quarta-feira, 10 de outubro de 2018

Le Monde: Bolsonaro ameaça a democracia no Brasil

 

  O jornal francês Le Monde publica nesta terça-feira, 9, editorial em que alerta para os riscos da democracia brasileira, caso o candidato da extrema direita, Jair Bolsonaro (PSL), seja eleito nas eleições presidenciais. 
"Liderando de longe o 1º turno, domingo 7 de outubro, com 46% dos votos, este candidato, Jair Bolsonaro, 63 anos, não disfarça suas preferências políticas radicais, nem sua visão extremamente primária da sociedade", diz o jornal francês. 
"Não se pode colocar o PT e Jair Bolsonaro em um pé de igualdade. Lula e seus herdeiros nunca colocaram em risco o processo democrático no Brasil", diz o Le Monde, comparando Bolsonaro ao presidente filipino Rodrigo Duterte. "Onda reacionária que varre a maior democracia da América Latina".
Leia, abaixo, o editorial do Le Monde na íntegra, com tradução de Sylvie Giraud:
BRASIL, UMA DEMOCRACIA AMEAÇADA
Le Monde 09/10/2018
O que se oferece aos brasileiros em 28 de outubro, no segundo turno da eleição presidencial, não é verdadeiramente uma alternativa democrática clássica. Trata-se de uma escolha política e social fundamental entre a continuidade da democracia – que o maior país da América Latina pratica há 3 décadas – e o mergulho em um regime populista dirigido por um candidato de extrema direita.
Liderando de longe o 1º turno, domingo 7 de outubro, com 46% dos votos, este candidato, Jair Bolsonaro, 63 anos, não disfarça suas preferências políticas radicais, nem sua visão extremamente primária da sociedade. Este ex capitão de infantaria, subitamente lançado sob os holofotes após o anonimato de uma longa carreira insignificante de deputado do baixo clero, imprimiu suas marcas na campanha com suas alegações racistas, misóginas e homofóbicas. Ele fez ressurgir as más lembranças de um período sombrio para o país, o da ditadura militar (1964-1985) e parece divertir-se com isso. Suas prescrições para a luta contra a criminalidade – "bandido bom é bandido morto", diz ele – se parecem mais com as práticas do presidente filipino Duterte do que com aquelas de um Estado de Direito. Seu provável futuro vice-presidente, o general Hamilton Mourão, não pensou duas vezes em evocar a opção de um "autogolpe" em caso de anarquia e sugeriu a elaboração de uma Constituição sem o aval do Congresso.
A ascensão de Jair Bolsonaro não deve surpreender. O antigo oficial do exército soube captar a raiva de eleitores arruinados com a recessão histórica de 2015-2016. Ele compreendeu o rancor de uma população enfurecida com a corrupção e criminalidade. Ele soube também aproveitar-se do desejo de mudança de uma parte do país que não via a hora de virar a página de 12 anos e meio de governo do Partido dos Trabalhadores (de 2003 à metade de 2016) juntamente com seus erros. Esta campanha eleitoral caótica, na qual um primeiro candidato - o ex-presidente Lula da Silva, preso por corrupção - foi finalmente proibido de concorrer, e outro, Bolsonaro, foi esfaqueado em pleno comício, vem coroar o crepúsculo do "Lulismo", cultuado até então. Com somente 29% dos votos no 1º turno, são pequenas as chances de Fernando Haddad, herdeiro de Lula e candidato do PT, vencer esta eleição. Os numerosos erros políticos, econômicos e éticos do PT e seu envolvimento em negócios de corrupção colossais, explicam amplamente a rejeição do eleitorado brasileiro.
Contudo, não se pode colocar o PT e Jair Bolsonaro em um pé de igualdade. Lula e seus herdeiros nunca colocaram em risco o processo democrático no Brasil. Ainda que contestassem o processo ao cabo do qual a Presidente Dilma Roussef foi destituída, eles deixaram o poder em 2016. A perspectiva de uma presidência de Bolsonaro é, pelo contrário, carregada de ameaças para a jovem democracia brasileira.
A onda reacionária que varre a maior democracia da América Latina, puxada por um ex-militar com discurso incendiário e que cultiva uma lembrança idealizada da ditadura, não deixa de ser uma das faces, malgrado suas particularidades locais, do sucesso de candidatos "anti-sistema" na Europa e nos Estados Unidos. Todavia, esse atalho não deve ocultar o que está em jogo, na essência, desta eleição brasileira: trata-se aqui, puramente e simplesmente, da sobrevida de um regime democrático em um continente onde sua fragilidade é histórica.247




Blog do BILL NOTICIAS

Ausente no ato bolsonarista, Musk comenta nas redes e volta a atacar Moraes

O bilionário disse que não existia uma manifestação pró Alexandre de Moraes “porque ele é contra a vontade do povo" Elon Musk e Alexand...