um por cento a mais por ano o resto da vida.
Então
o senhor avalia que ela pode ter afetado o crescimento nos últimos anos...
É claro que pode ter afetado.
Mas
a longo prazo o efeito é benéfico?
O efeito, num prazo de dez anos, é extremamente benéfico. O país
vai voltar a crescer. Quando voltar a crescer vai voltar a crescer a uma taxa
maior do que cresceria se esse processo de mistura entre capitalismo de estado
e o setor privado não tivesse diminuido.
Alguns
chamam de capitalismo de compadres...
Isso mesmo...eu não tenho a menor dúvida... esse é um
inconveniente que também se chegou a ele por um abuso. Quando você olha, hoje,
o que a adminsitração fez nos últimos anos é um caso realmente de polícia.
Quais
foram os problemas mais graves?
Todos eles. O que se fez na Petrobrás... A Petrobrás não é só a
má administração, é você ter controlado o preço do combustível, isso destruiu
tudo. Esse é o terceiro ano em que os acionistas da Petrobrás não recebem
dividendos.
Ontem
anunciaram 15 bilhões de prejuízo...
As pessoas se equivocam. Alguns milhares de brasileiros fizeram
toda a sua aposentadoria na Petrobrás. A Petrobrás era uma espécie de caixa
de...
De
pecúlio?
De... de...
Poupança?
De poupança. Porque é a confiança da sociedade na Petrobrás. E
com razão. Tecnologicamente, a Petrobrás é uma empresa extremamente avançada, a
Petrobrás sempre esteve ligada a desenvolvimento tecnológico. A Petrobrás foi
destruída por má administração!
O
senhor acha que isso explica boa parte da má vontade da classe média com a
presidente Dilma? As ações da Petrobrás cairam de 60 para cinco reais...
Eu acho o seguinte. A presidente Dilma perdeu o protagonismo.
Foi a perda de protagonismo da presidente Dilma naquele embate na eleição do
presidente da Câmara que diluiu o governo. Dissolveu o governo. É isso que
estimulou grupos a disputarem poder.
A
Lava Jato não influiu nisso também?
A Lava Jato é um produto dos defeitos da administração. O nível
de má administração foi tal que ela tinha perdido completamente o protagonismo.
Mas
a Lava Jato vendeu aos brasileiros a ideia de que o principal problema do Brasil
seria a corrupção. O senhor acha que é o principal problema?
Eu acho que essa é uma interpretação equivocada. A Lava Jato
mostrou o seguinte. Este processo de administração não vai levar a lugar
nenhum. Destruiu o crescimento do Brasil. Para crescer você precisa de
investimento. E exportação. São os dois vetores.
Mas
o senhor durante um bom período foi um dos grandes apoiadores da presidente
Dilma...
Até 2012.
E
quando o senhor acha que ela começou a se perder?
Em 2012.
Mas
por que?
Por uma razão muito simples. É preciso fazer justiça a Dilma. A
Dilma fez em 2011 um excelente governo. Um excelente governo! Cresceu 3, 9; a
inflação foi 5,6. Reduziu a relação dívida-PIB. A Dilma no começo de 2012 teve
uma mudança na sua forma de pensar e começou a cometer erros dramáticos. O
primeiro erro foi a intervenção no setor elétrico. Na verdade, ela não
distingue corrente contínua de corrente alternada. Como é que vai por a mão
naquele setor, fazer aquela tragédia? Aqui eu digo que é preciso fazer justiça
pelo seguinte. Depois da primeira medida que ela tomou, que era errada e que no
fim afastou do governo a mim pelo menos, eu me afastei em dezembro de 2011
quando se fez aquela quadrangulação, um ato de maluquice que transformou dívida
pública em superavit primário. Aquilo mostrou que não tinha mais jeito de
administrar. Mas onde eu digo que tem que fazer justiça a ela? Quando ela
cometeu seu primeiro erro, o que aconteceu com o Data Folha? Subiu 6% a
aprovação. Aí ela vem e comete o segundo erro: manda baixar os juros sem dar
pro Tombini as condições fiscais adequadas. O que aconteceu? A aprovação dela
subiu mais. A Dilma estava no máximo da sua aprovação e no máximo dos seus
erros! A sociedade é cúmplice! A sociedade induziu a Dilma a continuar com seus
equívocos. Todo mundo hoje quer dizer que não. Na verdade a grande lição é que
o sujeito com grande apelo popular em geral tá cometendo algum erro.
O
Lula tá cometendo algum erro?
