quarta-feira, 1 de março de 2017

Mulher é lançada na fogueira por fanáticos religiosos na Nicarágua

INTERNACIONAL


Vilma Trujillo, 25 anos, morreu na madrugada de ontem, seis dias após "ritual" de exorcismo liderado por pastor
Vilma Trujillo García, 25 anos, morreu, na madrugada, de falência múltipla de órgãos, com queimaduras em 80% do corpo. Foto: H. Jarquin/LaPrensa/Cortesia
Vilma Trujillo García, 25 anos, morreu, na madrugada, de falência múltipla de órgãos, com queimaduras em 80% do corpo. Foto: H. Jarquin/LaPrensa/Cortesia

Um crime envolvendo requintes de crueldade e fanatismo religioso comoveu e chocou a Nicarágua. Vilma Trujillo García, 25 anos, morreu, na madrugada de ontem, de falência múltipla de órgãos, com queimaduras em 80% do corpo. Uma diaconisa da Assembleia de Deus, na comunidade de El Cortezal — próximo ao município de La Rosita (centro-norte) —, afirmou que recebeu um pedido de Deus para que a mulher fosse “purificada” com fogo, por supostamente estar “endemoniada”. Em 22 de fevereiro passado, o pastor Juan Gregorio Rocha Romero, líder da igreja protestante, celebrou uma espécie de “ritual” macabro. Vilma foi lançada à fogueira e abandonada no barranco de um rio até ser socorrida, nove horas depois.

Cinco membros da Assembleia de Deus foram presos e transferidos da cidade de Siuna para a capital, Manágua, onde serão processados por homicídio. Um dos suspeitos, Franklyn Jarquín, disse à polícia que a intenção era “expulsar um espírito demoníaco”. “Ela cometeu um erro e, perante  Deus, falhou, porque tinha seu companheiro de vida, cometeu um erro com outro homem e se passava por cristã. Deus a castigou e a endemoniou. Foi um espírito que se impôs nela e caiu no fogo”, comentou Jarquín, citado pelo site 100% Noticias.

Em entrevista ao Correio, Miuriel Gutiérrez, ativista de direitos humanos em La Rosita e integrante do grupo AHV Colectivo Gaviota, afirmou que Vilma e o marido, Reynaldo Peralta Rodríguez, planejavam se mudar para outra comunidade. “Reynaldo viajou até lá e ficaria fora por 15 dias, para construir a casa onde morariam com os filhos, um menino de 5 anos e uma menina de 1. Vilma adoeceu, tinha crises de choro e desmaiava”, contou. A família buscou a ajuda de Juan Gregorio. “Esse pastor começou a orar por ela. A mulher melhorou, levantou-se e aparentava tranquilidade. Mas o pastor disse que teriam de rezar mais e a levou até a igreja, onde ficou por oito dias trancada”, acrescentou.

Detalhes

Fiéis da Assembleia de Deus relataram à irmã de Vilma que o pastor instruiu-lhes a realizar o ritual de exorcismo. A adolescente foi a primeira familiar a chegar ao local do assassinato. “Juan Gregorio disse que se o demônio não saísse do corpo antes do nascer do sol, Vilma teria de ser queimada. Eles oraram por ela das 4h até pouco antes das 6h, quando foi despida, amarrada e jogada à fogueira. A irmã nos contou que Vilma saiu sozinha do fogo e rolou no chão, sem que ninguém a ajudasse”, comentou Miuriel. A ativista revelou que a mulher foi abandonada no barranco, sob o argumento de que morreria e “ressuscitaria”, curada.

A vice-presidente da Nicarágua, Rosaria Murillo, prometeu justiça. “É realmente lamentável e condenável, um crime que reflete uma situação de atraso; estamos pendentes da apresentação que farão às autoridades pertinentes nossos irmãos da Polícia Nacional daquelas pessoas que participaram dessa tragédia, que culminou com a morte de Vilma Trujllo”, declarou, segundo 100% Noticias. “Isso é algo que não pode e não deve se repetir”, destacou Murillo.

Juanita Jiménez, dirigente do Movimento Autónomo de Mujeres (MAM), disse ao jornal La Prensa, de Manágua, que a morte de Vilma é resultado do fanatismo e da misoginia, mas também foi agravada pelo desamparo do Estado a algumas regiões extremamente carentes da Nicarágua. “Independentemente da religiosidade, nada justifica um ato de crueldade como queimar uma mulher e colocá-la na fogueira, e com a participação de outras pessoas na manipulação religiosa. Houve uma tentativa de feminicídio, pois toda a intencionalidade é de provocar dano.”

O bispo auxiliar da Arquidiocese de Nicarágua, Silvio José Baéz, comentou o crime por meio de seu perfil no Twitter. “Sinto muito pela morte de Vilma Trujillo, motivada pelo fanatismo e pela ignorância religiosa. Não se pode destruir uma vida em nome de Deus!”, alertou. “A religião autêntica, na qual se adora o Deus verdadeiro, não anula a razão nem atenta contra a vida humana.” O corpo de Vilma Trujillo foi transferido para La Rosita ontem, onde será sepultado.

“Nós relacionamos esse crime à inquisição e repudiamos o fato. Todos nós queremos que a Justiça castigue essas pessoas. A população de La Rosita exige justiça. Estamos atendendo à família de Vilma, para que possa fazer as diligências necessárias ante a polícia. Os parentes de Vilma estão sendo ameaçados de morte por outros fanáticos mal denominados de ‘irmãos’.” Disse, Miuriel Gutiérrez, ativista de direitos humanos em La Rosita. (DE).


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