sexta-feira, 27 de julho de 2018

Pilar: comunidade ainda está à espera do progresso

Desde 2009 há um Plano de Requalificação Urbana e Inclusão Social. Das 588 unidades habitacionais previstas, foram entregues 192
Foto: Thalyta Tavares / Esp. DP
Foto: Thalyta Tavares / Esp. DP

A comerciante Sandra Souza, 51 anos, aproveitou a oportunidade, abriu a janela e apontou com o dedo. “Para o senhor que perguntou onde fica, é ali.” Ela respondia, na época, ao então prefeito da cidade a localização exata da Comunidade do Pilar. Setecentos metros do prédio sede da prefeitura. Oitocentos e cinquenta metros do Marco Zero. Quinhentos metros do Tribunal Regional Federal. O Pilar é a resistência da moradia na zona mais conhecida do Recife, mas permanece escondido entre a pujança dos edifícios ícones do bairro e passa despercebido ao olhos do burburinho turístico.

Pode parecer contraditório, mas o acesso à comunidade ocorre da extensão de um cartão-postal do Recife. É saindo da Rua do Bom Jesus em direção ao Moinho que se chega lá. A paisagem vai mudando no caminho. A via se torna São Jorge. Os sobrados dão lugar a casas simples de alvenaria e barracos de papelão. O chão de pedra entrecortado pelos trilhos é substituído pelo piso de terra batido, desenhado pelos buracos abertos da passagem do esgoto a céu aberto. Lá, numa contagem informal, vivem 700 famílias. Pessoas que carregam as marcas de uma área do centro histórico recifense que sempre esteve à margem.

Até 1630, o Recife terminava no início da Rua do Bom Jesus. “Tudo o que tinha no entorno era chamado de fora de portas. Existia um caminho que ia até o antigo Forte de São Jorge. Quando o forte foi demolido e a Igreja do Pilar construída, ali passou a ser um bairro. Era a habitação de gente que vivia do porto”, conta o arquiteto e urbanista José Luiz da Mota Menezes. Segundo ele, durante o período militar, as construções existentes na área foram demolidas para a elevação de armazéns, fazendo com que muitas pessoas passassem a se abrigar em moradias precárias.

Sandra mora no Pilar há 32 anos. “Cheguei com um caldeirão de sopa e dois reais de pão e criei meus dois filhos. Aqui é bom para trabalhar, tem muita oportunidade, porque está no centro, perto de tudo”, conta ela, que é dona de um restaurante na Rua São Jorge. A maioria dos moradores tem a mesma relação de apego com a comunidade. Em comum, também, as queixas de esquecimento. “Na época que cheguei, aqui era conhecido como Favela do Rato porque quando as embarcações chegavam no porto com milho, a rataria ia para lá. Depois, voltava com tudo”, conta o zelador Aluízio Alves, 38. 

Durante a epidemia de arboviroses, em 2015 e 2016, o Pilar foi um dos bairros mais atingidos. “O impacto estatístico não era proporcional à quantidade de habitantes. Isso reflete a falta de serviços básicos e infraestrutura”, explica o pesquisador do Grupo de Pesquisa e Inovação para as Cidades (Inciti) Caio Scheidegger.

No Pilar, além da visível falta de saneamento, os moradores reclamam a ausência de água, de iluminação pública de qualidade, de equipamentos públicos de lazer para as crianças e, sobretudo, de moradia. A questão de habitação é, inclusive, um ponto latente. Existe, desde 2009, um Plano de Requalificação Urbana e Inclusão Social para o Pilar, com a previsão inicial de construção de 588 unidades habitacionais e equipamentos como escola, creche, mercado público e praça. 

Das habitações, 192 foram entregues. As outras tiveram a obra interrompida em função de achados arqueológicos, entre 2013 e o fim do ano passado. Até hoje, há pessoas sobrevivendo do auxílio-moradia de R$ 200 há quase 10 anos. No fim de 2017, houve uma readequação do projeto, que foi licitado por meio do financiamento do Minha Casa Minha Vida. Os moradores passaram então a questionar o porquê de alguns pagarem o imóvel enquanto outros não. Os comerciantes vivem a incerteza de ter o ganha-pão garantido, já que essa modalidade de financiamento não contempla comércios.

A diretora de Habitação e Urbanização do Recife, Norah Neves, afirmou que existem 416 unidades ainda a serem entregues. Dessas, 256 com recursos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) – Orçamento Geral da União (OGU), cuja licitação foi concluída. As outras 160 unidades serão pelo Minha Casa Minha Vida. “Hoje, não existe outra fonte de financiamento de moradia de interesse social que não seja essa. Estamos buscando alternativa para sanar um déficit. Fizemos um ofício para a Caixa, solicitando a possibilidade de considerar esse ‘minha casa’ vinculado ao PAC, para que essas 160 famílias não paguem”, disse.

As obras da quadra 45, segundo ela, já começaram. A data de conclusão é 18 meses.


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