O Lula é um gênio! O Lula é um diamante bruto! Eu sempre disse
pro Lula: Lula, tua sorte foi não ter feito a USP! “Se você tivesse feito a USP
você ia sair de lá um Aristóteles e você ia perder toda essa sua disposição de
fazer”. O Lula fez um bom governo. O Lula aproveitou uma oportunidade
extraordinária, um ganho nas relações de troca e ampliou a distribuição.
Ele
dividiu o bolo com o bolo crescendo?
Você só pode dividir o bolo com o bolo crescendo! Esse
negócio...
O
senhor já foi muito criticado por essa frase...
Isso é uma invenção do Fernando Henrique quando ele pensava que
era socialista. O que eu digo é o seguinte: você só pode dividir aquilo que
você já produziu, aquilo que você tomou emprestado ou aquilo que você ganhou de
presente. No caso do Lula ele ganhou de presente as relações de troca. Pra ter
uma ideia quando Lula começou o governo uma tonelada de exportação comprava uma
tonelada de importação. Em 2010, uma tonelada de exportação comprava 1400
quilos de importação. Aqueles 400 quilos era um presente externo e ele estava
dividindo aquilo. Cometeram-se outros erros. Por exemplo, quando você usou o
salário mínimo...usar o salário mínimo pra melhorar a distribuição de renda não
é um erro. O erro é você transformar o salário mínimo no indicador, digamos, de
todo o resto. Quando o salário mínimo... o máximo que você pode ter é manter o
seu poder de compra que era corrigido pelo IPCA ou pelo INPC. Quando você
começou a usar o salário mínimo para mudar a distribuição de renda você não
pode mais usá-lo como instrumento de indexação. Mas eu diria o seguinte. Hoje
nós estamos misturando tudo. E o Brasil cresceu nesse período. Há muita paixão
hoje no julgamento. A Dilma perdeu o protagonismo no começo do segundo mandato.
A Dilma perdeu o protagonismo quando ela fez uma campanha pra ganhar a eleição
de qualquer jeito e no dia da eleição ela convida para ministro da Fazenda
alguém que pensava exatamente o oposto dela. Ninguém podia acreditar que o
Joaquim Levy ia impor o seu programa.
Mas
se o Joaquim Levy tivesse tido apoio do Congresso para fazer as mudanças que
ele propôs o Brasil já não estaria voltando a crescer?
O problema do Joaquim Levy é que ele nunca teve apoio nem da
Dilma! Quem votou na Dilma, no dia em que ela nomeou o Joaquim Levy se sentiu
traído. Ela não ousou ir à televisão e dizer “olha, de fato eu enganei vocês na
eleição, a situação era muito pior, agora nós temos que consertar”.
O
senhor acha que ela tinha consciência da dimensão do problema para dizer isso?
Claro, a Dilma é uma mulher corajosa! A última coisa que se pode
dizer da Dilma é que ela não tem coragem.
Será
que ela não imaginava que o choque que veio de fora foi muito maior que o
esperado?
Não teve choque fora coisa nenhuma!
Teve
a queda do preço do petróleo...
Mas o Brasil não era exportador de petróleo... pelo contrário, a
baixa do petróleo até ajudava o Brasil...O que eu acho é o seguinte: a Dilma
perdeu a credibilidade dos seus eleitores. A Dilma foi eleita com mais ou menos
1/3 e um pouquinho mais dos votos; o Aécio teve 1/3 e um pouquinho menos de
votos e 1/3 não escolheu nem a Dilma nem o Aécio. Então, o que acontece? No dia
seguinte da eleição, quando a Dilma tomou essas medidas sem dizer para os seus
eleitores “eu errei, nós temos que corrigir”, ela teria continuado com 1/3. Dez
dias depois ela só tinha 1/3 dos votos. Ela perdeu 2/3 em duas semanas!
Então,
o senhor acredita que houve um estelionato...
Não pode ter dúvidas sobre isso...
Como
na reeleição do Fernando Henrique?
Aí é outra coisa. Na eleição do Fernando Henrique é um processo
no Congresso...
Mas
a questão do câmbio, por exemplo?
Aqui, o estelionato foi equivalente ao do Plano Real e do Plano
Cruzado.
Que
elegeu aqueles 26 governadores e tal.
Aqui foi um estelionato, não tem dúvida sobre isso! Mas uma
coisa que eu digo: ela perdeu o protagonismo porque ela fez isso ao mesmo tempo
em que se meteu numa disputa na Câmara.
O
senhor achou legítimo esse movimento que depôs Dilma?
É evidente que sim. Que houve violação, que houve abuso de poder
é evidente.
Aquela
acusação de pedaladas fiscais procedia? Todos os presidentes anteriores não
fizeram a mesma coisa?
Foram muito mais sérias do que costumavam ser. Agora, tudo isso
em condições normais de pressão e temperatura, se ela estivesse tendo sucesso
na administração e protagonismo provavelmente dava um puxão de orelha...
