sexta-feira, 25 de agosto de 2017

Em 2018, nada será como antes

Ricardo Stuckert

As vaias a Renan Calheiros durante a passagem da caravana de Luiz Inácio Lula da Silva por Alagoas confirmam uma verdade fácil de reconhecer. Mostram que, embora Lula seja o líder nas pesquisas presidenciais para 2018, é um caso de ingenuidade primária mirar as vitórias do passado para pensar estratégias para o futuro. Responsável pelo título de doutor honoris causa da Universidade Estadual de Alagoas, o reitor Jairo Campos cobrou de Lula: "é preciso que nos dê respostas a altura do que cobramos e esperamos. Que diga não as alianças espúrias, que construa uma plataforma social e verdadeiramente popular."
A tolerância que o eleitorado exibiu em relação à presença de más companhias no palanque de quatro campanhas presidenciais vitoriosas entre 2002 e 2014 -- sem falar no abraço de Paulo Maluf a Fernando Haddad em 2012 -- dificilmente irá se repetir em 2018. Não há dúvida de que os governos Lula-Dilma marcam um período histórico, único pelo esforço para enfrentar as desigualdades, abrir oportunidades para os mais pobres e buscar um novo patamar de desenvolvimento para o país. Esse balanço explica o reconhecimento de Lula nas pesquisas, após uma perseguição dura e prolongada, apenas um ano depois do golpe parlamentar que afastou Dilma. 
Seria enganoso imaginar, contudo, que estamos em 2002, quando o apoio a Lula não só era imenso, mas incondicional. Há uma década e meia, Lula e o núcleo dirigente da campanha do PT aprovaram, num restaurante de Ribeirão Preto, uma Carta ao Povo Brasileiro que contrariava, ponto a ponto, as principais linhas de política econômica que o partido construiu desde a fundação. Ainda que a novidade tenha produzido um choque em fatias importantes da militância -- sempre um diferencial essencial do PT -- o estrago foi nulo. O efeito político da Carta foi contribuir para silenciar uma campanha de terror orquestrada pelos adversários para tentar impedir de qualquer maneira a vitória de um candidato com um perfil de esquerda como nunca se vira antes no país. Na época, o PT engoliu a mudança, que em temos normais só passaria através de um debate em Congresso. O eleitorado nem prestou atenção e garantiu a Lula uma vitória espetacular, seguida de outras três vitórias consecutivas.
Em 2017, a realidade é outra. A última vitória, em 2014, foi conseguida no braço, na mobilização final e no combate palmo a palmo numa dramática reta final do segundo turno. A resposta, após a vitória, foi inesquecível: um pacote de concessões que pretendiam acalmar os adversários da véspera mas só afastaram os aliados de sempre. Se há alguma lição a tirar da canalhice de um impeachment sem crime de responsabilidade, apenas um ano e meio depois, é que foi uma derrota que politizou uma parcela imensa dos brasileiros, em particular aqueles que sustentaram Lula e o PT a partir de 2002. Eles foram forçados a fazer um aprendizado na tragédia, que se revelou uma das maiores de nossa história republicana. Aprenderam a ficar de olhos abertos depois de serem vencidos por um golpe de Estado  perpetrado por falsos aliados que até o último dia tinham direito a circular pelo Planalto como amigos com direito a confiança absoluta. Hoje, após a derrota primeira, eleitores e eleitoras encaram novos revezes sem conta: o desmanche da Petrobras, a reforma trabalhista, a ameaça à Previdência e, agora, o ataque à Eletrobrás, a venda dos aeroportos. Ilusão pensar que não se sintam traídos. Mais enganoso ainda é imaginar que, com o tempo, não foram capazes de perceber que, muitas vezes, o inimigo estava dentro de casa.
Se Temer foi a grande raposa no galinheiro, Renan não ficou atrás. Organizou a farsa que permitiu a derrocada final de Dilma no Senado. Em 2002, 2006, 2010 e 2014, o adversário de Lula tinha rosto e nome. Estava identificado com o atraso político e a desigualdade social de 500 anos. Em 2018, quando a memória  protege Lula, o adversário real é uma força difusa e destrutiva -- a desconfiança, a perda de credibilidade, este nevoeiro que está em toda parte, ninguém controla, confunde a visão geral e abre caminho ao imprevisível. Ao contrário do que sempre aconteceu nas campanhas anteriores, nada garante, em 2018, que o apoio da base da sociedade a Lula está garantido previamente. Não há dúvida que será preciso construir uma aliança capaz de governar o país, revogar o pacote regressivo instituído após o golpe e encontrar um caminho, sempre difícil mas necessário, para uma retoma no desenvolvimento.  O apoio do povo mostra que Lula tem lastro para tanto.
Mas esta força inicial deve ser bem cultivada e alimentada, pois se trata de um eleitor leal mas desconfiado, até arisco. Mais do que nunca a clareza do candidato e sua identidade política têm uma imensa importância. Os ataques irão crescer e se multiplicar. A lealdade dos militantes tornou-se mais importante do que nunca, um fator verdadeiramente essencial. A primeira batalha, mãe de todas as guerras, será garantir o direito à candidatura. 
Irá errar quem, traindo uma postura típica de outros tempos, imaginar que a parada está resolvida junto às bases e basta correr para o acordo junto às cúpulas. As pesquisas mostram que Lula é o primeiro nas pesquisas, mais uma vez. Mas a experiência mostra que nada será como antes. (247).

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