sábado, 17 de fevereiro de 2018


Antes do anúncio, foi discutido o planejamento da intervenção militar
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Michel Temer assinou o decreto de intervenção militar no Rio
Foto: Beto Barata/PR

Se tentarmos interpretar a intervenção federal no Rio de Janeiro exclusivamente a partir da leitura sobre a violência relacionada ao crime organizado, estaremos cometendo um grave erro. As causas e desdobramentos da medida são incalculáveis. A começar pela constatação de que, ao clamar pelas Forças Armadas, o presidente Michel Temer (MDB) acaba de confessar que o Poder Civil, hoje, não tem capacidade de garantir a lei e a ordem. A iniciativa, da mesma forma, aponta para o agravamento da situação do Chefe de Estado brasileiro que, cercado de investigações e incapacitado de aprovar a Reforma da Previdência, oferece sua última cartada para tentar salvar a sua biografia.

Vamos começar pela condição do presidente. Alçado ao comando do país a partir de um processo de impeachment planejado e traumático, Temer não implantou um ministério de notáveis. Nomeou ministros do calibre de Carlos Marun (o da dancinha) e Cristiane Brasil, que ainda não assumiu por problemas na Justiça. Também não conseguiu aprovar a Reforma da Previdência, foi bombardeado por denúncias de corrupção e só não caiu porque distribuiu bilhões em verbas para se livrar das denúncias na Câmara.

Nesta semana, inclusive, se viu mais uma vez no alvo da mídia, após o diretor-geral da Polícia Federal, Fernando Segóvia, dar entrevista colocando que a investigação contra o emedebista sobre o Decreto dos Portos deve ser arquivada. O episódio adicionou mais suspeitas sobre a interferência do governo na atuação da PF e alimentou as especulações em torno da articulação para “estancar a sangria”.

Associada a esta agenda negativa de última hora, a falta de apoios para a aprovação da Reforma da Previdência é, até hoje, inconcebível para o presidente. Logo ele que tanto agradou o Congresso. Que tanto se esforçou para garantir o presidencialismo de coalizão. Como Temer irá se justificar para a “mão invisível do mercado”, que patrocinou sua ascensão, caso não consiga aprovar a matéria até o fim de fevereiro?

Então eis que, em rede nacional, Michel Temer se coloca como estadista. Diz, em seu breve discurso, que o cidadão de bem não pode ser violentado desta maneira, pela atuação do crime organizado. Fala que o crime no Rio é uma “metástase que se espalha pelo país e ameaça o nosso povo”. Apela para o medo e diz que vai lutar pelo reestabelecimento da ordem.

Agora vamos à situação do Rio. O Estado, falido, também vivencia uma escalada de escândalos, relacionados à política. O ex-governador Sérgio Cabral, que está preso, ocupa, quase diariamente, as capas dos jornais. O ex-presidente da Assembleia, Jorge Picciani, também foi preso, acusado de integrar um vasto esquema de corrupção. Todos os políticos citados acima são do PMDB, ou MDB, como queiram.

Nesta hora, me lembro de uma frase que me impactou bastante recentemente: “A maior organização criminosa que atua no Rio de Janeiro se chama PMDB”, pontuou o deputado estadual Marcelo Freixo (PSol-RJ), durante uma entrevista a este Blog da Folha. Agora vem a pergunta: Será mesmo que a decisão pela intervenção das Forças Armadas no estado carioca tem, na sua concepção, o foco exclusivo no combate ao tráfico? E quando falamos em crime organizado, estamos no referindo a qual deles?

Por isso, faço a seguinte pontuação. Antes mesmo de ser uma medida voltada para a garantia da segurança pública, esta intervenção federal é uma confissão. Temer admite, com ela, que não conseguiu satisfazer aos desejos de quem o colocou no poder. Confessa que o Poder Civil não é mais capaz de garantir a ordem e o progresso. E isso é bem perigoso.

Ao decidir pela intervenção, inédita desde o fim do regime militar em 1985, Temer abre espaço para a discussão em torno do propósito e da estabilidade das instituições democráticas brasileiras. E ressuscita sérios traumas relacionados aos tempos de chumbo no País. Traumas que existem porque o Brasil nunca discutiu seriamente as consequências do regime militar. Não fez uma Justiça de Transição. Não tratou da desmilitarização da Polícia. Não debateu sobre a legalização das drogas. Trinta e três anos da redemocratização. E a classe política insiste em achar que os problemas do País são facilmente resolvidos agradando a base aliada.(Folhape).


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