Ou
seja: o que antes valia um puxão de orelha virou um impeachment.
O puxão de orelha foi a decapitação. É isso, mais nada.
Mas
o senhor chamaria isso de golpe parlamentar?
Claro que não! Não tem golpe parlamentar coisa nenhuma! Foi tudo
feito dentro da lei. A única coisa que não foi feita dentro da lei foi ela não
ter perdido os direitos políticos.
Mas
foi provado crime de responsabilidade na sua opinião?
Sobre isso não há dúvida! É o que eu digo: foi a dimensão...
você pode dizer o seguinte: o mal era pequenininho, simplesmente ampliou o
mal...ele não mudou de característica. Muda, sim. A quantidade muda a
qualidade. No final, o abuso foi muito violento.
E
aí quando tem lá os 200 bilhões de capitalização do BNDES não se leva em conta?
Mas tudo isso... esse processo começou no Lula... quando o Lula
usou o BNDES, realmente, como instrumento de recuperação...
Mas
o senhor elogiava o Guido Mantega... o Luciano Coutinho...
Continuo elogiando. O Guido Mantega é um excelente economista!
Basta ver o que o Guido escreveu antes de ser ministro. O Luciano é um sujeito
que tem um conhecimento profundo da indústria brasileira. Agora, eu acho o
seguinte. O Guido era o ministro? Não, o ministro era a Dilma!
O
Guido gostaria de ter feito o ajuste antes...
O Guido deixou lá os documentos desde 2012, 2013 mostrando que
estava errado. Isso ela nunca negou.
Quando
o senhor era o ministro o senhor era o ministro ou o presidente era o ministro?
Não, não... o presidente, em geral, entrega pra pessoas que se
supõe que conheçam alguma coisa... Não está garantido, mas eles supõem que
conheça alguma coisa...nunca houve interferência na política econômica...a
Dilma, não, ela é que formulava a política econômica...sempre foi assim.
O
senhor chegou a alertá-la?
Ah, ela sabe disso! Não só eu como todo mundo, uma porção de
gente. Não é alertar... porque a Dilma eu acho que o que aconteceu alguma coisa
com ela. A Dilma tinha um entendimento que mudou completamente a partir de
2012. O entendimento que a Dilma tinha da realidade mudou muito.
Talvez
pela questão de buscar a reeleição, de buscar popularidade como o senhor falou
no começo?
Não, o que eu acho é o seguinte.
Buscar
uma bandeira própria?
Quando ela viu que estava subindo na popularidade contra todos
os conselhos ela corretamente concluiu que os conselheiros é que eram ruins.
E
ela tinha uma disputa para enfrentar porque tinha uma ala do partido que
defendia o “volta, Lula”...e se não tivesse o segundo mandato?
Aí já é uma outra questão...eu suspeito pelo menos que havia
realmente uma grande expectativa de que ela cedesse o lugar para o Lula, uma
coisa que ela decidiu não fazer.
O
senhor acha que isso tudo que aconteceu com a Dilma e o impeachment vai impedir
o Lula de se candidatar?
Deixa eu lhe dizer... o Lula vai ser candidato se for possível,
vai ter o seu papel... Lula tem um papel importante na economia...
O
senhor vota nele se ele for candidato?
Deixa eu lhe dizer... depende dos outros...
Quais
outros, por exemplo?
Não sei...não sei quem vai ser candidato, ninguém sabe quem vai
ser candidato. Eu volto a insistir. É ilusão pensar que o Lula é um falecido.
Lula não tem nada disso. Lula tá trabalhando enormemente, vai desempenhar o seu
papel... se vai ganhar ou perder a eleição é uma outra questão...
Por
que tem toda essa onda do Moro contra ele?
Eu não sei se tem onda do Moro contra ele.
Essas
acusações contra ele – triplex, sitio – o senhor considera sérias?
Tudo isso tem que ser provado. Por enquanto, não é bolinha com
flecha que prova.
Até
agora o senhor acha que não foi provado...
O que eu acho é o seguinte. Por isso é que tem o inquérito. O
inquérito não acabou. O Lula vai depor agora...
Dia
3 de maio...
Dia 3 de maio, não sei que dia, tá certo, aí vão aparecer...
quais são as provas?
O
senhor viu a participação dele na Transposição nesse fim de semana?
Sim...
Como
o senhor viu a reação do povo? E essa obra o que o senhor acha dela?
A transposição é um problema antigo. O Andreazza queria afzer
também. Só que o projeto era mais inteligente. Porque você ia transferir
primeiro de uma bacia para outra pra depois poder trazer... aí você tem
realmente muita água. Aquele projeto morreu. O projeto da transposição é do
Lula! E o Temer foi justo. O Temer, pra não dizer que era do Lula disse que é
do povo brasileiro.
