sábado, 15 de julho de 2017

Ricardo Stuckert

É pouco provável que alguém tenha se surpreendido com a condenação do juiz Sergio Moro contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva a nove anos e meio de prisão na Lava Jato. Era esse o capítulo final de uma tragédia que arrasta o Brasil para o precipício há mais de três anos e que, como toda novela, necessita de um último capítulo em que os "mocinhos" derrotam os "bandidos". Curiosamente, a sentença saiu no mesmo dia em que foi divulgado o trailer do misterioso filme "A Lei é para Todos", cujos patrocinadores são mantidos em sigilo. Vinte e quatro horas depois, num pronunciamento na sede do PT, Lula disse que seus algozes estavam condenados a condená-lo – uma vez que prisioneiros da narrativa que criaram ou na qual se deixaram envolver – e reivindicou uma nova candidatura à presidência da República.
Esse é o quadro atual e indica que a crise brasileira ainda poderá se arrastar por mais tempo justamente porque tem como ponto central as emoções contraditórias em torno do mesmo personagem – a devoção e a gratidão que muitos brasileiros sentem por Lula e a mistura de ódio e preconceito que outros tantos já sentiam por ele ou foram adestrados a sentir. Essa divisão não foi quebrada pela Lava Jato. Mesmo com toda a força dos meios de comunicação, o "caso Lula" não conseguiu criar um mínimo consenso na sociedade contra o ex-presidente. Ao contrário. Em todas as pesquisas, Lula se isola na dianteira e, em alguns levantamentos, tem chance até de vitória em primeiro turno. A grosso modo, o Brasil estaria dividido entre um terço que quer vê-lo presidente, uma fração que tem orgasmos em imaginá-lo na cadeia e a grande maioria que flutua.
O problema, para a direita brasileira, é que a sentença chegou num momento especialmente negativo do ponto de vista simbólico. Lula, o mais popular presidente da história do Brasil, foi condenado à prisão, em regime fechado, na mesma semana em que Michel Temer, o mais impopular, conseguiu reverter um relatório adverso na Câmara dos Deputados, em que é denunciado por corrupção passiva. Se isso não bastasse, o senador Aécio Neves (PSDB-MG), recordista de inquéritos na Lava Jato, foi salvo pelo conselho de ética da casa. No PMDB, tanto o ex-ministro Geddel Vieira Lima como o "homem da mala" Rodrigo Rocha Loures, ambos da copa e cozinha de Temer, ganharam o direito de ir para casa, mesmo acusados de receber gigantescas propinas.
Ou seja: a cada dia que passa, a sociedade brasileira enxerga com maior clareza a seletividade do Poder Judiciário. E se a justiça tem lado ela se torna imediatamente injusta aos olhos da população – o que contribui para a narrativa de que Lula é, mais uma vez, vítima de perseguição política. Isso significa que as próximas pesquisas eleitorais devem indicar um impacto nulo ou até positivo para o ex-presidente. Não apenas pela revolta diante da disparidade de critérios contra Lula e seus adversários, mas também porque o regime atual tem-se mostrado incapaz de debelar a crise econômica. E, gostem ou não, a única lembrança de tempos felizes na economia, para a grande maioria da população, é o governo Lula.
Esse quadro cria um dilema ainda maior para o País. De um lado, uma parcela da direita irá pressionar os três desembargadores do TRF-4 para que condenem rapidamente Lula e o inabilitem politicamente. Mas o Brasil será mais uma vez humilhado se os votos se três juízes se sobrepuserem aos anseios dos eleitores, depois que deputados e senadores decidiram rasgar os 54 milhões de votos da presidente Dilma Rousseff, num impeachment sem crime de responsabilidade. A única saída capaz de devolver a esperança ao Brasil – e também de tirar essa batata quente do Judiciário – é antecipar as eleições presidenciais, como vem propondo, inclusive, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. E se Lula tiver que ser batido, que o seja nas urnas. (247).

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