sábado, 27 de abril de 2019

LEONARDO BOFF: “LULA SERIA A ÚNICA PESSOA CAPAZ DE DAR COESÃO AO BRASIL”


Teólogo, professor e autor de mais de 120 livros, Leonardo Boff concedeu uma entrevista histórica ao programa Estação Sabiá, que estreou nesta semana com a TV 247 no Rio de Janeiro. Na conversa com os jornalistas Mauro Lopes e Regina Zappa, Boff defendeu de forma enfática o ex-presidente Lula e disse acreditar que o ex-presidente carrega consigo a esperança do Brasil.
Boff fez um resgate da vida de Lula e da amizade entre os dois. "Se há uma pessoa que ama nosso país, essa pessoa é o Lula. Nós somos amigos há 40 anos, não do tempo em que ele era político, do tempo em que ele era sindicalista, perseguido, há uma ligação de amizade profunda, ao lado da luta para enfrentar a Justiça e a ditadura, os riscos que tínhamos. Temos uma história em comum. Depois ele virou político, eu sempre respeitei, nunca me filiei ao PT porque acho que o intelectual ele não quer a parte, que é o partido, tem que pensar o todo, mas eu sempre vou assumir a causa que o PT defende, que é fazer políticas sociais para os desgarrados do mundo, os pobres e oprimidos. Lula pela primeira vez na história do Brasil, de forma sistemática, conseguiu incluir quase 40 milhões de pessoas, tirá-las da fome, dar a alegria de ter sua casinha, sua luz elétrica, ter o mínimo de dignidade, isso ele fez".
"Quantas vezes a gente conversando, saindo de noite, mesmo lá em Brasília porque sempre que ele nos via, eu e a [minha esposa] Marcia, tinha um carinho enorme, nos convidava para visitá-lo, a gente saia no escuro da noite e ele dizia: 'Boff, você não imagina, eu, aquele nordestino lascado, vi gente e parentes meus morrerem de fome em cima de um caminhão vindo para cá e agora estou aqui no Palácio. Quero estar aqui para salvar o povo, fazer que eles comam, tenham dignidade, mais do que o pão eu quero devolver dignidade ao povo, que ele se sinta gente e não algo explorado, marginalizado junto com as coisas, mas que sejam pessoas humanas, que tenham dignidade'. Isso é mais importante que o pão, dê o pão, dê outras facilidades, mas ele tinha essa grandeza de salvar aquilo de mais sagrado que tem o ser humano que é o seu nome, sua dignidade", relatou Leonardo Boff.
O teólogo afirmou que Lula é a única pessoa capaz de dar coesão ao país e contou o que o ex-presidente o disse sobre o atual ministro da Justiça e Segurança Pública em uma das visitas a Curitiba. "Tenho um grande respeito a ele. Eu acho, pessoalmente, que nesse vazio que temos de liderança no Brasil ele seria a única pessoa que seria capaz de dar coesão ao Brasil. Não esqueço da primeira visita, e que repetiu na segunda: 'Boff, eu não tenho raiva nem rancor do Sérgio Moro, é minha natureza, não consigo ter raiva e ódio, só tenho indignação porque acho que é uma injustiça, e isso é meu direito, mas eu respeito, não tenho raiva nem rancor'".
Para Boff, a natureza de Lula é a bondade. Além disso, ele disse que a saída do Brasil para a crise está nas mãos de Lula. "Essa é a natureza do Lula, essa bondade que irradia. Talvez a única pessoa que as pessoas gritam 'viva Lula', que está na boca de todo mundo, seja dos que o negam seja dos que o afirmam, é uma personalidade ligada às raízes do nosso país. Estou convencido que nós sairemos da crise no dia em que Lula estiver livre, não para ser um incendiário, que ele não é, para chamar o povo a se unir, lutar contra a pobreza, criar uma democracia participativa, dar consciência de que o Brasil é fundamental para o futuro do mundo porque aqui está a natureza preservada e o país que pode ser a mesa posta para as fomes e sedes do mundo inteiro".
Com o grande desprezo do Planalto pela cultura desde o governo Temer, Leonardo Boff comentou sobre a importância desta pauta. "Eu considero a cultura um dos nichos mais fundamentais criadores de uma nação. Uma nação e um povo não vive sem criar significado, sem criar arte, sem criar teatro, sem criar literatura, sem criar religião e sem criar o complexo daquilo que nós chamamos de cultura. Creio que nós estamos em uma deriva fantástica, em um assassinato de nossas raízes culturais".
Sobre o Papa Francisco, Boff afirmou que, além de líder religioso, o pontífice se revelou uma grande liderança política. "A humanidade está em um grande vazio de lideranças. Quase todos os presidentes e primeiros-ministros vieram da Escola da Administração, mas administrar o que? Não o povo, o capital. De repente emerge um religioso, que tem uma liderança não só religiosa mas uma liderança claramente política que é o papa Francisco, que tem a coragem, pela primeira vez na história do cristianismo, de chamar pelo nome esse sistema de morte, que traz morte à natureza, que massacra milhares de pessoas e as deixa morrerem de fome que é o capitalismo, o sistema antivida. Tem uma clara opção pelos pobres, pelos últimos e pela mãe terra, casa comum. É um homem que tem uma força fantástica no mundo".
Questionado sobre a maldade no mundo nos tempos atuais, Leonardo Boff disse não haver solução para isso. "São Tomás de Aquino, que escreveu um tratado inteiro sobre o mal, no fim não tem resposta nenhuma, apenas diz: 'Deus é tão poderoso que pode tirar do mal, uma coisa boa'. Então eu não tenho resposta para isso, apenas digo que se Deus se aproximou de nós ele também assumiu a nossa dor, ele caminhou junto, foi sacrificado em uma cruz, gritou desesperado 'Pai por que me abandonastes?'. Não resolveu o problema do mal mas andou junto com os sofredores com aquela esperança de que lá na frente todas as coisas se revelarão e tudo ganhará seu sentido. Tem uma solução para o mal? Não tem".
Outro tema explorado pelo teólogo foi a esperança, que, para ele, nunca pode deixar de existir. "Quero terminar com uma frase de Santo Agostinho: 'temos a fé, a esperança e a caridade. A gente pode perder a fé e vive, pode perder o amor e encontra outro, a gente não pode perder a esperança, porque a alternativa da esperança é o suicídio. A esperança tem duas formosas irmãs, que é a indignação e a coragem. Indignação com tudo que está errado e coragem para mudar o que está errado'. Hoje, temos que cultivar e embelezar essas duas irmãs".(247)


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