Não
seria melhor dizer que era do Lula?
Se você usar um silogismo... logo, Lula é o povo brasileiro.
Mas
só usando o silogismo...
Então, o que é que acontece? O que me parece é o seguinte. Ele
foi lá, o povo agradeceu. Nós não temos ideia do que significa isto.
O
senhor acha que vai transformar a realidade do Nordeste?
Menos do que as pessoas pensam. A realidade do Nordeste está
sendo transformada pelos avanços técnicos. É que nós estamos hoje no sexto ano
de uma seca muito séria, uma seca equivalente àquela de 1972, 82. São secas
devastadoras. Mas ela tem hoje muito menos efeito do que tinha. Não só porque
você tem um sistema logístico muito melhor hoje, de água, como você tem uma
assistência social muito mais ampla. Está no sexto ano de seca e não houve
nenhum assalto. Nem saque a supermercado. Ninguém assalta caminhão na estrada.
As pessoas estão sentadas na porta da sua casa recebendo seu chequezinho do
governo. Mas, tudo bem. Isso é um inconveniente? Não! Porque nós somos uma
sociedade solidária. Eu me divirto muito quando as pessoas falam sobre a
Transamazônica. “Um projeto saindo daqui pra lugar nenhum”! Dando impressão que
aquilo foi projetado. Aquilo não foi projetado nada. O presidente Médici e eu
chegamos lá tinha uma frente de trabalho com 4 milhões de famintos, comendo um
pedaço de macaxeira e sendo empregados por um “gato” ganhando 40 reais por dia.
Quando o Médici assistiu aquilo disse “Abre a porteira! Sai daqui! Arruma um
negócio pra eles fugirem”! Não teve projeto nenhum! Ninguém sabia realmente
como funcionava a Amazônia. Só alguns geógrafos em quem ninguém acreditava que
diziam que aquilo era uma terra extremamente pobre.
Falando
na Transamazônica, o senhor viveu o período das grandes obras...
Transamazônica... Itaipu... Ponte Rio-Niterói...aqui em São Paulo também,
grandes hidroelétricas e o Brasil formou grandes construtoras que hoje estão
abaladas. O senhor acha que deveria ter havido um cuidado maior na preservação
das empreiteiras?
Sem dúvida! Nós tínhamos que ter punido as pessoas e protegido a
organização. Essa expertise que foi construída ao longo desses 30
anos começou, na verdade, com Brasília. E Brasília já é produto de uma
desorganização que nós estamos vivendo hoje. O Juscelino usou todas as reservas
autuariais do IAPC, IAPETEC...
Os
fundos de previdência...
Usou pra fazer Brasília.
Dá
pra saber quanto Brasília custou?
Ah, sem dúvida. O problema é o seguinte. Ele achava que Brasília
ia ser tão rentável que ninguém mais tinha que se preocupar, ela ia financiar a
Previdência brasileira pelo resto dos tempos.
E
Brasília foi rentável?
É claro que não! Até hoje, você tem... agora, ela cumpriu o seu
papel, de fato levou o Brasil para o interior, isso tudo é uma avaliação que
tem que ser feita. Não existe nada branco e preto. As outras obras foram todas
feitas com poupança do governo! De vez em quando eu vejo um idiota falar sobre
a ponte Rio-Niterói. A Ponte Rio-Niterói se pagou! A Ponte Rio-Niterói foi
feita com empréstimo inglês que se autoliquidou! Pelo pagamento do seu uso.
Itaipu foi feito com poupança do governo. As hidrelétricas de São paulo todas
feitas com poupança do estado. O estado gastava 18% com pessoal...
Hoje
gasta 60%...
Ou 70%. Diz que gasta 56% pra ficar na lei. Aí, quando você vai
ver, tudo por fora.
Inativos,
terceirizados...
Então, eu acho o seguinte. Você, na verdade, você ampliou o
estado equivocadamente.
As
empreiteiras ocupavam grandes espaços fora do Brasil e agora estão sendo
expulsas.
Aí eu acho que tem uma coisa interessante. Eu não acredito que,
digamos, a Odebrecht tenha ganho o metrô em Miami com suborno. Nem as obras na
Europa. Pois bem. Por que tinha que fazer aqui no Brasil? O estado organizou o
cartel! Quem não entrasse no cartel não tinha obra e ponto final.
Mas
isso acontece há muito tempo...
Não, isso é muito mais recente.
Desde
Juscelino? A construção de Brasília não foi o início desse processo?
Na construção de Brasília tinha um caminhão que rodava 12
vezes...
