sábado, 12 de outubro de 2013

Mosquitos transgênicos invadem o céu de Juazeiro


No começo da noite de uma quinta-feira de setembro, a rodoviária de Juazeiro era o retrato da desolação. No saguão mal iluminado, funcionavam um box cuja especialidade é caldo de carne, uma lanchonete de balcão comprido, ornado por salgados, biscoitos e batata chips, e um único guichê – com perturbadoras nuvens de mosquitos sobre as cabeças de quem aguardava para comprar passagens para pequenas cidades ou capitais nordestinas.
Assentada à beira do rio São Francisco, na divisa entre Pernambuco e Bahia, Juazeiro já foi uma cidade cortada por córregos, afluentes de um dos maiores rios do País. Hoje, tem mais de 200 mil habitantes, compõe o maior aglomerado urbano do semiárido nordestino ao lado de Petrolina – com a qual soma meio milhão de pessoas – e é infestada por muriçocas. Os cursos de água que drenavam pequenas nascentes viraram esgotos a céu aberto, extensos criadouros do inseto, tradicionalmente combatidos com inseticida e raquete elétrica, ou janelas fechadas com ar condicionado para os mais endinheirados.
Mas os moradores de Juazeiro não espantam só muriçocas nesse início de primavera. A cidade é o centro de testes de uma nova técnica científica que utiliza Aedes aegypti transgênicos para combater a dengue, doença transmitida pela espécie. Desenvolvido pela empresa britânica de biotecnologia Oxitec, o método consiste basicamente na inserção de um gene letal nos mosquitos machos que, liberados em grande quantidade no meio ambiente, copulam com as fêmeas selvagens e geram uma cria programada para morrer. Assim, se o experimento funcionar, a morte prematura das larvas reduz progressivamente a população de mosquitos dessa espécie.
A técnica é a mais nova arma para combater uma doença que não só resiste como avança sobre os métodos até então empregados em seu controle. A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que possam haver de 50 a 100 milhões de casos de dengue por ano no mundo. No Brasil, a doença é endêmica, com epidemias anuais em várias cidades, principalmente nas grandes capitais. Em 2012, somente entre os dias 1º de janeiro e 16 de fevereiro, foram registrados mais de 70 mil casos no País. Em 2013, no mesmo período, o número praticamente triplicou, passou para 204 mil casos. Este ano, até agora, 400 pessoas já morreram de dengue no Brasil.
Em Juazeiro, o método de patente britânica é testado pela organização social Moscamed, que reproduz e libera ao ar livre os mosquitos transgênicos desde 2011. Na biofábrica montada no município e que tem capacidade para produzir até 4 milhões de mosquitos por semana, toda cadeia produtiva do inseto transgênico é realizada – exceção feita à modificação genética propriamente dita, executada nos laboratórios da Oxitec, em Oxford. Larvas transgênicas foram importadas pela Moscamed e passaram a ser reproduzidas nos laboratórios da instituição.
Os testes desde o início são financiados pela Secretaria da Saúde da Bahia – com o apoio institucional da secretaria de Juazeiro – e no último mês de julho se estenderam ao município de Jacobina, na extremidade norte da Chapada Diamantina. Na cidade serrana de aproximadamente 80 mil habitantes, a Moscamed põe à prova a capacidade da técnica de “suprimir” (a palavra usada pelos cientistas para exterminar toda a população de mosquitos) o Aedes aegypti em toda uma cidade, já que em Juazeiro a estratégia se mostrou eficaz, mas limitada por enquanto a dois bairros.
“Os resultados de 2011 e 2012 mostraram que [a técnica] realmente funcionava bem. E a convite e financiados pelo Governo do Estado da Bahia resolvemos avançar e irmos pra Jacobina. Agora não mais como piloto, mas fazendo um teste pra realmente eliminar a população [de mosquitos]”, fala Aldo Malavasi, professor aposentado do Departamento de Genética do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (USP) e atual presidente da Moscamed. A USP também integra o projeto.
Malavasi trabalha na região desde 2006, quando a Moscamed foi criada para combater uma praga agrícola, a mosca-das-frutas, com técnica parecida – a Técnica do Inseto Estéril. A lógica é a mesma: produzir insetos estéreis para copular com as fêmeas selvagens e assim reduzir gradativamente essa população. A diferença está na forma como estes insetos são esterilizados. Ao invés de modificação genética, radiação.
A TIE é usada largamente desde a década de 1970, principalmente em espécies consideradas ameaças à agricultura. O problema é que até agora a tecnologia não se adequava a mosquitos como o Aedes aegypti, que não resistiam de forma satisfatória à radiação. A reportagem é da Agência Pública.

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