A julgar por todas as informações
disponíveis, inclusive no Planalto, no final do dia será possível ter uma
dimensão exata dos efeitos da greve geral na evolução política do país.
Na madrugada de 28 de abril,
quando publico estas linhas, já é possível reconhecer sinais importantes sobre
a jornada de hoje, que anunciam o mais amplo esforço até aqui dos brasileiros e
brasileiras para enfrentar o retrocesso político iniciado pela encenação
parlamentar -- a expressão é de Joaquim Barbosa -- que afastou Dilma Rousseff e
abriu as portas para o mais violento ataque violento e a seus direitos
desde a unificação da Previdência Social e da CLT, há mais de 70 anos.
(As oito e meia da manhã já era
possível enxergar aquela que parece ser a maior greve de trabalhadores da
história do Brasil. Em São Paulo, o transporte de ônibus, metrô e trem começou
a ser paralisado desde a madrugada. Mas era possível saber que a greve ia além
disso. Várias categorias cruzaram os braços por conta própria, em pontos
estratégicos da cidade. A maioria das fábricas do ABC ficou parada, inclusive
Diadema. Mesmo operários de empresas que têm uma frota própria para transportar
operários, como a GM de São de José dos Campos, não foram trabalhar. De vários
pontos do país, chegavam notícias de um movimento unificado e amplo).
A ação unificada das
organizações tradicionais do movimento operário – sindicatos e centrais
sindicais – levar para a rua um protesto amplo e vigoroso, expressão da vontade
da maioria da sociedade brasileira.
Sob sua inspiração, nos últimos
dias o apoio à mobilização chegou a juventude esclarecida – em muitos
casos também endinheirada – das grandes escolas de São Paulo. Fez parte
da conversa de babás que passeiam com crianças nos bairros chiques das grandes
cidades e, mesmo escondida por jornais, a começar pela TV Globo, também foi
assunto em ponto de ônibus e botequins.
A mesma energia já chegou as
diversos periferias de um país imenso e desigual, num universo que se confunde
com os vários tecidos desta nação, como expressa a mobilização de uma centena
de bispos da Igreja Católica, ao lado de lideranças protestantes tradicionais,
também engajadas no protesto.
Sem mostrar -- e todos sabemos
por que isso aconteceu – a mesma disposição de luta quando se tratava de
impedir o afastamento de Dilma, nos últimos dias colocou-se de pé uma população
que só costuma cruzar os braços e ir para rua em momentos de virada da história.
O que se pretende, aqui e
agora, é impedir o ataque a direitos da vida de cada um, há muito consolidados,
que já fazem parte da memória das famílias, dos planos de futuro de filhos e
netos, num país onde o bem-estar social é um embrião que precisa ser defendido
e e aperfeiçoado e não destruído.
É daí que vem a resistência.
Quem não consegue enxergar o
que se passa irá quebrar a cara, como já se viu pelo comportamento vergonhoso
de autoridades que – Temer, Dória, ACMinho à frente – assumiram a fantasia de
ditadorzinhos fora de época, admiradores tardios e incorrigíveis do obscurantismo
e da repressão.
A mobilização de uma
aparato repressivo gigantesco, sem qualquer justificativa, em Brasília, apenas
confirma o nível de irresponsabilidade política cultivado por um governo sem
qualquer compromisso com a democracia e a liberdade de expressão, apenas com a
defesa de privilégios e vantagens.
Numa demonstração de falta de
compromisso real real com o destino da maioria dos brasileiros e
brasileiras, ameaçam punir uma própria população, que paga seus
vencimentos ergueu seus palácios, e não aceita ser destituída de direitos que
sempre defendeu com unhas e dentes, e que só não foi consultada para falar o
que pensa porque todos sabem muito bem o que iria dizer.
Para empregar um termo
que se tornou uma moda analítica, a greve geral mostra que o ciclo Michel Temer
durou pouco, foi um desastre e não deixará saudades. Não tem
legitimidade para prosseguir em seu radicalismo reacionário e intolerante.
Considerando padrões mínimos de civilização e democracia, nenhum governo pode
sobreviver a tamanha ruína. Rejeitado pela população, seu projeto
destrutivo de país deve ser paralisado imediatamente.
O debate que interessa, na
conclusão obrigatório, de 28 de abril de 2017, consiste em abrir a porta para o
país sair desse grande malogro e retornar a democracia, ao debate político
democrático, através de eleições diretas. Esta é a obrigação de quem não perdeu
a capacidade de olhar para o futuro. Já.
Não vamos ter dúvidas. Esta é a
conversa a ser feita hoje -- antes e depois. (247).
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