No
seu tempo havia competição? Por exemplo, o governo ia fazer uma licitação, em
Itaipu, ganhava no preço, na competição, não era essa combinação de
empreiteiras?
De jeito nenhum! Tinha um concorrência e tinha o coordenador da
concorrência, tanto que Itaipu o coordenador foi a empresa de Minas, a Mendes
Júnior. Esse problema... você destruiu, na verdade, uma expertise...o Brasil
era o país dos barradeiros melhor do mundo! “Três Gargantas” levaram os
brasileiros pra China. O que acontece é o seguinte. Você poderia ter feito...
De novo, não adianta chorar sobre o leite derramado. Do que se trata agora é
aproveitar o que sobrou.
A
gente olha o Brasil: o PIB caiu praticamente 10% em três anos, muitas empresas
extremamente endividadas, famílias endividadas, mas o senhor fala “bom, no
longo prazo vai ficar melhor”...
Está sendo melhor já!
O
senhor já vê a retomada?
Os sinais são claros! O que eu acho é que você conseguiu coisas
nesse período, nesses últimos oito ou dez meses que pareciam impossíveis. O
controle da despesa... a queda da inflação... a queda da inflação está ligada
ao suprimento de alimentos... você teve uma safra muito ruim em 2015, 2016...a
safra acabou em agosto, não tinha mais nenhuma novidade, os estoques foram
postos todos pra rua, os preços caíram, e a safra que vem aí é uma safra
excepcional.
Ou
seja, os preços vão continuar baixos.
Vão continuar baixos. Então, isso tem ajudado. Só que até agora
o juro real não caiu no Brasil.
Mas
não tem também o efeito dessa destruição econômica?
O problema é o seguinte. Os que estão empregados tiveram seus
salários reajustados em 7%. No ano que vem, a inflação de alimentos, que é a
mais importante não deve passar de 4%. Ou seja, você vai ter um aumento de
salário real.
Essa
melhora decorre das medidas do governo Temer ou apesar disso?
É evidente que houve uma melhoria dramática.
Por
exemplo, a dupla Meirelles-Goldfajn na sua opinião é muito melhor que a Fazenda
e o Banco Central anteriores?
Tem um presidente melhor. Eu não tenho a menor dúvida. O Tombini
e o Guido, se pudessem falar como fala o Meirelles e serem ouvidos, teriam
feito uma administração muito diferente.
Temer
seria melhor porque ouve os economistas?
O Temer tem uma noção clara... o Temer tem uma coisa muito
interessante. O Temer, com aquele programa do PMDB, Ponte para o futuro, ele
incorporou aquilo e percebeu o seguinte. A divergência sobre o diagnóstico no
Brasil é muito pequena. Você tem uma esquerda que realmente não tem a menor
ideia do que está falando, tem uma esquerda razoável, sabe o que está falando,
com ênfase maior em distribuição, e tem, na verdade, um consenso entre os
economistas, digamos, razoáveis do que tem que ser feito. Primeiro, então: não
há uma dificuldade no diagnóstico. Segundo, não tem dificuldade em encontrar
pessoas competentes pra realizar esse diagnóstico. O que que falta pra poder
realizar esse diagnóstico? Apoio político adequado. O que que o Temer fez? O
Temer juntou... o Temer é um dos poucos sobreviventes políticos que faz tricô
com quatro agulhas. Como fazia o Tancredo, como faziam aqueles outros
craques...o dr. Ulysses. Temer montou um parlamentarismo de ocasião e convenceu
essas pessoas, reuniu essas pessoas pra executar esse programa. Essa é que é a
diferença. E tá caminhando até agora bastante bem.
Mas
o ministério está envolvido quase todo em investigações... isso atrapalha ou
não?
Na minha opinião, é claro que seria muito melhor se fosse de
anjos...não decaídos...então, o que eu acho é o seguinte: isso é irrelevante
pra esse proceso. Mesmo porque eles vão continuar sendo alvos dos inquéritos,
alguns vai ser provado que não tem nada, outros vai ser provado que tem alguma
coisa, alguns vão ser afastados, mas isso tudo, nesse instante, não causa uma
perturbação.
Aquele
episódio do jantar no Palácio do Jaburu no qual Temer pediu dinheiro a Marcelo
Odebrecht o senhor achou ética aquela situação?
Desculpe, ele era vice...ele era o presidente do partido...qual
é o presidente de partido que não pediu? E, no caso, o Marcelo disse: nós não
discutimos montantes. Ele pediu uma ajuda pro governo.
É
normal isso? Dentro do Palácio do Jaburu?
É natural, é onde você está. O que eu diria é o seguinte.
Deveria ser diferente. Se o sistema fosse outro.
Daqui
pra frente será diferente?
