quinta-feira, 7 de março de 2019

VICE PRESIDENTE - Atuação do vice-presidente agrada aos partidos de oposição a Bolsonaro

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil


As declarações do vice-presidente, Hamilton Mourão, em contraposição aos posicionamentos de integrantes do Palácio do Planalto, incluindo o do chefe, Jair Bolsonaro, têm agradado a uma turma improvável: os partidos do centro e da esquerda. Se trechos de entrevistas do general incomodam determinados representantes do governo, que defendem unidade nas respostas à imprensa ou nas redes sociais, políticos da oposição veem em Mourão uma âncora para propostas controversas e, ao mesmo tempo, uma chance de mostrar a fragilidade de ações governistas.

Em contradição a algumas alegações de representantes do governo, o vice-presidente chegou a declarar, recentemente, que o aborto deve ser uma escolha pessoal da mulher e também defendeu a investigação e a punição dos comprometidos no caso que envolve o senador Flávio Bolsonaro (PSL). Também criticou o recuo do ministro da Justiça, Sérgio Moro, em relação ao convite à cientista política Ilona Szabó para a pasta. Além disso, o general comentou a decisão do ex-deputado Jean Wyllys de não assumir o terceiro mandato e se mudar do país ao afirmar que a ameaça a um parlamentar é um crime à democracia.

“Quem ameaça parlamentar está cometendo um crime contra a democracia. Nela, você tem sua opinião e a liberdade para expressá-la”, declarou, pelo Twitter, em janeiro. As falas de Mourão mencionadas em entrevistas e em outros momentos são exemplos que, se não agradam, ao menos chamam a atenção dos opositores.

“Não me iludo com Mourão, afinal, é um personagem que cultua personagens da ditadura militar, mas é preciso reconhecer que a presença dele no governo impede que Bolsonaro e integrantes da equipe ministerial possam cometer loucuras, como ações militarizadas na Venezuela”, disse o deputado federal Paulo Teixeira (PT-SP). O discurso de Juliano Medeiros, presidente nacional do PSol, é semelhante ao do deputado petista. “Historicamente, ele representou posições muito conservadoras e não há nenhuma razão que nos levem a considerá-lo como um potencial aliado. Não alimentamos nenhuma ilusão com o Mourão”, afirmou.

O deputado federal Marcelo Freixo (PSol-RJ) acredita que todo o governo fala muito e diz que é preciso cautela. “Diante das declarações do vice-presidente, nós, como oposição, não podemos perder o foco sobre o que interessa, que são as atitudes do governo que atingem a democracia”, reitera. Outros parlamentares da esquerda defendem estrategicamente que Mourão, em determinado momento, possa se tornar tão forte a ponto de substituir Bolsonaro. “É uma guerra de guerrilha, não deixa de ser um cenário futuro, provocaria um enfraquecimento da turma de Bolsonaro. Depois, o jogo recomeça em relação ao desgaste do atual vice”, disse um deputado que preferiu não se identificar.

Mais preparado 
O cientista político Aninho Irachande acredita que Mourão tem uma percepção mais plural e consegue entender a diversidade da sociedade brasileira. “Surpreendentemente, e contrário ao temor generalizado de que a presença maciça dos militares no governo poderia representar uma espécie de ameaça à democracia, o vice-presidente se mostra mais preparado para o debate democrático e é mais plural do que o próprio presidente”, afirma.

O professor do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília (UnB) cogita a possibilidade do discurso adotado pelo vice ser algo estrategicamente combinado para Bolsonaro poder continuar “jogando para a plateia que o elegeu”. “No entanto, pode ser algo oriundo realmente de um presidente de pouca capacidade de diálogo diante do vice que é uma pessoa instruída, preparada e que me parece mais equilibrada”, contrapõe Aninho.

O general da reserva do Exército de 65 anos deixou a ativa em fevereiro de 2018, filiou-se ao Partido Renovador Trabalhista Brasileiro (PRTB) em maio do mesmo ano e iniciou a carreira política. A figura de Mourão ficou mais conhecida pela mídia em 2015, quando foi afastado do comando Militar do Sul. Na época, o agora vice-presidente foi transferido para a Secretaria de Economia e Finanças do Exército, em Brasília, por causa de declarações na qual fez críticas ao governo e chegou a convocar o país para “o despertar de uma luta patriótica”.

O deputado federal Coronel Tadeu (PSL-SP), colega de Mourão, não vê as falas recentes do vice como uma forma de se aproximar da oposição. “Mourão fala algumas coisas, às vezes, meio sem pensar. Acho extremamente difícil ele estar se aproximando da esquerda. Foi mais um momento de provocar e arrancar algum clamor da imprensa”, acredita o parlamentar. Coronel Tadeu afirma que outros aliados têm mais condições e perfil para tentar certa aproximação. “A Joice Hasselmann, que é nossa líder do Congresso, tem muito mais propriedade para isso”, cogita.

Elogios minimizados 
Mourão minimiza os elogios da oposição. Para ele, cumpre apenas um papel institucional. “Eu recebo as pessoas para apresentarem as demandas e as encaminho ao presidente (Bolsonaro). Hoje (na sexta-feira passada), veio a turma do sindicato de São Bernardo, todos preocupados com a questão (do fechamento) da fábrica da Ford. Ouvi as demandas e depois fui falar com o presidente para saber como podemos ajudar. E, aí, o presidente disse que conversaria com o Paulo Guedes”, contou o vice-presidente.

A modéstia de Mourão não esconde o fato de que entidades ligadas à oposição procuram ele e não Bolsonaro para despachar assuntos de interesse. Na sexta-feira, o general se encontrou com o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Wagner Firmino de Santana, com o Secretário-Geral da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Adalto Oliveira, e outros sindicalistas. Em 7 de fevereiro, ele havia se reunido com Santana e também recebeu o presidente da CUT, Vagner Freitas.

A CUT e o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC têm uma ligação muito próxima com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o PT. Afinal, o petista foi um dos fundadores da central. Desde a primeira campanha de Lula como candidato, nas eleições de 1989, os metalúrgicos sempre deram eco à voz do petista. Ao receber os sindicalistas, Mourão se mostra aberto ao diálogo com opositores. Na reunião com Freitas, o vice-presidente ouviu críticas duras sobre o sistema de capitalização e sobre a reforma da Previdência, mas, novamente, se dispôs a conversar com a categoria.

Tendo como exemplo as conversas que o general teve com entidades ligadas à oposição, o cientista político Aninho acredita que Bolsonaro pode tirar vantagem das declarações que têm agradado opositores. “Se o presidente reconhecer as suas limitações e se articular com o vice, ele pode abrir espaço para o diálogo e, inclusive, avançar nas propostas mais duras. O governo pode usar essa postura do Mourão para conseguir uma aproximação ideológica, ou pelo menos pragmática”, considera.

O diálogo aberto com a oposição não agrada a aliados mais próximos de Bolsonaro. Deputados e senadores levaram ao presidente o desconforto com a liberdade com a qual Mourão encaminha a agenda ao receber pessoas próximas ao PT. Interlocutores do Palácio do Planalto admitem um incômodo na abertura dada pelo vice aos adversários políticos, mas minimizam os impactos disso na articulação política. “Não muda em nada. PT, PCdoB, PSol e PDT continuam sem voz no governo. Não tem conversa com eles”, afirmou uma fonte.




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