Será diferente.
Até
porque nem vai ter mais financiamento empresarial...
Não tem mais financiamento de pessoa jurídica...
O
senhor acha que isso não volta?
Ah, não, isso não volta...
O
Brasil já está traumatizado?
Na verdade, o setor financeiro e, no caso, os empreiteiros eles
assumiram uma tal relevância no financiamento que isso põe em dúvida a
democracia. É disso que se trata. Você precisa ter uma competição razoável.
Coisa que não existia mais.
Quando
a gente olha a hegemonia que o PT estava conquistando ela era fruto desse
modelo.
É evidente, é o que eu estou dizendo: o PT institucionalizou
isso. Exagerou, inclusive. Agora, isso não tem mais volta. Também a ideia de
que vai ser tudo financiamento público é um negócio complicado.
Como
é que o senhor avalia o papel do PSDB nesse processo? Por exemplo, o Aécio
Neves não aceitou o resultado eleitoral, foi um protagonista desse processo de
contestatação e hoje está denunciado também.
Qual é o problema?
Eu
tô lhe perguntando.
Na minha opinião, é o seguinte: todos eles fizeram exatamente a
mesma coisa. É isso. Se ele tivesse ganho provavelmente o PT teria ido ao TSE
pedir a mesma coisa que ele pediu. Isso é coisa do perdedor. Agora deve estar
arrependido.
E
o papel do Fernando Henrique que disse que pode ter um caixa 2 do bem?
O Fernando, hoje, tá querendo pôr panos quentes na coisa.
Fernando não é um homem revolucionário, Fernando não é um homem que quer que
haja confusão generalizada, de forma que o papel do Fernando nesse negócio é de
apagador de incêndio.
O
senhor acha que tem muitos incendiários?
Na verdade, é o seguinte. Quem quer o poder hoje tem que
incendiar. Quanto maior for o teu desejo de poder mais incendiário você será.
Porque é a única forma de chegar lá.
Hoje
os jornais noticiam que a reforma da Previdência subiu no telhado. O senhor
acha que isso é um revés muito grande pro governo ou não?
Aqui é o seguinte. A reforma da Previdência tem duas ou três
coisas que são fundamentais. A idade mínima e uma regra de passagem. Essas, na
minha opinião, vão ser aprovadas. Se não forem aprovadas, as consequências vão
ser dramáticas. Primeira coisa que vai acontecer o Brasil vai perder mais
graus, ratings das três empresas...
Tem
aquele risco de virar uma Grécia, insolvente?
Não...
Ou
uma Argentina?
Se não aprovar a reforma da Previdência razoável tudo isso está
jogado fora, acabou. E aí vai juntar pé com cabeça e esperar 2018.
A
Previdência de fato está no negativo?
O que eu acho mais importante é o seguinte. Quem será
prejudicado? Só o funcionalismo público. É por isso que tem toda essa briga. Em
que lugar do mundo alguém se aposenta com 100% do salário? Em que lugar do
mundo ninguém é sujeito a desemprego nem à redução de salário? O Brasil passou
10% de queda do PIB per capita. Todo trabalhador que ganha até três, quatro
salários mínimos alguém na família foi desempregado, o seu salário caiu. Aponta
um funcionário público que teve um dia de trabalho cortado ou que teve 10
centavos de salário reduzido. Quer dizer, eles conseguiram... o estamento estatal
se apropriou do excedente produzido pelo Brasil! Quem manda no Brasil hoje é o
funcionalismo público. E tanto é verdade que todas essas grandes manifestações
são de professores. O que é que eles estão defendendo? O ensino? Não, estão
defendendo o deles! É disso que se trata! Quando eu vejo um presidente de uma
associação de fiscais ir à televisão e dizer “não há deficit na Previdência” eu
devo acreditar nele? Que está ganhando 28 mil reais por mês e sabe que se vier
a reforma ele vai ter uma redução de salário? Não tem ninguém que vai ser
prejudicado quem ganha até dois, três salários mínimos. “Imagine, o sujeito vai
trabalhar até 79 anos”! Ou seja, se você quiser ter 100%
de remuneração vai ter que trabalhar mesmo.
O
senhor já tem direito aos 100%... começou a trabalhar com uns 14 anos, se não
me engano?
Sim. Mas o mais importante não é isso, o mais importante é o
seguinte. A mensagem do governo é correta. Se você não enfrentar esse problema
nós não vamos virar Grécia, não, vamos virar Rio de Janeiro. Olha pro Rio
Grande do Sul! O Rio Grande do Sul... onde passou o Brizola é terra arrasada!
O
Brizola é o culpado pelo que acontece hoje?
Basta olhar. No Rio Grande do Sul, a bisavó, a avó, a mãe e a
filha estão aposentadas.
Isso foi o Brizola que fez?
O Brizola que fez isso. Tanto é
que... no Rio também! Por que? Porque ele não tem o menor respeito pelos
recursos públicos!
Brizola era um incendiário?
O Brizola? Não, imagina... o
Brizola era bombeiro...
O senhor está com que idade, professor?
Oitenta e nove.
Começou a trabalhar aos 14...Por isso o senhor é a favor da
reforma, já está incluído nela.
Eu acho o seguinte. É uma
questão de aritmética. Quando o sujeito diz “ah, no Nordeste vão ser
prejudicados”.... menos de 10% dos aposentados do Nordeste se aposentam por
contribuição. Todos se aposentam, 90%, com 65 anos. Essa gente não vai ser
atingida. Quando você inventa a ideia de que...”imagina, se a expectativa de
vida é de 72 anos”... você está cometendo uma falha brutal. Qual é a
expectativa de vida de um sujeito no Brasil hoje com 65 anos? Vinte e dois,
vinte e três anos...a mais. Os que tinham que morrer já morreram! É preciso pôr
um pouco de ordem nesse negócio. Acho que está sendo uma boa discussão,
acredito que a idade mínima vai passar, acho que vai ter um ajuste nas regras
de transição, que é o fundamental. Você vai ter aí cinco, seis, oito anos...
Como o senhor acha que o Brasil vai chegar a 2018? O senhor acha
que a pinguela não vai cair?
Eu acho o seguinte... a não
ser...
E quem são os favoritos a 2018?
A não ser que não aprovem isso,
a coisa vai continuar melhorando até ter a eleição. A eleição é ilusão você
pensar...eu acho que hoje a força da gravidade caminha pro Alckmin. Então, eu
tenho a impressão...
Mesmo citado em investigações?
Eu acho que a força da
gravidade está do lado dele. Eu acho que por exemplo quando olho pra São Paulo,
eu acho que o Alckmin e o Serra não se falam, mas seguramente, o interesse dos
dois é o Serra ser candidato a governador. E o Alckmin candidato a presidente.
Eles saem de São Paulo com 60% dos votos. E atraem Paraná, Santa Catarina, o
Sul do Mato Grosso...
Mas aí não vai virar um duelo do Sul-Sudeste com o Norte-Nordeste?
Se tiver, ótimo! Porque aí
decide quem manda!
O senhor está na linha “non ducor, duco”?
Na minha opinião é isso. O
regime tem que ter uma decisão. Não é possível continuar nesse negócio. Quem
ganha, leva tudo. Ponto final. E aí quem votou paga as consequências.
O senhor acha que não há risco de não haver eleições?
De jeito nenhum!
E de um outsider como Bolsonaro?
Seja lá o que Deus quiser! Que
venha um outsider! Porque o Brasil tem que aprender. Democracia só se
aprende... é como aquelas coisas boas da vida... só se aprende fazendo. Eu acho
que não há o menor risco pro Brasil de ter um regime diferente da democracia.
Nem o Moro vai conseguir?
Não sei se ele vai deixar se
levar por isso. Me parece muito mais um problema quase religioso. De salvação
nacional. Honestamente, para mim seria uma surpresa se ele abandonasse essa
tarefa pra ser candidato.
O senhor já viu algum juiz com o poder que ele adquiriu?
Por que ele adquiriu esse
poder? Porque os fatos levam a ele. Então, é o que eu digo: não adianta brigar
com os fatos. Não tem solução. Você pode não gostar, pode achar que de vez em
quando ele comete exageros, como eu acho que aconteceram coisas...aquele tiro
mortal na nomeação do Lula na Casa Civil, que teria mudado a história do
Brasil...
Lula salvaria o governo Dilma?
Na minha opinião, Lula já tinha
um acordo com o PMDB e iam administrar o Brasil. De outro jeito. Mas é o que eu
digo. É claro que isso é uma explicação a posteriori. Eu acho que é como o
exemplo do Joaquim Barbosa. É um exemplo claro. Todo mundo imaginava que ele ia
se meter num partido. O que é que ele fez? Montou um escritoriozinho aqui em
São Paulo, mora num apartamento muito modesto e ganha a vida dando palestras e
escrevendo pareceres. Essa gente tem outra visão do mundo. Então, eu,
honestamente, acho muito difícil ver um sujeito como esse se envolvendo num
processo eleitoral.
Mas o Moro não está interferindo demais em todos os aspectos da
vida nacional? O que o senhor achou da decisão dele de conduzuir
coercitivamente um blogueiro para explicar quem lhe passou informações sobre a
operação que Lula sofreria?
O que eu acho é o seguinte. O
que ele quis é que o blogueiro... todo mundo sabe que, realmente, eles dão
despacho privado com vários jornalistas.
Aonde? Na Procuradoria Geral da República?
Em todo lugar! Na verdade, o
sujeito que tá lá gosta muito de ter a proteção de falsos jornalistas. Que tem
televisão, que tem coluna no jornal, ou seja, também eles se protegem. Então, é
evidente que essas delações, que essas impropriedades são produzidas por eles
mesmos. Ninguém pode produzir aquilo a não ser algum deles.
Mas o senhor achou correta a atitude do Moro?
O Moro mandou buscar o
blogueiro. Mandou buscar o blogueiro pra dizer quem deu a informação. Agora, eu
acho o seguinte. A obrigação do jornalista é explorar a autoridade. Ou seja,
ele tem que arrancar da autoridade aquilo que a autoridade diz que sabe. E não
pode denunciar a sua fonte. Mas isto é um jogo conjunto da autoridade que tem o
poder e do jornalista que adquire poder porque recebe um telefonema dele toda
tarde dizendo o que vai acontecer.
O Moro agiu como censor nesse caso?
Eu acho que neste caso ele
vai... é evidente que ele exerceu censura. Você ser obrigado a dizer qual é a
sua fonte.
Quem tem que guardar o sigilo é o policial, não o jornalista...
O problema é exatamente
esse...é que a autoridade também tira poder tendo a boa vontade do jornalista.
Isso não é uma coisa isolada. Basta ver o seguinte: hoje não tem mais
jornalista. Só tem comentaristas. Se você olhar hoje uma notícia na televisão,
além de dizer coisas inteiramente despropositadas, é o gesto. Então, ele diz
“Fulano de Tal, não sei o que, disse que não tem nada a a ver com isso”...
ha-ha...
Faz caras e bocas. Eu queria colocar um ponto. O senhor foi sempre
muito ligado ao ex-prefeito de São Paulo Paulo Maluf que recentemente foi às
redes sociais e falou “olha, eu não estou no Mensalão, nem no Petrolão, nunca
apareci em nenhum escândalo”. Ele era um símbolo da corrupção pra muita gente.
Como é que o senhor avalia? Ele está se vingando, de certa maneira?
É que tem muito mito também. O
Maluf é um grande administrador. Tudo isso que foi feito foi feito com poupança
do governo. Ele está sendo sujeito à apuração das coisas, e vai caminhar, se
dever alguma coisa, vai pagar, se não dever, não paga. Eu acho que o Mauf nesse
negócio é simplesmente um observador.
O senhor disse que está com 89 anos. Qual é o segredo da boa saúde
física e mental, o que o senhor faz, como o senhor se cuida?
Precisa olhar por dentro... (risos)
Mas a pele está perfeita...
Gordo em geral tem pele mais
macia...
Tenho impressão que o senhor nunca adotou hábitos saudáveis...
sempre gostou de comer bem...
Eu sou... inclusive, eu estou
num grupo que estuda a longevidade e tenho contrariado muitos cientistas. A
minha teoria é a seguinte. Quando você nasce, o teu coração recebe um carimbo.
Ele vai bater 738 milhões, 235 mil, 428 vezes. Não vai bater 429! Quando bater
428 você vai embora. Agora, então, presta atenção para o sujeito que se cuida o
tempo todo. Faz exercício o tempo todo. Cada corrida que ele dá o coração bate
cem vezes mais. Encurtou a vida. É por isso que quem não bebe e não faz esporte
vive mais.
O senhor tem certeza?
Não tenho a menor dúvida.
Vou parar de correr, então.
Você não sabe quanto é que está
carimbado o teu negócio. Agora, tenha certeza: cada vez que você acha que vai
ficar mais esbelto está encurtando o tempo de vida.
O senhor nunca correu?
De jeito nenhum.
Nem em esteira?
Deixa eu te contar...Tinha um
médico no IBC, um excelente médico e era muito meu amigo. Ele dizia, não,
Delfim, você tem que fazer exercício, o que você fazia quando era moço? Eu
remava no Tietê quando tinha 14 anos. Então, compra um remosan, de manhã você
acorda cedo e faz o remosan. Eu comprei o remosan. Primeiro dia que eu sentei
no remosan, quando eu puxei caíram todos os problemas em cima de mim. Devolvi o
remosan.
E atividade intelectual?
Essa não gasta nada, só dá
alegria. Eu levanto todo dia às cinco e meia. Quando eu saio de casa, eu já li
três jornais.
Quais?
A Folha, o Estado e o Valor.
Porque eu sou paulista.
Deu pra perceber.
Por isso eu sou mal informado. (Risos) (247).
Blog
do BILL NOTICIAS